Mundo

Nos EUA, CNI defende Pix e diz que sistema beneficia empresas americanas: 'É igual ao FedNow'

Roberto Azevêdo falou em nome da CNI em sessão que é parte de investigação sobre práticas comerciais brasileiras

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 3 de setembro de 2025 às 15h27.

Última atualização em 3 de setembro de 2025 às 15h41.

O Pix beneficia as empresas americanas, é semelhante a um sistema criado nos EUA e não gera ameaças ao país. A defesa do sistema foi feita nesta quarta-feira, 3, durante uma audiência em Washington, sobre as práticas comerciais brasileiras, pelo embaixador Roberto Azevêdo, consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A sessão foi realizada na sede do escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR), órgão federal que abriu uma investigação sobre as práticas comerciais do Brasil, a pedido do presidente Donald Trump. Além da CNI, cerca de 40 entidades haviam se inscrito para discursar, entre instituições brasileiras e americanas.

Azevêdo fez um pronunciamento em defesa do Brasil na audiência, e buscou refutar as críticas feitas pelos americanos em seis áreas citadas na investigação americana.

O primeiro assunto abordado no discurso foram os serviços de pagamento eletrônico, e Azevêdo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, falou sobre o Pix.

"O Brasil oferece um sistema de pagamento rápido, econômico e seguro, semelhante ao sistema de pagamento instantâneo FedNow, criado e implementado pelo Federal Reserve Board dos EUA", disse, sobre o sistema inventado pelo banco central americano.

"Esse sistema de pagamento aumentou a inclusão financeira, reduziu a dependência de dinheiro físico e aumentou a eficiência no varejo e no comércio eletrônico – beneficiando significativamente as empresas americanas", afirmou.

Ao aplicar tarifas de 50% sobre o Brasil, em agosto, Trump disse que uma das justificativas era a de que o Pix afeta a competitividade de empresas americanas no Brasil.

A investigação em andamento pode trazer novas punições comerciais dos EUA ao Brasil, além das tarifas já em vigor. O processo deverá ser concluído em alguns meses.

Tarifa de 2,7%

O embaixador ressaltou ainda que o Brasil tem uma tarifa efetiva de 2,7% sobre produtos americanos, uma das menores aplicadas, e que o Brasil "aplica rigorosamente suas leis anticorrupção".

“A noção de que o Brasil está agindo deliberadamente de forma a prejudicar os Estados Unidos é totalmente infundada. Simplesmente não há evidências de que os atos, políticas e práticas em questão discriminem ou prejudiquem injustamente as empresas americanas", afirmou.

“Somos as duas maiores democracias deste hemisfério. Deveríamos estar conversando um com o outro; não brigando um com o outro. Quaisquer problemas devem ser resolvidos por meio de diálogo e cooperação contínuos. A CNI apoia iniciativas que fortaleçam os laços entre os Estados Unidos e o Brasil, promovam o crescimento econômico e melhorem as condições de mercado em ambos os países”, disse Azevêdo.

Quem estará na audiência no USTR

Do lado brasileiro, participam da audiência empresas como Embraer, Portobello America e Weg, além de diversas entidades, como Amcham (Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), além de associações setoriais, ligadas a produtos como café, cana-de-açúcar, etanol de milho, pescados e madeira.

Entre representantes americanos, há entidades de diversos setores, sendo que parte deles sinalizou que irá falar a favor do Brasil, enquanto outros se juntarão às acusações.

Do lado da defesa do Brasil, estarão a National Coffee Association (NCA, de café) e a International Wood Products Association (madeira) e a US Chamber of Commerce (associação comercial). Em linhas gerais, elas defendem que a integração econômica entre os dois países traz prosperidade, e que o mercado americano será afetado se deixar de contar com produtos brasileiros. 

Ao mesmo tempo, várias entidades pedem que o Brasil seja punido, por representar, na visão delas, concorrência desleal. Entre elas, estão a National Pork Producers Council (carne suína), National Cattlemen's Beef (carne bovina), National Corn Growers Association (milho), a U.S. Beet Sugar Association (açúcar de beterraba), Renewable Fuels Association (combustíveis renováveis) e National Cotton Council of America (algodão).

O que é a seção 301

A seção 301 é parte da Lei do Comércio dos EUA, de 1974. Essa lei autoriza o presidente a tomar medidas contra países que violem regras internacionais de comércio ou tome medidas para restringir o comércio com os Estados Unidos.

As investigações contra os países que podem ter descumprido regras são iniciadas pelo escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR), ligado à Presidência. A regra determina que o USTR negocie com os países para que eles retirem as barreiras comerciais antes de aplicar medidas punitivas.

Caso não haja acordo, o governo americano pode levar a questão para órgãos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio, ou impor sanções unilaterais contra o país.

Em 2001, por exemplo, a Ucrânia foi alvo de medidas por não respeitar direitos autorais em CDs de música.

Em 2018, a China foi alvo de uma investigação por desrespeitar propriedades intelectuais. Como resultado, o país recebeu tarifas mais altas em uma série de produtos, o que deu início à guerra comercial entre EUA e China.

Acompanhe tudo sobre:PIXTarifasDonald TrumpEstados Unidos (EUA)

Mais de Mundo

Trump ameaça demissões em massa caso governo paralise

Trump insinua um avanço nas negociações de paz no Oriente Médio

Prefeito de Nova York, Eric Adams, desiste de disputar reeleição

Igreja pega fogo nos EUA após tiroteio deixar um morto e nove feridos