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Ruanda vai às urnas nesta sexta-feira

Apesar da estabilidade, país vive um paradoxo. A oposição é quase inexistente, o governo controla a imprensa e é acusado de perseguição a opositores

Paul Kagame em Campanha: a economia cresce, e ele não tem a menor intenção de deixar o poder (Jean Bizimana/Reuters)

Paul Kagame em Campanha: a economia cresce, e ele não tem a menor intenção de deixar o poder (Jean Bizimana/Reuters)

EH

EXAME Hoje

Publicado em 4 de agosto de 2017 às 06h22.

Última atualização em 8 de agosto de 2017 às 15h22.

Ruanda, uma das economias que mais crescem na África, vai às urnas nesta sexta-feira para confirmar o terceiro mandato do presidente Paul Kagame numa eleição que deve escancarar um paradoxo.

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No poder há 23 anos, Kagame foi um dos responsáveis por dar fim ao genocídio de 1994, em que a etnia hutu matou mais de 500.000 pessoas da etnia rival tutsi. Kagame, um tutsi que cresceu no exílio, liderou o grupo armado Frente Patriótica Ruandesa e, finda a guerra, assumiu o comando do país em 1994.

Desde então, a população de Ruanda dobrou de tamanho, para 12 milhões de pessoas. O país vem crescendo a uma média de 8% ao ano desde 2001, e tornou-se uma ilha de estabilidade na África.

Seu programa “Visão 2020” quer levar Ruanda de uma economia majoritariamente agrícola a um país com setor de serviços desenvolvido. O objetivo é chegar a menos de 30% da população vivendo abaixo da linha da pobreza — a taxa hoje é 45%, um número que caiu dez pontos percentuais na última década.

O governo vem investindo em infraestrutura e em educação, além de atrair investimentos estrangeiros. O país conseguiu atingir a quase universalidade das matrículas no ensino primário e mais de 80% da população tem acesso a água potável.

Assim, o bom desempenho econômico e os anos sem guerra explicam por que Kagame vem sendo reeleito com mais de 90% dos votos.

Mas a que preço vem essa estabilidade? Eis o paradoxo do país. A oposição é praticamente inexistente, o governo controla a imprensa e é acusado de perseguição e violência a opositores.

Os dois principais candidatos, o jornalista Philippe Mpayimana e Frank Habineza - do Partido Verde, o principal partido de oposição - sofrem com comícios esvaziados.

“Muitas pessoas acham que, se elegerem a oposição, o genocídio pode acontecer de novo”, diz o pesquisador camaronês John Mbaku, do Africa Growth Initiative, grupo de estudos sobre a África do instituto de pesquisas Brookings, de Washington. “A oposição prega democracia e direitos fundamentais, mas quando você está num país que se preocupa com a volta da guerra e a da pobreza extrema, as preocupações são outras.”

No fim, no paradoxo ruandês, a única pessoa que parece capaz de liderar uma abertura democrática sem levar o país a uma nova guerra civil é o próprio Kagame. Graças a uma reforma constitucional em 2015, ele pode seguir se reelegendo até 2034. Ao confirmar que seria novamente candidato, Kagame disse que Ruanda não precisa de “um líder eterno”. Resta saber quando ele estará disposto a deixar o poder.

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