Noruega: segundo as pesquisas, a eleição poderá ser decidida por uma estreita margem para determinar quem vai dirigir o país nórdico (Heiko Junge/Reuters)
AFP
Publicado em 8 de setembro de 2017 às 14h15.
É possível ser o povo mais feliz do mundo e, ainda assim, cogitar a ideia de mudança: é o caso da rica Noruega, que vai às urnas na próxima segunda-feira (11) votar em eleições bastante incertas para a coalizão de direita em final de mandato.
Segundo as pesquisas, a eleição poderá ser decidida por uma estreita margem para determinar quem vai dirigir esse país nórdico nos próximos quatro anos - se a atual primeira-ministra conservadora, Erna Solberg, ou seu adversário trabalhista Jonas Gahr Støre.
"A riqueza da população norueguesa provoca expectativas a mais que são difíceis de satisfazer, seja qual for o partido" no governo, opina o cientista político Bernt Aardal, da Universidade de Oslo.
Desde sua chegada ao poder em 2013, o governo - que agrupa conservadores e populistas "light" do Partido do Progresso - teve de lidar com duas crises graves.
A primeira delas foi a histórica crise dos migrantes que afetou toda Europa em 2015. Naquele ano, 31.000 pessoas - um recorde - pediram asilo ao reino nórdico, de 5,3 milhões de habitantes.
E a do setor petroleiro, motor da economia norueguesa, afetado por uma brutal queda das cotações dessa commodity - a maior em 30 anos -, a partir de meados de 2014.
Desde então, a Europa fechou suas fronteiras, Oslo endureceu as condições de admissão, e o fluxo de refugiados se conteve.
Graças às reduções de impostos e ao frequente recurso ao fundo soberano de cerca de US$ 1 bilhão, a economia volta a crescer com força, privando a oposição de um flanco de ataque. Esse fundo foi instituído há 20 anos pelo país que é o maior produtor de cru da Europa Ocidental.
"Agora que a economia norueguesa está melhor, é importante não mudar de rumo", diz Solberg, uma política veterana de 56 anos que se apresenta como a candidata da continuidade.
A cereja do bolo é que a Noruega foi designada em março como a nação mais feliz do mundo, segundo um informe da ONU.
Ainda assim, o opositor Støre critica a direita por ter tornado o país "mais frio" e se apresenta como defensor dos menos privilegiados. Em sua plataforma de campanha, o líder da oposição propõe anular certos cortes de impostos destinados "aos mais ricos" e reforçar o Estado de Bem-Estar social.
"A Noruega é uma sociedade sólida", diz o dirigente trabalhista, de 57 anos, mas "estamos enfrentamos crescentes desigualdades".
A opinião pública está muito dividida, e os editorialistas de diferentes veículos de comunicação preveem um verdadeiro "suspense eleitoral".
Nessa próspera nação, amante do consenso, o polêmico tema de uma adesão à União Europeia (UE) foi deixado de lado, e as fortes divergências sobre o assunto já não emergem na sociedade.
As legislativas norueguesas também conseguiram espantar o fantasma do populismo.
Os partidos mais radicais tiveram de exercer o poder, o que contribuiu para "neutralizá-los", explica Bernt Aardal.
Salvo algumas subidas de tom por parte da ministra de Imigração e Integração, Sylvi Listhaug, do Partido do Progresso (anti-imigração), consideradas provocadoras, a campanha foi tranquila.
A formação do próximo governo dependerá, portanto e em larga medida, do resultado dos partidos pequenos, aliados indispensáveis para a esquerda e para a direita.