DUENDE: economistas questionam se o crescimento do país é tão ilusório quanto a figura mitológica / Laurence Griffiths/Getty Images (Laurence Griffiths/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de julho de 2016 às 20h05.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 18h50.
Duendes são a figura mais famosa do folclore irlandês há séculos. Chamados de leprechauns, eles são considerados guardiões de tesouros escondidos. Para o Nobel de Economia Paul Krugman, colunista de EXAME Hoje, nesta terça-feira a fábula dos duendes chegou ao PIB do país, que teria números tão ilusórios quanto a figura mitológica.
Ontem, o governo irlandês informou que a economia do país cresceu 26,3% em 2015. É, de longe (muito longe) o maior crescimento dentre todos os 28 países da zona do euro em 2015 e o maior de todos os tempos na Irlanda. O número também é maior (bem maior) que as estimativas anteriores, um crescimento de 7,8% em 2015.
Grande parte do crescimento é fruto do que pode ser chamado de “efeito JBS” – os incentivos fiscais dados pela Irlanda à companhias estrangeiras. Hoje, as empresas multinacionais instaladas no país – são mais de 1.000 – pagam uma alíquota de impostos sobre os seus lucros de 12,5%. O valor é bem menor do que os impostos em países como os Estados Unidos, que tem alíquota de 35%, e o Brasil, de 34%.
Com taxas baixas, grandes companhias fazem da Irlanda seu centro financeiro. É o caso de gigantes da tecnologia como Google, Apple e Intel, e também da brasileira JBS, que anunciou, em maio, a transferência de seus negócios no exterior, que têm um faturamento anual de 35 bilhões de dólares, para o país.
O problema é que a estratégia, conhecida como inversão fiscal, infla artificialmente o tamanho da economia do país. A Irlanda terminou 2015 com uma taxa de desemprego de 8,9%, uma das mais altas da União Europeia.
Especialistas começam a se questionar se o regime fiscal do país tornou a economia irlandesa tão distorcida a ponto de ninguém mais saber o que realmente está acontecendo. Os dados do primeiro trimestre deste ano mostram que o PIB caiu 2,1% na comparação anual. Se uma nova retração vier no segundo trimestre, o mesmo país que cresceu 26% em 2015 entrará em recessão técnica.