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O futuro do Canadá: o que está em jogo nas eleições de 28 de abril

Pleito, convocado pelo primeiro-ministro Mark Carney apenas nove dias após assumir o cargo, promete ser um dos mais acirrados dos últimos anos

 (Joe Raedle/AFP)

(Joe Raedle/AFP)

Natalia Viri
Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 23 de março de 2025 às 15h31.

O Canadá se prepara para uma eleição federal antecipada marcada para 28 de abril, em um momento de forte tensão com os Estados Unidos e mudanças recentes no comando político.

O pleito, convocado pelo primeiro-ministro Mark Carney neste domingo, 23, apenas nove dias após assumir o cargo, promete ser um dos mais acirrados dos últimos anos.

Carney, ex-presidente do Banco da Inglaterra e do Banco do Canadá, assumiu a liderança do Partido Liberal após a renúncia de Justin Trudeau, pressionado por membros de sua própria legenda.

Apesar do pouco tempo no cargo, o novo primeiro-ministro aposta em sua reputação de gestor experiente para manter os liberais no poder por um quarto mandato consecutivo — feito raro na política canadense.

O cenário eleitoral vinha sendo amplamente favorável ao Partido Conservador, liderado por Pierre Poilievre, que conquistou vantagem ao explorar o descontentamento popular com o alto custo de vida e a crise habitacional. No entanto, uma nova variável virou o jogo: a escalada retórica do presidente dos EUA, Donald Trump.

Trump não apenas impôs tarifas sobre produtos canadenses, como também insinuou que usaria “força econômica” para transformar o Canadá em um estado norte-americano. A retórica agressiva gerou uma onda de indignação nacionalista no Canadá.

Uma pesquisa feita do Abacus Data, publicada hoje e noticiada pela Bloomberg, mostra os conservadores levemente à frente. Mas, entre os eleitores que apontam Trump como principal preocupação, os liberais lideram com quase 30 pontos de vantagem.

Essa virada forçou uma reconfiguração do debate político.

Carney tenta se diferenciar de Trudeau ao abandonar políticas impopulares, como  imposto sobre emissões de carbono para consumidores e pequenas empresas e uma proposta de aumento nos impostos sobre ganhos de capital. Também busca reforçar os laços com a Europa, em contraste com o clima hostil vindo de Washington.

Por outro lado, Poilievre adota um tom combativo, defendendo cortes de impostos e a desregulamentação para impulsionar a indústria de hidrocarbonetos. Ele acusa os liberais de enfraquecerem a economia e tornarem o país vulnerável à pressão dos EUA.

Além do embate entre liberais e conservadores, o Novo Partido Democrático (NDP), historicamente ligado a sindicatos, tem perdido apoio — saindo de dois dígitos altos para cerca de 10% nas pesquisas —, e aparentemente cedendo preferência aos liberais.

O cenário em Quebec também mudou: se antes havia sinais de apoio crescente ao separatismo, o nacionalismo canadense reacendido pelas provocações de Trump parece ter enfraquecido esse movimento.

No Oeste, no entanto, a tensão federalista persiste. A primeira-ministra de Alberta, Danielle Smith, lançou um ultimato ao governo federal para atender às demandas do setor petrolífero, sob ameaça de uma “crise de unidade nacional sem precedentes.

Com nenhuma das principais legendas tendo ainda apresentado um programa completo de governo, o eleitor canadense enfrentará uma decisão crucial: entre dois líderes que dizem estar mais aptos a negociar com Trump e a proteger a soberania nacional, e em um momento em que as tensões internacionais se misturam às angústias domésticas.

O que está em jogo vai muito além de uma disputa partidária — é uma eleição sobre o papel do Canadá no mundo e o futuro de sua identidade como nação independente.

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