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O que as últimas guerras dos EUA indicam sobre os próximos passos do conflito com o Irã

Embora o conflito com o Irã não deva se expandir globalmente, as tensões podem levar a uma guerra prolongada, alerta especialista em segurança internacional

Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da ESPM e especialista em segurança internacional: “A guerra do Afeganistão foi um ponto de inflexão na política externa dos EUA. Trump foi enfático em dizer que não colocaria mais o país em guerras sem fim” (MENAHEM KAHANA / Colaborador/Getty Images)

Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da ESPM e especialista em segurança internacional: “A guerra do Afeganistão foi um ponto de inflexão na política externa dos EUA. Trump foi enfático em dizer que não colocaria mais o país em guerras sem fim” (MENAHEM KAHANA / Colaborador/Getty Images)

Publicado em 22 de junho de 2025 às 15h50.

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A incursão mais recente dos Estados Unidos Iraque, em 2003, foi concluída em 2011. Já a guerra dos Estados Unidos com o Afeganistão, iniciada em 2001, durou 20 anos. A retirada das tropas afegãs de maneira desordenada gerou duras críticas ao governo Biden e reforçou a declaração de Donald Trump, que se comprometeu a não envolver mais os Estados Unidos em conflitos intermináveis.

“A guerra do Afeganistão foi um ponto de inflexão na política externa dos EUA. Trump foi enfático em dizer que não colocaria mais o país em guerras sem fim”, afirma Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da ESPM e especialista em segurança internacional.

Esse ponto pode orientar os próximos passos do governo americano frente aos ataques ao Irã, realizado neste fim de semana para neutralizar instalações nucleares.

“Os ataques aéreos realizados pelos EUA com bombardeiros B-2, carregando bombas GBU-57, são uma tentativa de neutralizar rapidamente as instalações nucleares iranianas. Mas, se esses ataques não forem suficientes, a inteligência americana e israelense pode optar por novos bombardeios”, diz Rudzit. “Se a análise apontar que os objetivos não foram atingidos, os ataques continuarão, mas é uma questão de tempo até que a escalada se torne insustentável”.

Quando começou o programa nuclear do Irã?

O programa nuclear do Irã teve início nos anos 1950 com o apoio dos Estados Unidos, como parte da iniciativa Atoms for Peace, durante o governo do presidente americano Dwight D. Eisenhower. Porém, ao longo das décadas, o foco do programa foi mudando. Durante a Guerra Irã-Iraque, nos anos 1980, o Irã começou a considerar a possibilidade de desenvolver armas nucleares, dando início a uma transformação do programa, que passou a ter objetivos militares.

Contudo, foi a partir dos anos 2000, com a ascensão de Mahmoud Ahmadinejad à presidência do Irã, que as denúncias sobre a fabricação de uma bomba nuclear aumentaram, resultando em sanções severas do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A situação se agravou ainda mais em 2018, quando o presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos do acordo nuclear JCPOA (Plano de Ação Conjunto Global), assinado anteriormente com o P5+1. Desde então, o programa nuclear iraniano continuou a se expandir, levando a um aumento das tensões geopolíticas na região e no cenário global, afirma.

“A retirada dos EUA do JCPOA foi um marco, porque resultou no fortalecimento do programa nuclear do Irã, que com a revolução islâmica passou a contar com o apoio do governo russo”.

Uma guerra que tende a não ser global

Os ataques aéreos dos Estados Unidos ao Irã neste fim de semana deixaram governos dos quatro cantos do mundo em alerta, mas o impacto dessa guerra não deve ser global, afirma Rudzit. Países como Rússia e China, aliados do Irã, não estão dispostos a escalar um conflito nuclear que colocaria em risco suas próprias existências.

“Nem Rússia nem China querem que a existência do regime iraniano seja a causa de sua própria destruição. Essas potências não vão entrar em um conflito nuclear por causa do Irã”, afirma Rudzit.

A reposta do Irã aos ataques americanos, no entanto, ainda é incerta, afirma Rudzit. “O Ayatollah Khamenei perdeu grande parte da sua liderança militar, o que dificulta a tomada de decisões rápidas. A perda de confiança nas suas forças armadas coloca o regime em uma posição delicada.”

Por outro lado, a estratégia iraniana de provocação pode continuar, porque, segundo Rudzit, o país ainda tem a capacidade de resistir por mais tempo. “O Irã tem várias opções estratégicas, mas precisa ponderar o risco de uma retaliação americana em grande escala, caso se mova para uma ação mais agressiva contra os EUA”.

Quanto à intervenção dos Estados Unidos, não há expectativa de que haja uma presença terrestre significativa. O governo Trump optou por não enviar tropas para o Irã, priorizando ataques aéreos com as poderosas bombas Bunker Buster, como a GBU-57, para evitar um grande número de baixas americanas.

“O Irã é um país vasto e com uma população significativa, possui forças armadas bem preparadas, o que representa um obstáculo adicional para uma invasão em larga escala. Os EUA não têm interesse em se envolver em uma guerra terrestre com altas perdas humanas”, afirma Rudzit.

Neste cenário, a situação geopolítica ainda segue volátil. O Irã, com seu programa nuclear em expansão, continua sendo uma ameaça significativa, e as decisões dos Estados Unidos e de Israel nos próximos meses podem definir o rumo do conflito no Oriente Médio.

“O que está em jogo agora é a contenção do Irã e a estabilização da região. Se o Irã continuar a desafiar o Ocidente, a resposta será mais forte, mas ainda assim, o objetivo principal será evitar uma guerra de larga escala”, afirma Rudzit.

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