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O que o encontro de Biden e Xi pode significar para a política e economia mundial?

Reunião entre líderes das maiores potências acontece em meio ao aumento de tensões geopolíticas, restrições comerciais entre os países e desconfiança de ambos os lados

Biden e Xi: economia deve ser o tema central do encontro (AFP/AFP)

Biden e Xi: economia deve ser o tema central do encontro (AFP/AFP)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 15 de novembro de 2023 às 06h19.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e a sua contraparte chinesa, Xi Jinping, vão se reunir nesta quarta-feira, 15, em São Francisco, na cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec). O evento acontece na cidade americana entre 11 e 17 de novembro. Segundo o Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da ESPM e especialista em geopolítica, apesar das recentes tensões entre os países e as guerras em curso no Oriente Médio e na Ucrânia, a aproximação e visita de Xi tem como principal motivo a preocupação mútua dos países com a economia global.

"O principal motivo da aproximação e da visita de Xi Jinping aos Estados Unidos é a preocupação com a crise econômica dos dois lados. Tanto EUA quanto China estão preocupados com o ano que vem e sabem perfeitamente que as suas economias dependem uma da outra para de alguma forma conter a velocidade dessa crise", diz.

O professor reforça sua afirmação ao lembrar que a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, visitou três vezes Pequim nos últimos meses. 

É esperado que os líderes falem sobre as recentes limitações comerciais americanas à China. Em outubro, os EUA anunciaram a proibição de venda de chips de inteligência artificial para a China, com intuito de diminuir a capacidade chinesa “tanto de comprar quanto de fabricar certos chips high-end críticos para a vantagem militar”.

Em agosto, uma ordem executiva assinada por Biden proibiu investimentos americanos em indústrias de tecnologia importantes de Pequim. "O principal ponto da reunião deve ser a restauração de posições de comércio entre os países. Isso vai acontecer porque os dois lados precisam dessa retomada", afirma o professor da ESPM

Um comunicado da Casa Branca afirma que os líderes discutirão pontos da relação bilateral, bem como a importância de se manter linhas abertas de comunicação, além de "uma série de questões globais e regionais". O governo americano reforçou ainda que quer "continuar a gerenciar de modo responsável a competição e trabalhar juntos onde nossos interesses se alinham, em particular em desafios transnacionais que afetam a comunidade internacional".

Do lado chinês, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse que "a China não tem medo da concorrência", mas é contrário a definir a relação China-EUA em termos de concorrência. 

Tensões por Taiwan e balão espião

No início deste ano, os americanos acusaram Pequim de enviar um balão espião para o seu espaço aéreo. Um avião de guerra abateu o objeto próximo da Carolina do Sul. A ocasião causou troca de acusações de ambos os lados e uma potencial escalada na tensão entre os países, o que diminuiu a possibilidade de restauração das comunicações militares entre os países que a China se recusa a utilizar nos últimos anos.

Para Michael O'Hanlon, pesquisador sênior em política externa da Brookings Institution, é improvável que a linha direta militar entre os países seja retomada a partir desde encontro. "É bom que Biden faça o pedido, mas ele deve esperar que a resposta seja “não” – e deve evitar transmitir a ansiedade dos EUA em relação às tensões militares das duas nações no Pacífico Ocidental", escreveu em artigo publicado no portal acadêmico Brookings.

Ele argumenta que, nessa relação, as preocupações excessivas dos americanos podem reafirmar a estratégia chinesa. "Os líderes chineses acreditam que uma maior tensão convencerá de alguma forma os Estados Unidos a enfraquecer os seus compromissos para com a região do Pacífico Ocidental (quando na verdade o resultado oposto parece mais provável)", analisou. 

Segundo dados do Pentágono, citados pelo pesquisador, a China ameaçou realizar interceptações de aeronaves americanas operando em águas internacionais no Pacífico Ocidental pelo menos 180 vezes nos últimos dois anos, mais do que ocorreu na última década. Um dos casos mais recentes aconteceu em outubro, quando um jato chinês ficou a apenas três metros de uma aeronave norte-americana na região do mar do sul da China.

O'Hanlon afirma que essas "provocações" chinesas são intencionais e relembra o avanço do gigante asiático sobre Taiwan após a visita da então presidente da Câmara, Nancy Pelosi a região. Desde então, diversos exercícios militares foram realizadas na fronteira. A China reivindica o controle sobre a região autogovernada, que deverá realizar eleições no início de 2024. Segundo a BBC, Biden deve ressaltar as preocupações americanas sobre essas atividades de Pequim em torno da ilha. Xi, por sua vez, deve pedir garantias dos EUA em relação ao apoio a uma suposta independência de Taiwan.

Guerra de Israel

Ao avaliar o que pode ser discutido sobre o conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, Trevisan, da ESPM, afirma que a visita recente do chanceler chinês, Wang Yi, a Washington em agendas reservadas no departamento de Defesa e na Casa Branca pode ser indicativo da posição chinesa sobre o conflito.

"Qual foi o motivo dessa visita? Para que a China utilizasse a sua capacidade de influência para conter o Irã. Apesar de todos os problemas em Gaza, o Hezbollah faz algumas fustigações, mas o líder do grupo deixou muito claro na última sexta-feira que não pretende, pelo menos por agora, uma guerra com Israel. Essa fala traduz com toda certeza a posição do Irã, que consequentemente traduz a pressão chinesa", explica. 

Ele relembra ainda que a influência da China sobre outras economias, como o caso da Arábia Saudita e Irã, é importante para momentos de conflito. "A China faz parte desse redesenho geopolítico do mundo do qual a guerra no Oriente Médio é só um dos primeiros passos.

Visita de Xi na China

Esse é o segundo encontro entre os presidentes desde que Biden assumiu a Casa Branca e a primeira vez que Xi visita os Estados Unidos desde 2017, quando participou de uma reunião na residência particular do ex-presidente Donald Trump. Na ocasião, ele dividiu um bolo de chocolate com o então presidente Republicano. Xi e Biden se conhecem há mais de 10 anos e tiveram diversos encontros antes de o americano se tornar presidente em 2020. 

O líder chinês já esteve em solo americano por 10 vezes, sendo cinco como líder da China. A primeira visita do presidente aconteceu em 1985, quando ainda era um funcionário júnior do governo chinês. Segundo a revista Time, na época, ele liderou uma delegação para estudar técnicas agrícolas modernas.

Segundo o jornal New York Times, após a reunião com Biden, Xi vai participar de um jantar privado com empresários americanos. Para sentar-se na mesa de Xi é preciso desembolsar US$ 40 mil, ou R$ 196 mil em conversão direta. 

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