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O papa, que critica o "esterco do diabo", sacudirá os EUA

O papa Francisco chega para sua primeira visita ao antro do capitalismo, os Estados Unidos, para sacudir políticos e líderes empresariais


	Papa Francisco: o dinheiro é “o esterco do diabo” quando escraviza pessoas, disse o papa
 (Giampiero Sposito/Reuters)

Papa Francisco: o dinheiro é “o esterco do diabo” quando escraviza pessoas, disse o papa (Giampiero Sposito/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 10 de setembro de 2015 às 18h30.

Em um momento em que a campanha presidencial dos EUA expõe desprezo pelas elites e angústia em relação ao futuro, o papa Francisco chega para sua primeira visita ao país com planos para denunciar a enorme desigualdade e a negligência planetária.

A mensagem, pronunciada pelo líder espiritual de 1,2 bilhão de católicos romanos durante uma turnê de seis dias, que vai começar no dia 22 de setembro, será, sem dúvida, o foco do discurso público nos EUA.

Francisco, 78, imprimiu sua personalidade humilde no papado e não perde muito tempo com sutilezas diplomáticas.

Depois de ter dito que o dinheiro é “o esterco do diabo” quando escraviza pessoas, parece provável que ele vá sacudir políticos e líderes empresariais em um país amplamente visto como o baluarte do capitalismo.

“O papa diz que está tudo bem com o dinheiro e com o capital, mas quando o dinheiro se torna um deus, um ídolo, mais importante do que o homem, isso não está bem – independentemente do que as pessoas de Wall Street pensam”, disse Andrea Tornielli, autor do livro “This Economy Kills” (Essa economia mata, em tradução livre), sobre o pensamento econômico de Francisco.

Em um púlpito privilegiado – que abrange o Congresso, a Casa Branca, os líderes mundiais nas Nações Unidas e cerca de um milhão de fiéis em uma missa ao ar livre – espera-se que o papa argentino, o primeiro do continente americano, condene o que ele chamou de “globalização da indiferença”, especialmente em relação à onda de refugiados desesperados do Oriente Médio.

Estão programados 17 discursos e homílias. Primeiro papa a falar em uma sessão conjunta do Congresso americano, ele visitará Nova York e Filadélfia, fazendo apelos por uma nova economia mundial e por medidas urgentes em relação à mudança climática.

Francisco, que pediu “uma Igreja pobre para os pobres” em sua eleição, em março de 2013, também se encontrará com a comunidade latina, os sem-teto e a população carcerária.

“Excessos do capitalismo”

Sua mensagem provavelmente será aproveitada por Bernie Sanders, que está concorrendo a uma indicação no Partido Democrata e fez campanha contra a “classe bilionária”, e também pelo empresário Donald Trump, principal candidato anti-establishment na arena republicana.

Ken Hackett, embaixador dos EUA na Santa Sé, estimou que conservadores e liberais vão “destacar o parágrafo que se encaixar na agenda deles”, especialmente “no começo de um período de eleição presidencial”.

Ele acredita que o papa falará sobre “os excessos do capitalismo”, a migração e a mudança climática diante dos parlamentares, disse ele em entrevista, de Roma.

Responsabilidade dos mercados

O economista Jeffrey Sachs disse que Francisco considera que os mercados internacionais estão “destruindo o bem comum”.

Na opinião do papa, os mercados são responsáveis pela mudança climática provocada pelo homem, pelo tráfico de milhões de pessoas e pelas centenas de milhões de pessoas pobres que estão sofrendo, disse Sachs – que trabalha com a Pontifícia Academia de Ciências, que assessora o papa em questões relativas à economia e ao meio ambiente – em um e-mail.

Francisco gerou polêmica em junho, especialmente nos EUA, quando em uma encíclica, uma carta aos bispos, chamada “Laudato si”, que significa “Louvado seja”, responsabilizou os países ricos e a economia global por uma “espiral de autodestruição”.

Obama e Francisco

Na Casa Branca, Obama e Francisco, que chegará vindo de Cuba, estarão “na mesma sintonia” em relação à pobreza e à mudança climática, disse o embaixador Hackett. Francisco também apoia o acordo com o Irã, acrescentou ele.

Em resposta a perguntas sobre as diferenças relativas ao controle da natalidade, ao aborto e ao casamento de pessoas do mesmo sexo, Hackett disse: ‘‘Existem diferenças. Eu acho que não é nisso que eles vão concentrar todas as energias quando se reunirem a sós”.

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