Bomba de gasolina: esboço da proposta propõe corte de quase 6 por cento no volume de etanol a ser misturado à gasolina em 2014 (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 11 de outubro de 2013 às 17h19.
São Paulo - A possibilidade da agência ambiental dos Estados Unidos reduzir a mistura obrigatória de combustíveis renováveis no país em 2014 acende luz amarela para a indústria de etanol do Brasil e reduz a perspectiva de exportação do biocombustível, avaliaram especialistas do setor.
"O documento indica uma luz amarela nas exportações de etanol do Brasil na safra 2014, que começa a se desenhar", disse o analista Intl FCStone, Renato Dias.
Um esboço da proposta da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) propõe corte de quase 6 por cento no volume de etanol a ser misturado à gasolina em 2014, sob a justificativa de uma oferta inadequada do biocombustível.
O uso total de combustíveis renováveis cairia para apenas 15,21 bilhões de galões, muito abaixo da meta de 18,15 bilhões de galões para 2014 estabelecidos na lei de 2007, mostraram os documentos.
Em resposta à divulgação do esboço pela Reuters e por outros veículos de imprensa, a administração da EPA veio a público nesta sexta-feira dizer que ainda não existe uma decisão final sobre o assunto.
Qualquer proposta de mudança na mistura ainda será avaliada na Casa Branca, passará pelo Congresso norte-americano e por debate público.
As determinações da EPA incluem volumes específicos para os chamados biocombustíveis avançados, menos poluentes, o que inclui biodiesel, etanol celulósico e de cana --do qual o Brasil é o maior produtor mundial.
Os EUA são grandes produtores de etanol de milho, mas uma quebra de safra no ano passado reduziu a disponibilidade do grão e abriu espaço para o Brasil reforçar os embarques.
Dados compilados pela FCStone indicam que as exportações de etanol somaram pouco mais de 3 bilhões de litros em 2012, dos quais cerca de 2 bilhões de litros foram para os EUA.
Neste ano, as exportações também vieram firmes, com embarques de 2,3 bilhões de litros até setembro, dos quais 1,4 bilhões de litros, foram para os EUA.
No entanto, o avanço recente da colheita nos EUA fecha a janela para a exportação brasileira de etanol.
O analista da FCStone acrescentou que os volumes, no fechamento de 2013, devem se menores, em meio a uma recuperação da safra norte-americana, que eleva a disponibilidade do cereal para a produção de etanol, e a uma menor demanda importadora.
Retrocesso
O presidente da consultoria Datagro, Plinio Nastari, ponderou que o governo norte-americano vem sendo pressionado por setores industriais para reduzir o volume de etanol em mandato, sob a alegação de baixa disponibilidade do biocombustível.
"Mas as indicações são de que há farta disponibilidade tanto local como por importação... Se houver uma decisão de reduzir o mandato será um retrocesso e um prejuízo ao meio ambiente", disse Nastari.
O Brasil tem condições participar do mercado americano de forma complementar, disse ele.
Uma eventual redução do uso de biocombustíveis nos EUA seria uma perda não só para o Brasil, porque as políticas norte-americanas no setor têm servido de exemplo para outros países, ponderou Nastari.
"Será uma pena para todos os países que estão desenvolvendo mercados de etanol, buscando uma maior integração dos mercados de combustíveis. Não só o Brasil. Seria uma pena para o Peru, Colômbia, Paraguai, Argentina, El Salvador Costa Rica, Nicarágua", acrescentou.
O impacto de uma eventual redução da mistura nos EUA poderia ser contornado pela indústria brasileira, na opinião de Nastari, uma vez que o consumo interno cresce a uma taxa anual de 5 por cento desde 2000.
Para o gestor de riscos da Archer Consulting, Arnaldo Luiz Corrêa, a proposta da EPA não surpreende, sendo similar à medida recente adotada na União Europeia que restringiu o uso de biocombustíveis na tentativa de não interferir na produção de alimentos.
Da mesma forma que o presidente da Datagro, Corrêa considera que uma eventual redução na exportação de etanol tende a ter efeito limitado sobre a indústria, uma vez que o consumo interno segue firme trajetória no Brasil.