Indígenas: projeto ajuda comunidades locais a promoverem leis que protejam suas terras e recursos (Mario Tama/Getty Images)
AFP
Publicado em 3 de outubro de 2017 às 10h45.
Última atualização em 3 de outubro de 2017 às 10h49.
Os povos originários que lutam por conservar ou recuperar as florestas onde viveram durante gerações passarão a contar com o apoio de uma organização global, por meio da criação de um fundo para que se reconheçam seu direito à terra.
Nesta terça-feira (3), foi lançado em Estocolmo o Fundo Internacional para a Posse de Terras e Bosques (Tenure Facility), a primeira instituição mundial dedicada aos direitos de propriedade das comunidades indígenas.
Financiada por Suécia, Noruega e pela americana Fundação Ford, a organização já concedeu recursos e assessoria a projetos piloto no Peru, em Mali e na Indonésia, ajudando comunidades locais a promoverem leis que protejam suas terras e recursos.
Um de seus projetos atuais envolve comunidades do departamento de Madre de Dios, uma zona de bosques tropicais no Peru, e os habitantes do território Maje Embera Drua, no Panamá.
As disputas sobre os direitos de propriedade da terra em florestas tropicais que abrigam recursos como madeira, pedras preciosas e jazidas de petróleo podem escalar rapidamente e se transformar em sangrentos conflitos.
Cerca de 200 ambientalistas, metade originária de tribos indígenas, foram assassinados em 2016, apontam dados da ONG Global Witness.
A restauração de medidas para que as populações originárias controlem os bosques frente à apropriação de governos corruptos, ou à ação da indústria extrativista, também se revelou uma forma efetiva de lutar contra o aquecimento global, segundo pesquisa publicada em 2014 pelo Instituto Mundial sobre Recursos, um centro de estudos com sede nos Estados Unidos.
No Brasil, por exemplo, o desmatamento das terras pertencentes a comunidades indígenas entre 2000 e 2012 foi de menos de 1%, contra 7% em outros territórios.
A vegetação tropical absorve o CO2 emitido na combustão de fontes de energias fósseis. Ao destruir essas áreas, não apenas se reduz a superfície disponível para mitigar esses efeitos como se emite mais CO2 para a atmosfera.
"Nós vemos a mudança climática e as desigualdades como duas das ameaças existenciais que o planeta enfrenta", disse o presidente da Fundação Ford, Darren Walker.
"Criar mecanismos que permitam à população indígena e às comunidades locais ganhar mais direitos de posse de suas terras, ou bosques, é uma forma de abordar ambos os problemas", disse Walker à AFP em uma conferência antes do lançamento.
Walker prometeu 5 milhões de dólares e espera que a iniciativa consiga reunir 100 milhões de dólares em um ano.
O projeto tem como objetivo impulsionar, na próxima década, a concessão de títulos de propriedade a povos originários em 40 milhões de hectares, uma área que equivale à metade do tamanho da Espanha.
Segundo os cálculos dos promotores da iniciativa, esse tipo de esforço pode impedir o desmatamento de um milhão de hectares, assim como a emissão de 500 toneladas de CO2. Esse volume equivale às emissões em um ano de países como Reino Unido, ou Brasil.
O fundo "traz uma solução importante para salvar os bosques do mundo", disse Carin Jamtin, diretora-geral da Agência Sueca de Desenvolvimento Internacional, um sócio-chave do projeto.
Mais de 2 bilhões de pessoas vivem e administram metade das terras do planeta segundo costumes e sistemas tradicionais, mas as comunidades indígenas têm direitos legais de propriedade de apenas 10% dessas terras.