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Número de moradores de rua cresce 75% em Los Angeles nos últimos seis anos

No último ano, o número de pessoas em situação de rua cresceu 23% e muitas pessoas relatam dificuldades em conseguir um trabalho na cidade

Los Angels: "É triste, mas vou me recuperar. Alguém me dará uma oportunidade. Pedi trabalho em quase 30 lugares. Não deveria custar tanto encontrar algo", diz jovem de 20 anos (David McNew/Getty Images)

Los Angels: "É triste, mas vou me recuperar. Alguém me dará uma oportunidade. Pedi trabalho em quase 30 lugares. Não deveria custar tanto encontrar algo", diz jovem de 20 anos (David McNew/Getty Images)

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EFE

Publicado em 16 de abril de 2018 às 10h44.

Última atualização em 16 de abril de 2018 às 11h26.

Los Angeles - Los Angeles é a capital mundial do entretenimento. Esse mantra é escutado em todo jogo dos Lakers no Staples Center, e cerimônias cheias de glamour como o Oscar, os Emmy e os Grammy o comprovam. Mas há uma face oculta: esta também é a cidade dos sem-teto.

O número de pessoas vivendo na rua ou em albergues do condado de Los Angeles aumentou 75% nos últimos seis anos, de 32.000 para quase 58.000.

O aumento foi de 23% apenas no último ano, segundo números oficiais do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano, que apontam o distrito de Skid Row (ao leste do centro financeiro da cidade) como o principal foco de um problema que, nos últimos anos, se estende também a áreas tão populares como Hollywood.

Os números falam de 553.742 pessoas sem-teto nos Estados Unidos. Nova York é a cidade onde se concentra a maior quantidade (76.501), mas 95% deles encontra abrigo.

Em Los Angeles, por outro lado, três de cada quatro não têm onde passar a noite. Apenas outra grande cidade do país tem uma porcentagem maior: Fresno (75,8%).

Harmony, uma jovem de cerca de 20 ano que aparenta o dobro de idade, está nessa situação. Há vários meses vive em um posto de gasolina a poucos metros do hotel Chateau Marmont.

"Fui demitida e não tinha dinheiro para pagar onde estava", disse à Agência Efe enquanto criticava o vertiginoso aumento dos preços dos imóveis no condado.

"Não me drogo nem bebo. É triste, mas vou me recuperar. Alguém me dará uma oportunidade. Pedi trabalho em quase 30 lugares. Não deveria custar tanto encontrar algo", acrescentou.

Nessa mesma localização passa o dia Rick Lomas, de 67 anos, ajudando motoristas e transeuntes com suas indicações.

Lomas perdeu seu trabalho há dois anos em Van Nuys (Califórnia) por consumo de drogas, mas assegura que tem um lugar onde passar as noites de forma tranquila.

"Sou feliz simplesmente sabendo que estou longe do perigo e que não vão me dar uma surra", contou à Efe sem perder o sorriso.

A apenas um quarteirão do Teatro Dolby, onde acontece a premiação da Academia de Cinema de Hollywood, várias barracas de campanha se amontoam aos pés de um antigo edifício da AT&T que em breve reabrirá.

Semanas atrás essa região acolhia cerca de 50 pessoas, mas esse número se reduziu após a intervenção da polícia.

"Nos veem como seus inimigos, mas nós não queremos sê-lo", comentou à Efe Darren Johnson, de 65 anos, um sem-teto que permanece nessa calçada após ter sido desesperançado.

"Nesta cidade não para de haver novas e enormes construções, mas casas acessíveis, nada de nada", lamentou.

Eric Garcetti, prefeito de Los Angeles, afirmou que pretende reduzir metade da população sem-teto e sem abrigo na cidade (25.237, segundo a última apuração) a "um zero operacional" até o ano 2028 através da medida H e da proposta HHH, aprovadas nas urnas em 2016.

Essas resoluções preveem destinar US$ 1,2 bilhão de dinheiro público à construção de 10.000 casas.

"Até 2028 falta muito. Precisamos de ações agora", disseram Vicky e Moses, mãe e filho, deitados em sacos de dormir em Poinsettia Place, justamente em frente ao edifício onde opera a emissora "OWN", de Oprah Winfrey.

Moses perdeu o trabalho que lhe permitia viver em um apartamento com sua mãe e, desde então, ambos esperam uma ajuda para resolver sua situação.

"Para nos expulsar, a polícia nos impõe multas que sabem que não podemos pagar. E, mesmo que nos expulsem, para onde vamos? Quem dera tivéssemos imóveis mais acessíveis. Nós tentamos, mas sempre surgem problemas e acabam não estando disponíveis", comentou Vicky.

Nessa área surgiu outro acampamento de barracas de campanha nas últimas semanas.

Ali, no que considera uma "zona de segurança", também chegou Vince Williamz, um artista de 27 anos que perdeu tudo, inclusive sua ex-mulher e dois filhos, após um crime de usurpação de identidade e assédio.

"Toda vez que tento me recuperar, algo ruim me acontece. Lá onde vou, me prendem. Há muita gente que quer viver assim, mas eu estou querendo sair desta situação", garantiu.

Na semana passada, Garcetti reivindicou mais dinheiro ao estado da Califórnia para fazer frente a esta situação e solicitou ajudas no valor de US$ 1,5 bilhão, uma quantia que procederia do excedente de US$ 6 bilhões com o qual conta o governador Jerry Brown para o orçamento do ano que vem.

Garcetti pretende empregar esse dinheiro em programas que ajudem os sem-teto a sair dessa situação e começar a estruturar suas vidas enquanto são construídas as casas prometidas.

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