Putin e a ex-esposa Lyudmila Putina, ao lado da rainha Elizabeth II e do duque de Edimburgo: a ex-mulher é mãe das duas filhas conhecidas do presidente russo (Anwar Hussein/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 7 de abril de 2022 às 16h05.
Última atualização em 7 de abril de 2022 às 17h18.
A vida privada do presidente russo, Vladimir Putin, costuma ser guardada a sete chaves. Embora o mandatário seja frequentemente fotografado em momentos pessoais, com atividades ao ar livre e praticando esportes, o presidente pouco fala sobre outros aspectos de sua vida fora da política - como seu passado antes de ingressar no governo e sua família atual.
O tema se tornou central nesta semana, depois que o governo dos Estados Unidos anunciaram, em meio a um novo pacote de sanções, medidas voltadas às duas filhas adultas de Putin.
O Departamento do Tesouro americano sancionou nominalmente Maria Vladimirovna Vorontsova e Katerina Vladimirovna Tikhonova, e as identificou como filhas de Putin. O caso é um marco porque, até então, embora se soubesse que Putin tinha filhas, seus nomes mal haviam sido confirmados.
Ambas vivem na Rússia e foram à universidade com nomes falsos e outros sobrenomes. O Kremlin se esforçou ao longo dos anos para que elas não fossem identificadas como filhas de Putin, nem mesmo entre os russos, mas as identidades de ambas começaram a aparecer.
"Acreditamos que muitos dos bens de Putin estão escondidos com membros da família e é por isso que estamos mirando eles", disse um alto funcionário do governo Biden em uma ligação com repórteres na quarta-feira, 6.
Há suspeita ainda de que Putin possa ter uma terceira filha, possivelmente menor de idade e não identificada.
As duas filhas sancionadas de Putin são fruto de seu casamento com Lyudmila Putina, uma ex-comissária de bordo com quem Putin se casou em 1983, quando ainda era agente da KGB, serviço secreto soviético. O casamento durou 30 anos e só terminou em 2013.
A filha mais velha, Maria Vorontsova, tem 36 anos e nasceu em Leningrado (hoje são Petersburgo) em 1985, tendo construído uma carreira na área de saúde.
Ela estudou biologia na Universidade de São Petersburgo e medicina na Universidade Estadual de Moscou. Segundo as poucas informações disponíveis, a filha de Putin se especializou em endocrinologia e hoje trabalha em um instituto de pesquisa sobre o tema em Moscou.
O braço russo da rede britânica BBC identificou ainda que Maria está na linha de frente de uma iniciativa para construir um grande centro de saúde em Moscou. Ela teria sido casada com um holandês, Jorrit Joost Faassen, que trabalhou na estatal russa de petróleo Gazprom, mas acredita-se que o casal já tenha se separado.
Já a filha mais nova, Katerina Tikhonova, tem 35 anos e esteve mais sob os holofotes do que a irmã ao longo dos anos, embora sem ser diretamente identificada como filha de Putin dentro da Rússia.
Ela nasceu na Alemanha Oriental em 1986, quando Putin estava no país a serviço da KGB, mas a família voltaria para a Rússia anos depois. Como a irmã, Katerina estudou em uma escola de língua alemã na Rússia antes da faculdade, mas as crianças deixariam a escola quando Putin chegou à presidência pela primeira vez, nos anos 2000, sendo educadas em casa.
Ainda adolescente, ela também chegou a dançar profissionalmente e participar de um concurso de dança no exterior.
Katerina estudou na Universidade Estadual de São Petersburgo e na Universidade Estadual de Moscou, se especializando em estudos asiáticos e no Japão. Ela obteve ainda, em 2019, um mestrado em física e matemática.
A herdeira mais nova de Putin teve uma vida mais movimentada dentro da Rússia, tendo sido casada com o bilionário russo Kirill Shamalov, filho de Nikolai Shamalov, um dos principais acionistas do banco Rossiya Bank e membro do círculo próximo de Putin. O ex-genro de Putin é hoje acionista de uma empresa de gás. Ele já foi sancionado pelos EUA em 2018 e estima-se que o casal chegou a ter US$ 2 bilhões.
Em 2015, a Bloomberg noticiou que um centro incubador de startups e com pesquisas científicas estaria sendo construído perto da Universidade Estadual de Moscou e gerido por Katerina.
Segundo o governo americano ao anunciar as sanções, ela é hoje "executiva no setor de tecnologia" e "cujo trabalho apoia [o governo russo] e a indústria de Defesa". O comunicado não traz mais detalhes sobre sua atuação exata no momento.
Especula-se ainda que Putin tenha uma terceira filha, que teria sido fruto de um outro relacionamento após a separação de Lyudmila. Mas não há confirmação sobre esse fato até o momento.
Putin historicamente fez raras declarações sobre as filhas, e se limitou a dizer que elas têm o "direito" de uma vida normal.
"Minhas filhas vivem na Rússia e estudaram somente na Rússia, estou orgulhoso delas", disse Putin em uma rara declaração sobre as filhas, citada pela BBC. Putin disse ainda que as filhas falam "três idiomas fluentemente". "Eu nunca discuto a minha família com ninguém", disse na ocasião.
"Minhas filhas trabalham em ciência e educação. Elas não estão envolvidas em nenhum lugar da política ou algo assim. Elas vivem vidas normais", disse em 2017, em vídeo citado pela rede americana CNN.
Ao documentarista Oliver Stone, Putin também admitiu que tem netos, sem citar quantos e suas idades. Questionado se "brinca com eles", Putin disse que "raramente".
O Kremlin se pronunciou nesta semana sobre as novas sanções anunciadas pelos EUA. "Claro que consideramos estas sanções em si mesmas como a extensão de uma posição absolutamente raivosa sobre a imposição de restrições", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
"Em qualquer caso, a linha em curso sobre a imposição de restrições contra os membros da família fala por si mesma", disse, afirmando que o Kremlin não conseguia compreender por que as filhas de Putin eram alvo.