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O lento retorno à vida entre as ruínas em Aleppo

Desde a retomada completa da cidade por parte do regime, a vida está sendo lentamente reconstruída nos bairros devastados

Aleppo: "Tudo pode ser reconstruído" (Khalil Ashawi/Reuters)

Aleppo: "Tudo pode ser reconstruído" (Khalil Ashawi/Reuters)

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AFP

Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 13h44.

De sua residência sobraram um quarto e alguns móveis, mas Abdel-Hayy decidiu voltar a viver no local mais de um mês após o fim dos combates que devastaram os bairros outrora controlados pelos rebeldes em Aleppo.

"Há segurança agora. É razão suficiente para voltar com a minha família", afirma à AFP o homem, de 38 anos, perto de um muro.

Como dezenas de milhares de outros residentes da zona leste de Aleppo, Abdel-Hayy e sua família fugiram de seu bairro no início de dezembro em meio a maior ofensiva militar do regime de Bashar al-Assad contra os rebeldes.

"Nós vivíamos sem água e sem eletricidade, e agora continuamos sem nada. Você pode viver sem serviços básicos, mas você não pode viver com a morte", explica.

Desde a retomada completa da cidade por parte do regime, em 22 de dezembro, a vida está sendo lentamente reconstruída nos bairros devastados.

"Eu reconstruí o único quarto que ficou de pé e agora vou passar para os outros, peça por peça",indica Abdel-Hayy que prefere não revelar seu sobrenome.

Seu apartamento foi atingido várias vezes em bombardeios desde 2012.

As janelas desapareceram há tempos, substituídas por pranchas de madeira. Os estilhaços de morteiros desfiguraram a fachada do edifício e as paredes estão cheias de rachaduras.

As autoridades locais prometeram indenizar os proprietários. Mas "é preciso fornecer os documentos que provem que somos os donos, e depois esperar a nossa vez para que uma comissão avalie os danos", informa Abdel-Hayy, que era vendedor de relógios.

Para Ahmad Jassem e sua esposa Umm Imad, a situação é ainda mais difícil porque a sua casa não é nada além de uma pilha de escombros.

Eles vivem no apartamento de um amigo, com uma vista dolorosa de sua antiga casa.

"Quando eu saio na varanda e vejo, começo a chorar", lamenta Umm Imad, com a cabeça coberta com um véu preto. "Estou sem água, sem eletricidade, minha casa foi destruída... Quando tudo isso vai passar e voltar a ser como antes?".

Tudo pode ser reconstruído

Ela, seu marido e seu filho de 15 anos permaneceram na zona leste de Aleppo durante a batalha, vivendo nesta casa temporária.

Metade do seu apartamento antigo desabou e ainda é possível ver através dos escombros o varal no qual estão penduradas algumas roupas.

Sem eletricidade, sua casa temporária é fria e escura, forçando-os a usar tochas para se aquecer.

"Ainda está fazendo muito frio e falta serviços básicos, mas pelo menos meu filho está seguro. Eu não quero perder mais", diz Jassem, cujos membros da família foram mortos durante a guerra.

"Estou mais tranquilo agora que o meu filho pode ir e voltar da escola com segurança e ter uma vida normal", acrescenta a mulher.

Em uma rua próxima, Fuad al-Saqa fuma um cigarro na frente dos escombros bloqueando a entrada de sua casa. "Não há mais nada da minha casa: nem janelas ou portas. O que me resta agosra é contemplar as ruínas", lamenta o homem de 65 anos.

Ele espera desde cedo a chegada de veículos municipais para ajudar a limpar os escombros, mas o trabalho pode se arrastar por semanas uma vez que os pedidos semelhantes são inúmeros.

Em um prédio próximo, no terceiro andar, um homem e seus filhos limpam escombros que caem na rua em uma nuvem de poeira.

Mias ao longe, o dono da mercearia Imadeddine al-Suda volta a expor rabanetes e maçãs. "Há dois meses eu não podia ficar perto das barracas por medo de ser ferido nos bombardeios", testemunha.

"Hoje as prateleiras estão cheias e os preços caíram 75%", diz este homem de 37 anos. "A coisa mais importante é a segurança. Tudo pode ser reconstruído", diz ele.

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