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Nova ordem econômica mundial: o lastro do ouro é relançado

Presidente do Banco Mundial defende volta do padrão-ouro para as cotações das moedas; especialistas veem limites para a mudança

O ouro atingiu a cotação recorde de US$ 1400 a onça nesta segunda (Yoshikazu Tsuno/AFP)

O ouro atingiu a cotação recorde de US$ 1400 a onça nesta segunda (Yoshikazu Tsuno/AFP)

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Da Redação

Publicado em 8 de novembro de 2010 às 16h21.

Paris - O ouro, que perdeu seu papel de padrão, nas trocas intenacionais há 40 anos, começa a desempenhar um novo papel na nova ordem mundial que será debatida por chefes de Estado de grandes países emergentes e desenvolvidos do G20, afirmou o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick.

Em artigo publicado a três dias da cúpula do G20 em Seul, Zoellick afirma que o mundo precisa de um novo sistema para suceder ao que ele chama de "Bretton Woods II", o regime de trocas flutuantes em vigor desde o final, em 1971, da convertibilidade do dólar em ouro.

Segundo o presidente do Banco Mundial, este novo quadro "deveria incluir o dólar, o euro, o iene, a libra esterlina e o renminbi (iuane chinês)".

Mas "o sistema deveria também considerar empregar o ouro como um ponto de referência internacional ligado às previsões do mercado e de valor futuro das moedas", lançou o Financial Times nesta segunda-feira.

"A ideia é utilizar o ouro como um novo indicador de inflação", descreveu Cédric Tille, professor de economia no Instituto de Altos Estudos Internacionais e do Desenvolvimento de Genebra.

A onça do ouro subiu nos últimos dias a níveis nunca antes atingidos, ultrapassando pela primeira vez nesta segunda-feira o patamar de 1.400 dólares, sustentado pelo enfraquecimento do dólar suscitado pelo anúncio de medidas de retomada econômica do Federal Reserve americano (Fed, o banco central).

A ideia de "reintroduzir do ouro no sistema" não é, em si, mau, considera Jean Pisani-Ferry, diretor do 'think tank' europeu Bruegel.


"No sistema monetário atual, os bancos centrais vigiam as taxas de inflação, ancorada nos preços dos bens, mas não vigiam os preços globais de matérias-primas", explica. Numa reforma do sistema, tal como o preconizado por Zoellick, "poderiam também reagir em função das variações dos preços do ouro", acrescenta o economista.

De passagem, Pisani-Ferry destaca que as propostas do presidente do Banco Mundial são, antes de mais nada, "políticas": no dia seguinte da derrota dos democratas nas eleições de metade do mandato nos Estados Unidos, "ele se dirige aos republicanos, que são tradicionalmente muito interessados no ouro".

Mas os economistas não imaginam uma volta completa ao padrão ouro. "Não é a oferta do ouro que pode regular o crescimento hoje", segundo o diretor do Bruegel.

"Vimos os limites deste tipo de sistema", lembra René Defossez, analista da casa Natixis.

O sistema monetário lastreado no ouro ruiu no começo da Primeira Guerra Mundial, com os países não dispondo mais de reservas suficientes do metal precioso para trocar contra o excesso de divisas impressas pelos governos.

O padrão ouro regrediu então até que os Estados Unidos puseram fim, em 1971, à convertibilidade em ouro do dólar.

"Um tal sistema tem a desvantagem de ser submetido à extração do metal", destaca Gunther Cappelle-Blancard, professor da Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne. "E o ouro está relativamente mal distribuído no planeta, o que daria um peso muito importante aos países que o produzem", acrescentou.

Para este economista, retornar ao padrão ouro seria, além disso, "uma reforma estrutural difícil de executar".

"O sistema atual não é de todo mau, embora nem todos joguem o mesmo jogo", considera ele, defendendo, antes de tudo, um "reforço da cooperação com a China para que o país reajuste sua taxa de câmbio".

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