Ministra francesa da Saúde, Marisol Touraine: vítima de acidente vascular cerebral que diz ter sido causado pela pílula que tomava (AFP/ Jean-Francois Monier)
Da Redação
Publicado em 3 de janeiro de 2013 às 20h39.
Paris - As pílulas anticoncepcionais de nova geração, usadas maciçamente pelas francesas, apesar de algumas atribuírem a elas graves problemas de saúde, estão no centro de uma polêmica, e autoridades sanitárias pediram aos médicos que restrinjam sua prescrição.
O tema dominou a primeira página dos jornais esta quinta-feira, prova da importância deste assunto em um país onde a metade das mulheres de 15 a 49 anos toma a pílula e onde vários escândalos sanitários têm envolvido autoridades.
O ministério da Saúde, que já tinha decidido suspender a partir de 30 de setembro de 2013 o reembolso pela seguridade social das pílulas de terceira e quarta geração, hoje utilizadas de 1,5 a 2 milhões de mulheres, anunciou na quarta-feira que antecipará a medida para 31 de março.
A polêmica surgiu após o processo de uma paciente, vítima de acidente vascular cerebral que diz ter sido causado pela pílula que tomava, e do anúncio de novos processos pelo advogado de umas trinta mulheres.
Um dos casos diz respeito a uma mulher falecida, enquanto outras tiveram sequelas importantes, como tetraplegia, hemiplegia (paralisia de um dos lados do corpo), epilepsia e afasia (perda da linguagem).
Surgidas no mercado a partir dos anos 1990, as pílulas denominadas de terceira e quarta geração diferem dos anticoncepcionais mais antigos pela natureza dos progestativos usados e geralmente causam menos efeitos colaterais danosos.
Seu uso, no entanto, demonstrou apresentar um risco crescente de tromboses venosas (flebites e embolias pulmonares) na proporção de quatro casos por 10.000 contra 2 por 10.000 nas pílulas antigas.
No entanto, os riscos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) são equivalentes sem importar o tipo de pílula usada e dependem de fatores de risco associados, como tabagismo, sobrepeso ou diabetes.
Nos Estados Unidos já foram apresentados 12.500 processos contra a pílula Yaz (de quarta geração), do laboratório Bayer.
A ministra francesa da Saúde, Marison Touraine, desejou esta terça-feira que "a pílula de segunda geração seja sistematicamente privilegiada, salvo em situações particulares" e que "as pílulas de terceira e quarta geração não (sejam) mais propostas como primeira opção".
O diretor-geral da Autoridade Francesa de Medicamentos (ANSM), Dominique Maraninchi, planeja limitar a prescrição destas últimas a ginecologistas, enquanto atualmente a maioria das mulheres recebem a receita de seus clínicos gerais.
Marianinchi deixou no ar a ameaça de retirar do mercado estas pílulas se seu consumo não cair rápido o suficiente.
Mas alguns profissionais se preocupam com o aumento de precauções, o que pode provocar, segundo eles, a condenação dos anticoncepcionais em geral.
"Não se deve demonizar a pílula", declarou Véronique Séhier em nome do movimento Planning Familial, que promove a anticoncepção.
"É preciso ter medo da pílula?", intitulou o jornal popular Le Parisien, que publicou em especial o testemunho de uma mulher, Isabelle Ngo-Mougeot, que acusa a pílula de terceira geração de ter "matado" sua filha.
As autoridades sanitárias são acusadas também de ter deixado no mercado o Mediator, medicamento destinado a diabéticos com sobrepeso, às vezes prescrito como moderador de apetito, suspeito de ter provocado em 30 anos (até sua retirada, em 2009) a morte de 500 a 2.000 pessoas.
As autoridades também são suspeitas de falhar na missão de controle dos produtos de saúde, desde que estourou, no final de 2011, o escândalo mundial das próteses mamárias PIP, fabricadas com silicone adulterado por um industrial francês.