O então presidente dos EUA, Barack Obama, falando sobre o massacre em Sandy Hook (Chip Somodevilla / Equipa/Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 1 de junho de 2019 às 12h53.
Última atualização em 1 de junho de 2019 às 13h09.
São Paulo – Barack Obama esteve à frente da presidência dos Estados Unidos entre os anos de 2009 e 2017. Como líder do país mais poderoso do mundo, lidou com ataques terroristas, guerras e uma crise econômica global sem precedentes.
No meio desses acontecimentos, um é considerado pelo agora ex-presidente como o mais traumático da sua gestão: o massacre na escola primária de Sandy Hook em 14 de dezembro 2012. Na ocasião, um homem armado com pistolas invadiu a escola na cidade de Newtown (Connecticut) e matou 20 crianças, com idades entre seis e sete anos, e seis professores.
“Minhas filhas tinham mais ou menos a idade daquelas crianças e eu tive de ir consolar aqueles pais”, disse Barack Obama em uma palestra realizada nesta semana no Brasil, para a qual EXAME foi convidada, no evento Vtex Day 2019.
“Eu não podia trazer seus filhos de volta e não podia prometer que mudaríamos as leis de armas de fogo para que isso não acontecesse novamente”, continuou, fortemente aplaudido pela plateia de dez mil pessoas que acompanhavam a fala em São Paulo.
“Vocês sabem que as leis de armas nos Estados Unidos não fazem sentido: qualquer um pode comprar uma arma em qualquer lugar e a qualquer momento”, criticou Obama, que finalizou lembrando que nenhum dos desafios intelectuais que vivenciou durante a presidência o afetaram tanto quanto o massacre. “Esta foi a minha maior frustração”, finalizou.
Desde que Obama assumiu a presidência em 2009, foi à público comentar tiroteios em massa ao menos 14 vezes. Depois de Sandy Hook, em 2012, e até o fim da sua presidência em janeiro de 2017, cerca de 122 pessoas morreram e 241 ficaram feridas em tiroteios em massa de grande repercussão.
Outros casos chocantes se desenrolaram durante os tempos de Obama na presidência dos Estados Unidos, massacre em uma igreja na cidade de Charleston, que deixou nove mortos em 2015, e o ataque em uma boate de Orlando, que resultou em 49 mortes em junho de 2016.
De fato, uma das maiores críticas que Obama enfrentou nos seus anos como presidente foi o fato de não conseguir ter avançado em tornar a legislação de armas de fogo mais rígida, embora tenha enviado projetos aos Congresso. Conseguiu editar algumas novidades por meio de ordens executivas, mas não houve uma conquista significativa em âmbito legislativo.
Nas últimas vezes que precisou se manifestar sobre o tema, seu desconforto e a sua frustração eram visíveis e não deixava de falar publicamente a favor de uma reforma na legislação. As palavras de luto, no entanto, traziam, ainda, mensagens duras e críticas à ala do governo que se posiciona contra maiores restrições para a compra e porte de armas de fogo.
Sobre Charleston, Obama disse que “novamente pessoas inocentes foram mortas em partes porque alguém que queria fazer o mal não teve problemas em colocar suas mãos em uma arma”. No caso de Orlando, o então presidente finalizou a fala lembrando que “precisamos decidir o tipo de país que queremos ser. E não fazer nada sobre isso é também uma decisão”.
As dificuldades em se reformar a legislação de armas são muitas, mas duas são consideradas as maiores barreiras: o fato de o direito ao porte de armas ser protegido por força constitucional (na Segunda Emenda da Constituição dos Estados Unidos) e o forte lobby armamentista, que tem a poderosa NRA (Associação Nacional de Rifles) como protagonista. As regras em torno da compra e o porte, no entanto, não são uniformes e variam de acordo com o estado.
Estimativas dão conta de que os Estados Unidos estão entre os países com o maior número de armas de fogo nas mãos de civis, cerca de 265 milhões. Embora os americanos se dividam sobre a compra e o porte de armas, uma pesquisa da Gallup mostrou que 61% deles apoiam uma legislação mais rígida para a venda desses artefatos.