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O tarifaço de Donald Trump será bom para os EUA? A História mostra que não

A política de Trump traz à memória a Lei Hawley-Smoot, um tarifaço baixado em junho de 1930 nos EUA

Trump deixou a Casa Branca, em 2020, com a tarifa média sobre todos os importados em 2,8%, o dobro de 2017 (ROBERTO SCHMIDT/AFP)

Trump deixou a Casa Branca, em 2020, com a tarifa média sobre todos os importados em 2,8%, o dobro de 2017 (ROBERTO SCHMIDT/AFP)

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Publicado em 31 de janeiro de 2025 às 16h50.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que vai elevar em 25% as tarifas sobre produtos importados do Canadá e do México a partir deste sábado, dia 1º de fevereiro. Não está claro ainda se é mais uma ameaça do republicano - em troca de concessões desses países em outras frentes, como migratória e de controle de fronteiras - ou se, de fato, as tarifas passarão a vigorar.

Mas o tarifaço de Trump pode ser bom para a economia americana?

Cálculos do Peterson Institute for International Economics indicam que uma tarifa de 25% contra o México e o Canadá reduziria em cerca de US$ 200 bilhões o PIB dos EUA até o fim do governo Trump. Uma tarifa adicional de 10% sobre os produtos da China - que foi uma promessa de campanha do republicano - diminuiria o PIB americano em US$ 55 bilhões nos próximos quatro anos.

Se Trump cumprir integralmente o tarifaço em várias frentes que propagou na corrida eleitoral (tarifa geral de 20% sobre as importações dos americanos de todos os países e de 60% sobre bens da China) será o maior nível de protecionismo comercial dos EUA desde a Grande Depressão.

A medida, que teve origem no Senado americano, foi adotada no governo do também republicano Herbert Hoover, numa tentativa de enfrentar a crise instalada pela quebra da Bolsa de Nova York em 1929, mas acabou entrando para a História como uma das culpadas por aprofundar e prolongar a recessão consagrada como Grande Depressão.

Guerra comercial

O próprio Escritório Histórico do Senado dos EUA define em seu site a Smoot-Hawley como um dos “atos mais catastróficos da história do Congresso”.

Isso porque o tarifaço provocou a reação de outros países, que retaliaram os EUA com elevação de tarifas, levando a uma guerra comercial. Houve um colapso do comércio global, conta o economista Douglas A. Irwin, professor do Dartmouth College, no livro "Conflitos sobre o Comércio: Uma História da Política Comercial dos EUA", de 2017.

"Esse resultado desastroso, e em grande parte inesperado, fez com que políticos e o público associassem altas tarifas à Grande Depressão", escreve Irwin, presidente da Associação de História Econômica americana.

O tarifaço acabou representando uma ruptura, sustenta a obra. A crise deu a vitória eleitoral à oposição no pleito presidencial de 1932, e o Partido Democrata voltou ao poder com Franklin D. Roosevelt — que liderou o país na Segunda Guerra Mundial e, antes disso, criou o programa batizado de New Deal, que tirou os EUA da Grande Depressão.

Na política de comércio exterior, Roosevelt deu um cavalo de pau. Firmou acordos comerciais com diversos países, usando a redução de tarifas como barganha para exportar mais produtos americanos.

As eleições legislativas de 1930 e 1932 mudaram os ventos também no Congresso, que, em 1934, aprovou a Lei de Acordos Comerciais Recíprocos, dando ao presidente o poder de firmar tratados sem depender de aprovação parlamentar.

Consenso pelo livre comércio

Essa ruptura deu início a um consenso bipartidário em torno do livre comércio nos EUA, que durou décadas e fez as tarifas de importação tombarem.

Nas contas de um estudo publicado no fim do ano passado pela Tax Foundation, uma entidade de pesquisa sem fins lucrativos dedicada a temas tributários, a taxa média sobre todos os bens importados nos EUA saiu de 19,8%, durante a Grande Depressão, para 1,4%, em 2017, início do primeiro governo Trump.

A data de comparação não foi escolhida por acaso. Antes de abraçar de vez a elevação de tarifas como proposta na campanha deste ano, Trump fez um ensaio em seu primeiro mandato, em 2017, com foco na China, e em bens como aço, alumínio, máquinas de lavar roupa e painéis solares. Foi o início da atual "guerra comercial" entre as duas maiores economias do mundo.

Nos cálculos do estudo da Tax Foundation, Trump deixou a Casa Branca, em 2020, com a tarifa média sobre todos os importados em 2,8%, o dobro de 2017.

No Trump 1.0, protecionismo limou 300 mil empregos nos EUA

Trump e seus assessores sustentam que o fato de que a inflação não subiu até 2020 é uma prova do sucesso da elevação de tarifas, mas estimativas de 2019, da agência de classificação de risco Moody's e da agência de notícias Bloomberg, apontaram que as medidas comerciais do primeiro governo Trump custaram US$ 316 bilhões em termos de PIB e fecharam 300 mil empregos.

Efeitos muito maiores com economia globalizada

Se as propostas aventadas durante a corrida eleitoral forem colocadas em prática, a tarifa média de importação dos EUA poderá saltar para 17,7%, sete vezes mais do que o nível atual, ainda segundo a Tax Foundation.

Erica York, economista da entidade e autora do estudo, disse ao GLOBO, em comentário por escrito, que um tarifaço seria prejudicial para a economia americana:

— As tarifas propostas por Trump reduziriam a atividade econômica dos EUA e diminuiriam a renda dos americanos.

E o risco de que a retaliação por parte de outros países dê início a uma guerra comercial generalizada, como na Grande Depressão, não poderia ser descartado, completou a especialista:

— A economia global está muito mais interconectada do que estava há um século, por isso os efeitos de uma guerra comercial global seriam ainda mais onerosos para a economia mundial de hoje.

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