"O corpo de um menino de 10 anos foi encontrado entre os escombros", disse o ministro ucraniano do Interior (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 6 de outubro de 2023 às 11h39.
Um bombardeio russo matou, nesta sexta-feira, 6, um garoto de 10 anos e sua avó, em Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, um dia depois de a mesma região ter sofrido os ataques mais letais contra civis desde o início da invasão.
"O corpo de um menino de 10 anos foi encontrado entre os escombros", disse o ministro ucraniano do Interior, Igor Klymenko, no Telegram, acrescentando que a avó do garoto também morreu.
O governador regional, Oleg Synegubov, informou que pelo menos 28 pessoas ficaram feridas, incluindo um bebê de 11 meses que é membro da família das duas vítimas mortais.
Dois edifícios residenciais foram danificados, e outro, de três andares, foi destruído. Segundo a polícia, ambos os prédios foram atingidos por dois mísseis balísticos Iskander.
Um fotógrafo da AFP viu o que parecia ser o fragmento de um dos mísseis no fundo de uma grande cratera, em uma das ruas do centro da cidade, que ficou cheia de destroços e de veículos civis virados, ou queimados.
Na véspera, pelo menos 52 pessoas, incluindo uma criança de seis anos, morreram em um bombardeio em Groza, também na região de Kharkiv, onde os moradores se reuniram para o velório de um soldado, conforme o último balanço divulgado pelo governador.
O ataque se deu em plena luz do dia e atingiu uma loja e uma cafeteria localizadas no mesmo edifício, onde estavam presentes cerca de 60 pessoas.
Naquele momento, Serguii Pletinka, um soldado de 34 anos que se encontrava de licença, estava na casa dos pais, em frente à cafeteria.
"Corri e cheguei primeiro (...) ouvi uma mulher gritando. Ela estava presa entre uma geladeira e uma parede que desabou", contou.
Logo cedo nesta sexta-feira, bombeiros, equipados com pás e gruas, retiravam os escombros.
Oleksii, um morador, foi com sua família ao cemitério, situado na entrada da localidade, para delimitar a área, onde serão enterrados seu irmão e sua cunhada, mortos no bombardeio.
"Não sei quando poderemos enterrá-los. O corpo do meu irmão estava inteiro, mas o da sua mulher estava sem a cabeça", disse ele à AFP.
Em uma das ruas do cemitério, o túmulo do soldado Andrii Kozyr estava coberto de flores e de uma bandeira ucraniana. Os moradores que participaram de seu funeral haviam-se reunido na cafeteria atingida pelo bombardeio.
"Todos que estavam no funeral morreram. Isso aconteceu logo depois que as pessoas entraram na cafeteria", disse Valentina Koziïenko, de 73 anos. Ela mora do outro lado da rua.
"Como os russos sabiam que haveria tantas pessoas lá? Talvez alguém tenha contado para eles", afirmou.
Na véspera, o policial encarregado da investigação, Serguii Bolvinov, disse à AFP que uma das hipóteses que sua equipe está considerando é "que alguém tenha dado as coordenadas [da cafeteria] para os russos".
"Nosso trabalho é averiguar, se alguém pode ter dado essas coordenadas, sabendo que, naquela hora, havia uma reunião" naquele local, acrescentou.
O bombardeio sobre Groza foi denunciado pela comunidade internacional, que pediu o fim dos ataques contra civis.
Segundo a ONU, "tudo sugere" que foi um míssil russo que atingiu a cidade, onde viviam cerca de 330 pessoas antes da tragédia.
Ao ser questionado sobre o bombardeio, o Kremlin afirmou que o governo russo ataca apenas "alvos militares", e não civis.
"Estas duas atrocidades provam que o apoio mundial à Ucrânia deve ser mantido e reforçado. Enfraquecê-lo levaria apenas a mais crimes de guerra deste tipo", defendeu o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba, nesta sexta.
Seu apelo coincide com um momento de crise política nos Estados Unidos, que poderá levar a uma redução das ajudas (militar e econômica) para essa antiga república soviética - uma possibilidade que preocupa Kiev e seus aliados ocidentais.
Também hoje, de madrugada, foram reportados ataques de drones no centro, no nordeste e no sul da Ucrânia. As autoridades locais afirmaram terem derrubado, durante a noite, 25 dos 33 drones Shahed, de fabricação iraniana, enviados da Rússia para seu território.
O governador da região de Odessa (sul), Oleg Kiper, disse que um depósito de grãos na cidade portuária de Izmail foi danificado por drones e que nove caminhões foram incendiados. O porto de Izmail, às margens do Danúbio, costuma ser alvo de ataques russos. A Ucrânia usa essa infraestrutura para exportar seus produtos agrícolas, em particular trigo