Venezuelanos no Brasil: mais de 37 mil venezuelanos já pediram refúgio em 2018 (Nacho Doce/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 26 de setembro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 26 de setembro de 2018 às 18h47.
São Paulo – Mergulhada em uma crise de contornos econômicos, políticos e humanitários, a Venezuela vive momentos de incerteza e acabou produzindo intenso um fluxo migratório para os países vizinhos, como o Brasil. Com esse panorama turbulento provocado pelo governo de Nicolás Maduro, a situação do país será um grande desafio para a política externa brasileira no próximo governo.
Abaixo, EXAME reuniu os posicionamentos dos principais candidatos à Presidência nas eleições 2018, que responderam à reportagem a seguinte pergunta: “Como o seu governo pretende lidar com a imigração de venezuelanos para o Brasil e qual será a sua postura em relação ao governo de Nicolás Maduro, se eleito?”
“Defendo medidas que visem impulsionar o restabelecimento da ordem democrática na Venezuela, tanto no âmbito da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), quanto na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas.
Para a crise dos refugiados venezuelanos, defendo que as respostas não sejam dadas com exclusividade pelo setor de segurança pública. Há demora do governo federal em assumir suas responsabilidades e em coordenar uma resposta conjunta e eficiente dos entes federados, notadamente com o governo de Roraima e a administração da cidade de Boa Vista.”
Leia a entrevista completa de Álvaro Dias
“Precisamos estar preparados para acolher os solicitantes de refúgio ou visto de trabalho. Nosso governo será atuante e vai assumir essa responsabilidade. O que diz a lei brasileira e a convenção das Nações Unidas sobre refúgio é que cada caso precisa ser avaliado individualmente. E, a Lei de Migração, aprovada em 2017, avança por se pautar pelos direitos humanos e não considerar mais o imigrante como uma ameaça à segurança nacional. Vamos ter atendimento e triagem preocupados com a questão humanitária.
Sobre o governo venezuelano, devemos nos pautar nos organismos internacionais que defendem a autonomia e soberania dos países.”
Leia a entrevista completa de Guilherme Boulos
“Vamos continuar a dar apoio ao estado de Roraima e intensificar a política de internalização dos imigrantes. É importante, inclusive, reforçar a prevenção de doenças como o sarampo, etc. Quanto ao governo Maduro, vamos aumentar os esforços nas organizações multilaterais no sentido de reforçar a atuação destas organizações para reduzir a gravidade da crise venezuelana e, desta forma, evitar que o desenlace seja ainda mais dramático.”
Leia a entrevista completa de Henrique Meirelles
“Temos de continuar nossa tradição humanística e manter a fronteira aberta. Vamos apoiar o governo de Roraima, Estado com recursos limitados e sobrecarregado com o número de refugiados. A política de internalização em outros Estados vai ser ampliada. Vamos procurar aumentar o apoio de ONGs, organizações internacionais e governos amigos. Vamos também promover uma campanha contra a xenofobia, contrária à nossa índole.
A Venezuela será uma das minhas prioridades na política externa, no curto prazo. Os problemas de fronteira com o tráfico de drogas e de armas são muito preocupantes e afetam nossa segurança. Ao Brasil interessa uma Venezuela que supere seus problemas internos e cresça. Devemos ter uma atitude mais proativa para buscar uma solução política para a crise. Sou contrário a qualquer intervenção militar externa.”
Leia a entrevista completa de Geraldo Alckmin
“O Brasil, como nação, tem o dever humanitário de ajudar essas pessoas que fogem de um país em que perseguição política e grave violação de direitos humanos ocorrem repetidamente. Um país da dimensão e ambição do Brasil deve ser capaz de receber os refugiados, realizar triagem e alocação pelo território nacional.
Numa recente visita a Boa Vista, pude ver a situação com meus próprios olhos e constatei que a tarefa está sendo feita por cidadãos preocupados e não pelo governo. O governo precisa estar melhor posicionado para lidar com a crise e não ajudar de maneira nenhuma uma ditadura que persegue o próprio povo.”
Leia a entrevista completa de João Amoêdo
“O Brasil tem tradição histórica de ser um país acolhedor de imigrantes e refugiados. E, apesar de dificuldades atuais, fazer um esforço para continuar acolhendo refugiados e imigrantes – de quaisquer nacionalidades.
O governo vai incentivar e promover uma política séria de reassentamento dessas pessoas em todo o território nacional, evitando a concentração das pressões em estados fronteiriços, como Roraima.
Quanto ao governo Maduro, consoante aos princípios constitucionais da não–intervenção em assuntos internos de outros países, postura será a mesma dos governos anteriores do PT, de apostar na negociação pacífica das controvérsias, colocando-nos à disposição para mediar conflitos, conversar com todas as forças políticas e facilitar as negociações de uma saída democrática e constitucional para o grave conflito interno daquele país vizinho e irmão.”
Leia a entrevista completa de Fernando Haddad
“Vamos receber nossos irmãos refugiados venezuelanos e garantir toda a infraestrutura que hoje não recebem, com moradia digna, saúde, educação, etc. Todos os direitos básicos. E garantir ainda trabalho, Previdência, enfim, todos os direitos que os brasileiros gozam, ou deveriam gozar, aqui dentro.
Nossa posição em relação ao governo Maduro é a mesma dos trabalhadores que estiveram nas ruas para derrubá-lo e foram reprimidos e massacrados por aquela ditadura. Somos declaradamente a favor de sua derrubada, e também contra a direita pró-imperialista daquele país. Defendemos que os trabalhadores venezuelanos tomem o poder e decidam os rumos de sua própria vida.”
Leia a entrevista completa de Vera Lúcia
"O Brasil deve honrar sua tradição de país aberto a pessoas de todos os países do mundo que aqui queiram se instalar e viver contribuindo para a sociedade. No caso da Venezuela se agrega a emergência da situação de refugiados de um país que passou de ser a mais alta renda per capita de América Latina à maior tragédia econômica, política e humanitária da região no último meio século. O Brasil foi cúmplice dessa tragédia porque os governos anteriores sempre apoiaram o chavismo. Colômbia, Equador, Peru e Chile tem recebido muito mais refugiados que Brasil, mesmo tendo populações muito menores. Se eleita pretendo atuar em conjunto com os depois países sul-americanos pela volta da democracia na Venezuela."
Leia a entrevista completa de Marina Silva
*O candidato não atendeu ao pedido de entrevista da reportagem
*O candidato não atendeu ao pedido de entrevista da reportagem
*O candidato não atendeu ao pedido de entrevista da reportagem
As perguntas que compõem a entrevista deste especial foram compiladas com base em entrevistas realizadas por EXAME com especialistas em política externa de diferentes setores e organizações. Participaram embaixadores e empresários do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e pesquisadores de instituições como o Instituto de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), da Puc-Rio, da ESPM e das Faculdades Integradas Rio Branco.
A partir desse levantamento, a reportagem produziu sete perguntas para os candidatos que registravam ao menos 1% de intenção de voto segundo pesquisa Datafolha publicada em 22/08/2018: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora substituído por Fernando Haddad (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Álvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Cabo Daciolo (Patriota) e Vera Lúcia (PSTU).
Abaixo veja as entrevistas já publicadas:
Estes são os candidatos que ainda não se manifestaram sobre as demandas da reportagem:
A entrevista é composta das mesmas perguntas para todos os candidatos, essas enviadas no mesmo dia e com igual prazo para resposta, 15 dias. A publicação está acontecendo de acordo com a ordem de recebimento.