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O calvário das vítimas da chacina, na ilha norueguesa de Utoeya

Sobreviventes do massacre no acampamento contam como tudo aconteceu

Familiares das vítimas de massacre em acampamento se abraçam e choram pela tragédia (Odd Andersen/AFP)

Familiares das vítimas de massacre em acampamento se abraçam e choram pela tragédia (Odd Andersen/AFP)

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Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2011 às 16h41.

Perseguidos e crivados de balas: este foi, durante duas horas, o destino de dezenas de jovens noruegueses mortos pelos tiros disparados por um homem de 32 anos, disfarçado de policial, que transformou a ilha de Utoeya num inferno, deixando aí, pelo menos, 84 mortos.

Às cinco da tarde, hora local, quase 600 pessoas, em maioria jovens, estavam nesta pequena ilha perto de Oslo participando de um acampamento de verão da juventude do Partido Trabalhista, a formação do primeiro-ministro Jens Stoltenberg.

"De repente, ouvi tiros atrás de uma colina", contou Khamshajiny Gunaratnam, sobrevivente da chacina, que fugiu da ilha a nado. "Nos perguntamos, num primeiro tempo, sobre quem estaria caçando aqui, porque só poderia ser um caçador", relata em seu blog.

Vestido com uma jaqueta da polícia, o atacante louro, de 1,90m de altura, identificado pela imprensa norueguesa como Anders Behring Breivik, atraiu primeiro suas vítimas, fazendo-as acreditar que queria protegê--las e transmitir informações importantes, segundo vários testemunhas.

"Venham aqui, não tenham medo, se aproximem", disse antes de abrir fogo, segundo Elise, uma adolescente de 15 anos, ouvida pela agência NTB. Antes, uma violenta explosão havia devastado os prédios do governo no centro de Oslo. Os jovens militantes trabalhistas sabiam disso, porque acabavam de assistir a um noticiário.

Escondida numa grande pedra, a adolescente ficou a apenas alguns passos do atacante, do qual podia ouvir a respiração "ofegante". "As pessoas corriam para todos os lados, como loucas. Ele não parava de atirar", disse.


A ilha, semeada de barracas coloridas, passou subitamente de "um paraíso" a "um inferno", segundo o primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, que sempre a visita no verão desde 1974.

Adrian Pracon, que recebeu um tiro no ombro esquerdo, contou no hospital ao canal australiano ABC: "atirava contra a gente quase que à queima-roupa. Estava a dez metros de mim, podia ouvir sua respiração, e disparava também contra as pessoas que iam para a água".

"Tinha um fuzil M16 (...) Quando o vi gritando que ia nos matar, parecia ter saído de um filme sobre nazistas ou algo assim", acrescentou o jovem, de 21 anos. "Com um chute nos corpos, ele comprovava se as pessoas estavam vivas, se não, voltava a atirar".

Em um longo "post" publicado em seu blog Khamshajiny - "Kamzy"- Gunaratnam conta os esforços desesperados que fez com seus companheiros para se esconder, esquivar do atacante, e fugir das balas correndo entre rochas e arbustos.

"Corríamos e corríamos. O pior é saber que quem disparava estava com uniforme policial. Em quem poderíamos confiar? indaga a jovem de 23 anos. Só depois das sete horas da noite é que chegou de helicóptero um comando da polícia norueguesa, que capturou o suspeito.

Kamzy e seu amigo Matti conseguiram nadar mais de 700 metros, em meio a balas disparadas pelo atacante. Uma embarcação os resgatou. "Não consigo derramar uma só lágrima", diz Kamzy. "Não posso acreditar; hoje, estive a ponto de morrer".

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