Trump em comício na Geórgia: graças à rejeição do presidente entre o eleitorado negro, Biden pode ser o primeiro democrata a ganhar no estado desde 1992 (Brendan Smialowski/AFP)
Carolina Riveira
Publicado em 21 de outubro de 2020 às 09h46.
Última atualização em 21 de outubro de 2020 às 10h00.
Como foi em 2016, o eleitorado branco é uma das maiores apostas do presidente americano, Donald Trump, para vencer a eleição. Mas as pesquisas de intenção de voto mostram que o rival democrata Joe Biden também tem angariado uma fatia importante de eleitores entre esse grupo.
Dentre os eleitores brancos já decididos, Trump tem cerca de 54% dos votos, ante 46% de Biden, segundo pesquisas recentes Exame/IDEIA, parceria entre a Exame Research, casa de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. Se incluídos os 6% indecisos brancos, Trump tem 51% dos votos desse eleitorado, contra 43% de Biden.
Uma pesquisa de agosto do Pew Research Center também mostrou resultado semelhante. O número de brancos apoiando Trump caminha para ser menor neste ano no que no último pleito.
Em 2016, quando Trump venceu a ex-secretária de Estado Hillary Clinton, o presidente teve mais votos brancos do que nas pesquisas deste ano: ganhou entre esse grupo com 59% dos votos, ante 41% de Hillary, ainda segundo o Pew.
O eleitorado branco é crucial porque, nas sondagens deste ano, na separação por raça, é o único grupo onde Biden perde. O ex-vice-presidente vence com folga entre negros, latinos e asiáticos.
Os brancos representam pouco mais de 60% da população americana no total, mas sua participação é ainda maior em estados considerados decisivos na eleição americana.
No censo americano de 2010, mais de 90% da população em Iowa, um dos estados-chave, se declarou branca. Trump venceu no estado em 2016. Neste ano, as pesquisas em Iowa estão empatadas (embora, na projeção do site de estatística FiveThirtyEight, Iowa deva novamente ficar com Trump).
Pelo modelo eleitoral do país, cada estado tem uma quantidade dos 538 votos do chamado colégio eleitoral. Assim, o candidato vencedor precisa vencer em uma quantidade suficiente de estados para garantir a vitória (cadastre-se aqui para acessar o novo relatório gratuito sobre as eleições americanas e impacto nos mercados).
Sempre houve, é claro, uma série de estados com eleitorado majoritariamente branco que vota nos democratas. O caso mais clássico é Vermont, onde 96% da população é branca, mas vota nos democratas desde 1992 e é lar do senador Bernie Sanders, líder da ala mais à esquerda do partido.
Um dos motivos para um maior apoio dos brancos a Biden, além de eventual maior identificação desses eleitores com o ex-vice-presidente (Biden é branco, do estado de Delaware, e tem 77 anos) é a rejeição crescente de Trump e do partido republicano entre parte do eleitorado urbano.
Esse comportamento já têm favorecido os democratas em grandes cidades e entre os eleitores mais jovens, incluindo em eleições parlamentares. E o cenário pode se acentuar neste ano, sobretudo em meio ao maior comparecimento de eleitores -- os EUA devem ter o maior número de votantes em um século.
Na outra ponta, o eleitorado negro e outras minorias nos EUA, como os latinos, devem votar nos democratas em volume recorde nesta eleição.
Essa fatia do eleitorado, embora pareça já vencida pelos democratas, é sempre decisiva. Em 2016, quando Hillary Clinton perdeu, estudos posteriores mostraram que mais de 4 milhões de eleitores de Barack Obama decidiram não votar. Com esses votos, sobretudo nos estados cruciais, Hillary poderia ter vencido a eleição.
Naquela última eleição, o comparecimento também foi um dos mais baixos dos últimos anos, e quase metade dos americanos não votou. Na divisão por raça, outro ponto para Trump: o comparecimento dos brancos cresceu, enquanto o dos negros caiu.
O número de eleitores hispânicos, que já têm o menor comparecimento de todos (desde 1996, menos de 50% dos elegíveis votam), também caiu.
A cor dos eleitores não define um voto necessariamente republicano ou democrata. Há uma série de estados com grande participação da população negra, como a Louisiana, Nevada ou Carolina do Sul, onde os republicanos têm vencido nas últimas décadas.
Mas a rejeição de Trump entre minorias pode complicar o presidente. O maior símbolo da debandada a Trump neste ano talvez seja a Geórgia, onde 40% do eleitorado não é branco e onde os republicanos ganharam a presidência desde 1996. Neste ano, a eleição está virtualmente empatada, mas com 1 ponto de liderança de Biden na média das pesquisas.
O mesmo vale para o eleitorado latino. As medidas anti-imigração foram comuns entre todos os presidentes americanos recentes, mas Trump ficou especificamente marcado por elas. Ações imigratórias não necessariamente levam todos os latinos a preferirem os democratas (há uma grande fatia conservadora e religiosa entre essa população, segundo as pesquisas, o que favorece Trump).
Momentos marcantes dos últimos anos -- como a possibilidade de revogação do visto dos jovens imigrantes, os dreamers, e separação de pais e crianças na fronteira -- podem ter levado fatia considerável dos latinos para o Partido Democrata, sobretudo entre as gerações mais jovens e moradores urbanos.
A Flórida, que tem uma das maiores populações latinas dos EUA, votou em George Bush em suas duas eleições, depois em Obama também em duas eleições, mas escolheu Trump em vez de Hillary em 2016. Agora, Biden vence nas pesquisas do estado, embora as pesquisas apontem uma disputa acirrada e poucas certezas.