Mundo

Novo premiê toma posse hoje no Haiti, após renúncia do interino

O acordo encerra uma luta pelo poder entre os dois homens, que vinham disputando apoio internacional e interno a suas reivindicações pelo cargo

 (Andres Martinez Casares/Reuters)

(Andres Martinez Casares/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de julho de 2021 às 09h04.

O Haiti terá nesta terça-feira, 20, um novo governo liderado por Ariel Henry como primeiro-ministro - a quem o presidente Jovenel Moise havia nomeado dois dias antes de ser assassinado -, após o premiê interino, Claude Joseph, concordar em deixar o poder, "pelo bem do país".

O acordo encerra uma luta pelo poder entre os dois homens, que vinham disputando apoio internacional e interno a suas reivindicações pelo cargo, e neutraliza uma turbulenta crise política no país caribenho desde o assassinato do presidente, no dia 7.

Joseph afirmava que Henry, um neurocirurgião de 71 anos, ainda não havia sido juramentado para o cargo e não tinha o direito de ser o líder interino. Logo após o assassinato de Moise, Joseph declarou que estava no comando do país e decretou estado de emergência.

A disputa pelo poder provocou uma crise política que deixou especialistas constitucionais confusos e diplomatas preocupados com um amplo colapso social que poderia desencadear a violência ou levar os haitianos a fugir em massa do país, como fizeram após desastres naturais, golpes ou outros períodos de profunda instabilidade.

A decisão de Joseph foi tomada em meio a pressão de países estrangeiros, entre eles os Estados Unidos, que há muito tempo exercem enorme influência no país. No fim de semana, a reivindicação de Henry recebeu o apoio de embaixadores de Brasil EUA, Alemanha, Canadá, Espanha, França, União Europeia, assim como da representante especial da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da representante especial do secretário-geral da ONU. Em um comunicado, o grupo pediu no sábado "a formação de um governo consensual e inclusivo".

"Com este propósito, (o grupo) incentiva encarecidamente o primeiro-ministro designado Ariel Henry a continuar a missão que lhe foi confiada para formar esse governo", acrescentaram os embaixadores.

Os EUA celebraram ontem a notícia e pediram a criação de uma coalizão "inclusiva", que traga estabilidade ao país. "Ficamos animados em ver os atores políticos e civis haitianos trabalhando para formar um governo de união que possa estabilizar o país e sentar as bases para eleições livres e justas", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price.

Membros da sociedade civil haitiana criticaram duramente nos últimos dias a comunidade internacional por apoiar Henry e insistiram na criação de um novo governo interino desvinculado dos tradicionais partidos políticos do Haiti. Muitos haviam pedido a renúncia de Moise, alegando que ele estava aliado às gangues violentas que aterrorizaram o país, e disseram que não reconheceriam um líder interino nomeado por Moise.

O novo governo, que enfrenta múltiplos desafios em razão da atual crise institucional e de segurança no país, terá a tarefa de organizar eleições o mais rápido possível. Moise governava o Haiti por decreto depois que as eleições legislativas de 2018 foram adiadas em razão de disputas, e até agora o país não tem uma legislatura em exercício.

Além das eleições presidenciais, parlamentares e locais, o Haiti deve realizar um referendo constitucional em setembro, depois que a consulta foi adiada duas vezes pela pandemia do coronavírus.

O funeral de Moise, assassinado aos 53 anos por um comando armado, será realizado na sexta-feira. Sua mulher, Martine Moise ferida no mesmo ataque, voltou no sábado para o funeral em Porto Príncipe, depois de se recuperar em um hospital de Miami.

Investigações

A investigação sobre o assassinato de Moise continua, com o apoio técnico da policial federal americana, o FBI, e da Colômbia.

A polícia haitiana prendeu cerca de 20 militares aposentados colombianos que trabalhavam como mercenários e afirma ter descoberto um complô organizado por um grupo de haitianos, incluindo um ex-senador atualmente procurado e um pastor médico radicado na Flórida.

No entanto, há muitas dúvidas, especialmente sobre a possível cumplicidade de autoridades haitianas no atentado, o que explicaria a aparente facilidade com a qual o comando realizou sua missão.

Na sexta-feira, a polícia colombiana identificou o ex-funcionário do Ministério da Justiça haitiano Joseph Felix Badio como o responsável direto de ordenar aos mercenários colombianos que matassem Moise. Segundo o general Jorge Luis Vargas, chefe da Polícia Nacional da Colômbia, Badio havia se reunido com dois mercenários - Duberney "Capador" e Germán Rivera, o primeiro foi morto e o segundo está preso - para dizer que sua missão era capturar Moise, mas três dias antes da operação lhes disse que tinham de assassinar o presidente.

Segundo Vargas, Badio trabalhava na luta contra a corrupção juntamente com o serviço de inteligência haitiano. A investigação ainda não determinou se Badio atuou seguindo ordens nem os motivos pelos quais decidiu matar o presidente. Os mercenários afirmam que tinham sido contratados com a missão de deter Moise e entregá-lo à agência antidrogas dos EUA (DEA).

Acompanhe tudo sobre:CaribeCrise políticaHaitiONUPolítica

Mais de Mundo

Domo de Ferro, Arrow, C-Dome e Patriot: Conheça os sistemas de defesa aérea utilizados por Israel

Smartphones podem explodir em série como os pagers no Líbano?

ONU diz que risco de desintegração do Estado de Direito na Venezuela é muito alto

Quem é Ibrahim Aqil, comandante do Hezbollah morto em ataque de Israel a Beirute