Coronavírus: Mais de 1.300 pessoas foram infectadas globalmente com vírus encontrado em um mercado de frutos do mar (Stringer/Anadolu Agency/Getty Images)
Reuters
Publicado em 25 de janeiro de 2020 às 10h49.
Última atualização em 27 de janeiro de 2020 às 12h04.
PEQUIM (Reuters) - O número de mortos pelo surto de coronavírus na China saltou para 41 neste sábado, marcando um começo sombrio para o Ano Novo Lunar no país asiático, com Hong Kong declarando uma emergência de vírus, cancelando celebrações e restringindo as ligações à China continental.
A Austrália confirmou neste sábado seus quatro primeiros casos, a Malásia confirmou três e a França relatou os primeiros casos da Europa na sexta-feira, enquanto as autoridades de saúde de todo o mundo lutam para evitar uma pandemia.
A líder executiva de Hong Kong, Carrie Lam, declarou no sábado uma emergência de vírus no centro financeiro asiático, com cinco casos confirmados, interrompendo imediatamente as visitas oficiais à China continental e suspendendo as celebrações oficiais do Ano Novo Lunar.
Os voos de entrada e saída e as viagens de trem de alta velocidade entre Hong Kong e Wuhan, o epicentro do surto, serão suspensos e as escolas, agora no feriado do Ano Novo Lunar, permanecerão fechadas até 17 de fevereiro. O território também tratava 122 pessoas com suspeita de ter a doença.
O número de mortos na China subiu para 41 neste sábado, ante 26 no dia anterior, e mais de 1.300 pessoas foram infectadas globalmente com um vírus encontrado em um mercado de frutos do mar na cidade central de Wuhan, que vendia ilegalmente animais silvestres.
Hu Yinghai, vice-diretor geral do Departamento de Assuntos Civis da província de Hubei, onde fica Wuhan, fez um apelo no sábado por máscaras e roupas de proteção. Os hospitais da cidade fizeram pedidos semelhantes.
"Estamos constantemente avançando no controle e prevenção de doenças ... Mas agora estamos enfrentando uma crise de saúde pública extremamente grave", disse ele em entrevista coletiva.
Os veículos que transportam suprimentos de emergência e equipes médicas para Wuhan estão isentos de pedágios e vão receber prioridade no trânsito, informou o Ministério dos Transportes da China neste sábado.
Wuhan disse que proibiria veículos não essenciais do centro da cidade a partir de domingo para controlar a propagação do vírus, paralisando ainda mais uma cidade de 11 milhões de pessoas que está em confinamento virtual desde quinta-feira, com quase todos os voos cancelados e postos de controle bloqueando as principais estradas fora da cidade.
Autoridades impuseram restrições de transporte a quase toda a província de Hubei, que tem uma população de 59 milhões.
Na Austrália, três homens, com 53, 43 e 35 anos, em Nova Gales do Sul, estavam em condições estáveis após terem confirmado o vírus depois de voltarem de Wuhan no início deste mês.
Um cidadão chinês na casa dos 50 anos, que estava em Wuhan, também estava em condições estáveis em um hospital de Melbourne depois de chegar da China em 19 de janeiro, disseram autoridades da Victoria Health.
A rede estatal China Global Television informou no Twitter neste sábado que um médico que estava tratando pacientes em Wuhan, Liang Wudong, 62 anos, morreu do vírus.
Não ficou claro imediatamente se sua morte já foi incluída no número oficial de 41, dos quais 39 estavam na província central de Hubei, onde Wuhan está localizada.
A rede de cafeterias norte-americana Starbucks disse neste sábado que estava fechando todos os seus pontos de venda na província de Hubei para o feriado de Ano Novo Lunar de uma semana, após um movimento semelhante do McDonald's em cinco cidades de Hubei.
Em Pequim, neste sábado, trabalhadores em trajes de proteção brancos verificaram a temperatura dos passageiros entrando no metrô na estação ferroviária central, enquanto alguns serviços de trem na região do delta do rio Yangtze, no leste da China, foram suspensos, disse a operadora ferroviária local.
O número de casos confirmados na China é de 1.287. O vírus também foi detectado na Tailândia, Vietnã, Cingapura, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Nepal e Estados Unidos.
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA disseram na sexta-feira que tinham 63 pacientes sob investigação, com dois casos confirmados.
Embora a China tenha pedido transparência na gestão da crise, após a disseminação da Síndrome Respiratória Aguda Grave de 2002/2003, as autoridades de Wuhan foram criticadas por lidar com o atual surto.
Em rara dissidência pública, um jornalista sênior de um jornal provincial de Hubei, dirigido pelo Partido Comunista, pediu na sexta-feira uma mudança "imediata" de liderança em Wuhan, em publicação no Weibo, semelhante ao Twitter. A publicação foi removida posteriormente.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o novo coronavírus uma "emergência na China" esta semana, mas decidiu não declará-lo como preocupação internacional.
A transmissão de humano para humano foi observada no vírus.
A Comissão Nacional de Saúde da China disse que formou seis equipes médicas, totalizando 1.230 profissionais da saúde para ajudar Wuhan.
A província de Hubei, onde as autoridades estão correndo para construir um hospital com 1.000 leitos em seis dias para tratar pacientes, anunciou neste sábado que havia 658 pacientes afetados pelo vírus em tratamento, 57 dos quais estavam gravemente doentes.
O coronavírus recém-identificado criou alarme porque ainda existem muitas incógnitas em torno dele, como o quão perigoso é e com que facilidade se espalha entre as pessoas. Pode causar pneumonia, que foi mortal em alguns casos. Os sintomas incluem febre, dificuldade em respirar e tosse. A maioria das mortes ocorreu em pacientes idosos, muitos com condições pré-existentes, segundo a OMS.
Os aeroportos de todo o mundo intensificaram a triagem de passageiros da China, embora algumas autoridades e especialistas em saúde tenham questionado a eficácia de tais triagens.
Há temores de que a transmissão acelere com as viagens chinesas durante o feriado de Ano Novo Lunar, que começou neste sábado, embora muitos tenham cancelado seus planos, com companhias aéreas e ferrovias na China oferecendo reembolsos gratuitos.
O surto de vírus e os esforços para contê-lo prejudicaram o que normalmente é uma época festiva do ano.
Sanya, um popular destino turístico na ilha de Hainan, no sul da China, anunciou que estava fechando todos os locais turísticos, enquanto a capital da ilha, Haikou, disse que os visitantes de Wuhan seriam colocados em quarentena de 14 dias em um hotel.
A Disneylândia de Xangai foi fechada a partir deste sábado. O parque temático tem uma capacidade diária de 100.000 pessoas e as entradas esgotaram durante o feriado de Ano Novo Lunar do ano passado.
O Templo do Lama, de Pequim, onde as pessoas tradicionalmente fazem oferendas para o ano novo, também fechou, assim como outros templos.
Por Sophie Yu, Yilei Sun, Judy Hua, Roxanne Liu, Se Young Lee and Cate Cadell; reportagem adicional de Lidia Kelly em Melbourne, Yawen Chen em Pequim e Felix Tam em Hong Kong