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O petróleo virou arma anti-Trump

Elisabeth Malkin © 2016 New York Times News Service Ciudad del Carmen, México – A cidade construída pelo petróleo está ficando vazia. Placas de “vende-se” podem ser vistas em casas de blocos de concreto e bangalôs ensolarados. Parados, os trabalhadores que costumavam se reunir na praça principal à procura de bicos, agora procuram outra coisa para […]

REFINARIA DA PEMEX, NO MÉXICO: a combalida petroleira investe em águas profundas para se reerguer / Janet Jarman/The New York Times

REFINARIA DA PEMEX, NO MÉXICO: a combalida petroleira investe em águas profundas para se reerguer / Janet Jarman/The New York Times

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Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2016 às 18h58.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h49.

Elisabeth Malkin
© 2016 New York Times News Service

Ciudad del Carmen, México – A cidade construída pelo petróleo está ficando vazia. Placas de “vende-se” podem ser vistas em casas de blocos de concreto e bangalôs ensolarados. Parados, os trabalhadores que costumavam se reunir na praça principal à procura de bicos, agora procuram outra coisa para fazer.

Aqui em Ciudad del Carmen, no litoral do Golfo do México, até mesmo os postos de trabalho protegidos pelos sindicatos estão desaparecendo. Alguns trabalhadores das plataformas de petróleo estão sem emprego há meses e é possível ouvir a ansiedade em suas vozes. “O que você acha que vai acontecer?”, algumas pessoas perguntam.

A Pemex enfrenta problemas há tempos, gastando bilhões de dólares ao ano, carregada de dívidas e com dificuldades para manter a produção, à medida que os enormes poços do Golfo do México ficam sem petróleo. Em 2017 a produção será de menos de dois milhões de barris por dia, a menor desde 1980.

Melhorar a situação da petrolífera estava no topo da lista de prioridades do México, após ser foco de um longo debate em torno do destino de uma das principais – e mais problemáticas – instituições nacionais.

Agora, a empresa se tornou ainda mais importante desde que Donald Trump foi eleito nos EUA. À medida que os mexicanos se protegem do presidente americano que usou como estratégia de campanha o ataque ao México e aos mexicanos, autoridades do país se apressam para garantir que a economia mexicana esteja em boas condições.

Se Trump cumprir as promessas de renegociar o Acordo de Livre Comércio das Américas, de deportar imigrantes e utilizar a arrecadação de impostos nas transações com o México para construir o muro entre os dois países, o México irá enfrentar graves choques econômicos, especialmente em sua importante base manufatureira, cujos produtos substituíram há anos o petróleo como principal exportação do país.

O peso mexicano se mantém em uma baixa histórica. O banco central aumentou as taxas de juros, citando as “incertezas em relação ao futuro”. E recentemente, as previsões de crescimento para este ano e o ano que vem foram revistas para baixo. O presidente do banco central, Agustín Carstens, afirmou em entrevista a uma estação de rádio local que compreender as políticas do governo Trump era “como tentar montar um quebra-cabeça sem ter todas as peças”.

Muitas pessoas estão pessimistas com os planos do governo. “O México não tem um plano B bom o bastante para resistir à onda anticomercial”, alertam analistas do Morgan Stanley em uma nota recente aos investidores.

O dano que Trump poderia causar nas fábricas que enviam carros e computadores para os EUA aumentou a urgência das iniciativas mexicanas para reavivar partes da economia que não têm relação com a ALCA – especialmente seu dilapidado setor petrolífero.

Com essa finalidade, quando José Antonio Meade, ministro da Fazenda, faz uma lista dos pontos fortes da economia mexicana, destaca a importância das novas leis energéticas que deram fim aos 75 anos de monopólio da Pemex.

As leis, parte de um pacote de reformas econômicas que o presidente Enrique Peña Nieto conseguiu que fossem aprovadas pelo congresso há três anos, permitiram o investimento privado no setor petrolífero mexicano pela primeira vez desde que as empresas estrangeiras foram expulsas em 1938.

Alguns dias após a eleição americana, o executivo chefe da Pemex, José Antonio González Anaya, apresentou um cronograma de projetos que, segundo ele, poderia ser oferecido a potenciais parceiros comerciais, com a promessa de tornar a petrolífera lucrativa mais uma vez.

Ele e o ministro da Fazenda se reuniram com investidores em Nova York este mês para afirmar que a economia mexicana é sólida e que “o setor petrolífero continuará a ser uma locomotiva para o crescimento econômico nacional”, de acordo com um comunicado da Pemex e do Ministério da Fazenda. A dupla partiu, em seguida, para uma visita a Londres.

Peña Nieto esteve por trás de outras reformas, incluindo a da educação, das telecomunicações, dos impostos, da eletricidade e das finanças nacionais, embora elas ainda não tenham se traduzido em crescimento econômico. Boa parte dos economistas prevê que a economia cresça apenas dois por cento este ano.

Todavia, a reforma mais radical de todas foi o fim do monopólio da Pemex, a maior empresa do país, com a permissão da procura de capital e tecnologia de empresas privadas. A medida afetou o maior símbolo de soberania nacional do México, rejeitando a antiga convicção de que o país poderia desenvolver seu recurso natural mais valioso por conta própria.

“A única maneira de reavivar a produção nos próximos cinco, ou seis anos é trazer mais investimentos para a Pemex. Não existe outro caminho”, afirmou Juan Carlos Zepeda, presidente da Comissão Nacional de Hidrocarbonetos, a reguladora petrolífera mexicana.

Mas após a aprovação das novas leis de energia, a empresa estagnou, a promessa de joint ventures não se concretizou e o preço do petróleo despencou.

A Pemex ficou ainda mais enfraquecida, à medida que suas dívidas cresceram e a produção diminuiu. Quedas no faturamento com o petróleo levaram o setor a financiar apenas 20 por cento do orçamento do governo mexicano, ao invés de até 40 por cento quando o preço do barril estava em alta.

“O governo nunca se preparou para lidar com preços baixos. Eles nunca imaginariam que a Pemex poderia implodir dessa forma”, afirmou John Padilla, diretor-executivo da empresa de consultoria energética IPD Latin America.

O presidente escolheu González Anaya, economista formado em Harvard e conhecido por sua eficiência, para assumir a Pemex em fevereiro. Ele logo anunciou a primeira proposta de joint venture: a exploração de um campo de petróleo em águas profundas ao sul da fronteira com os EUA.

Os especialistas acreditam que as reservas de petróleo em águas profundas do México podem trazer uma grata surpresa ao país. Entretanto, são uma empreitada perigosa e cara, algo que preocupa em um momento em que os preços baixos forçaram as empresas petrolíferas internacionais a cancelar muitos planos do mesmo tipo.

Ainda assim, grandes empresas como a BP, a Exxon Mobil, a Chevron e a Shell se inscreveram para o leilão em dezembro.

Em uma entrevista concedida em seu escritório no alto da torre da Pemex na Cidade do México, González Anaya alertou que não se deve esperar muito. “Algumas pessoas me disseram que a Pemex não vai voltar a produzir três milhões de barris. E claro que não vai. É uma pena, mas não vai. O que posso fazer é demonstrar que a empresa está firme.”

Nem todos acreditam que as empresas vão querer firmar parcerias com a Pemex. “Há dois anos, todo mundo queria uma parceria com a Pemex. Eles recebiam propostas todos os dias. Mas, dois anos depois, quem é que pode dizer que a Pemex vale o investimento?”, disse Padilla.

Outra questão é se o governo será capaz de acelerar a transformação para se proteger das políticas prometidas por Trump. Mesmo que o governo atraia investimento privado, o efeito sobre a produção pode demorar anos para se materializar.

“Eles não vão melhorar a economia só com uma reforma no setor energético”, afirmou Jeremy M. Martin, especialista em energia do Instituto das Américas, em San Diego.

Durante décadas, a Pemex deixou muita gente rica. A empresa firmou contratos superfaturados com executivos de empresas locais que mantinham bons relacionamentos políticos, de acordo com entrevistas envolvendo prestadores de serviço em Ciudad del Carmen. Governadores de estados ricos em petróleo exigiam dinheiro da Pemex para realizar obras públicas. “O orçamento era sugado”, afirmou Mariano Ruiz Funes, ex-chefe de pessoal da Pemex.

Mas em Ciudad del Carmen, as riquezas da petrolífera nacional desapareceram há muito tempo. A cidade perdeu cerca de 23.000 empregos desde o fim de 2014. “O que estamos vivendo em Carmen nunca foi visto no México contemporâneo”, afirmou José Domingo Berzunza, secretário de desenvolvimento econômico do estado de Campeche.

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