Luc Bas, do Climate Group: ""Esta é a hora de lutar por uma revolução industrial limpa e lançar novas tendências e idéias para o desenvolvimento sustentável". (Vanessa Barbosa/EXAME.com)
Vanessa Barbosa
Publicado em 1 de dezembro de 2010 às 18h31.
São Paulo - Centenas de carros disputando espaço nas ruas num anda e pára sem fim. A "cena congestionada" tão conhecida dos paulistanos impressiou o britânico Luc Bas, diretor do programa europeu do Climate Group, principal ong internacional de apoio ao desenvolvimento de tecnologias verdes, com escritórios nos EUA, Europa, China, Austrália e Hong Kong. "Todo esse congestionamento é um desperdício de tempo e dinheiro", avalia.
Especialista no assunto, ele afirma que o mundo como o conhecemos hoje - abastecido à energia fóssil e mergulhado em rápidas transformações climáticas - encontra-se em um "ponto de inflexão" que exige a mudança completa do sistema. "Esta é a hora de lutar por uma revolução industrial limpa e lançar novas tendências e idéias para o desenvolvimento sustentável", afirma.
Segundo Luc, o investimento em tecnologias verde é fundamental para a transição à economia de baixo carbono e, por isso, deve ser acelerado. Em visita ao Brasil para participar da 1ª Bolsa Internacional de Negócios da Economia Verde (Binev), realizada pelo estado de São Paulo, de hoje (1) até sexta (3), o especialista do Climate Group falou à EXAME.com sobre questões urgentes para a revolução verde.
Tecnologia para monitorar o clima e mitigar emissões
Estudos do Climate Groupe mostram que as tecnologias da informação verde podem reduzir as emissões globais de todos os setores em 15% até 2020. Atualmente, mais de 4 bilhões de pessoas em todo mundo possuem telefones móveis, que servem não só para fazer telefonemas, mas para conectar à internet, compartilhar informações e até fazer compras. Em 2020, segundo o relatório do Grupo, serão 8 bilhões de conectados portadores de celulares.
"E não só as pessoas ficam mais conectadas, mas as coisas do mundo em geral", diz Luc. "Será impraticável ter 50 bilhões de conexões de máquina-máquina em 2020. Precisamos desenvolver desde já sistemas que consumam menos recursos em sua produção e que sejam mais inteligentes". Segundo o especialista, são as tecnologias verdes que tornarão as mudanças climáticas mais visíveis e nos ajudarão a monitorar nossos impactos ambientais e as nossas emissões.
Mobilidade elétrica contra a poluição
No Reino Unido, atualmente, um carro elétrico é capaz de emitir entre 15% e 40% menos CO2 durante sua vida útil do que um veículo com motor a gasolina. Isto considerando que a principal fonte de energia local são termoelétricas. "No futuro, os carros poderiam abastecer suas baterias e aumentar sua eficácia a partir de uma rede alimentada por fontes de energia renováveis como eólica e solar fotovoltaica", afirma Luc.
Ele diz que a transição para a mobilidida elétrica, entretanto, exigirá parcerias entre os fabricantes de automóveis e de baterias, bancos e governos. Também será preciso transformar a infra-estrutura de transporte. "Estamos trabalhando com nossos parceiros para construir a vontade política e os mercados necessários para viabilizar em larga escala os carros elétricos e a preço acessível", afirma.
Iluminação mais eficiente com LED
A iluminação é responsável por quase 10% das emissões globais de CO2, mais do que carros no mundo inteiro. Segundo Luc Bas, é possível se alcançar uma diferença considerável nas emissões de carbono através do uso de sistemas de iluminação mais eficiente em energia, como lâmpadas LED. "Além de reduzir custos, o sistema de LED quando combinado com controles inteligentes pode cortar as emissões de CO2 de 50% a 70%", afirma.
Captura e Armazenamento de Carbono (CCS)
Testada em diversos países, a tecnologia conhecida como CCS (sigla em inglês para Carbon Dioxide Capture and Storage), segundo Luc, pode trazer grande contribuição aos esforços de mitigação das emissões globais de CO2. Grosso modo, trata-se de um meio de aprisionar o CO2 de combustíveis fósseis e armazená-lo no subsolo terrestre.
"Nós estamos trabalhando com desenvolvedores de projetos CCS, representantes de governos, reguladores, investidores e seguradoras para acelerar a demonstração da tecnologia CCS em países-chave e consumidores intensos de carvão, como China, Índia, EUA, Europa e Austrália. No entanto, diz o especialista, a urgência e a escala da implementação de projetos de CCS não estão acontecendo em ritmo suficiente para combater o acúmulo nocivo de CO2 na atmosfera e diminuir, assim, os efeitos das alterações climáticas.