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Noda, o político que aceitou desafio de reconstruir o Japão

O atual primeiro-ministro comparou sua passagem pelo poder como uma difícil "escalada de uma montanha"


	Ministro das Finanças japonês, Yoshihiko Noda: ele conseguiu em agosto tornar realidade a primeira reforma tributária do país em 15 anos
 (Yuriko Nakao/Reuters)

Ministro das Finanças japonês, Yoshihiko Noda: ele conseguiu em agosto tornar realidade a primeira reforma tributária do país em 15 anos (Yuriko Nakao/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2012 às 12h34.

Tóquio - De acentuado perfil econômico, reservado e afastado quase sempre dos holofotes, Yoshihiko Noda governou o Japão por quase um ano e meio após aceitar o desafio de canalizar a reconstrução das áreas devastadas pelo tsunami de 2011 e sanear as finanças do país.

Noda, de 55 anos, chegou ao poder após duas demissões, a do primeiro-ministro que saiu das eleições legislativas de 2009, Yukio Hatoyama, e a de Naoto Kan, que deixou a chefia do governo pelas críticas à sua gestão da crise nuclear na central de Fukushima.

De aspecto taciturno e pouco expressivo, o atual primeiro-ministro comparou sua passagem pelo poder como uma difícil "escalada de uma montanha", o que fez explorando suas habilidades negociadoras, vitais para lidar com uma batalha com um parlamento dividido.

Privado da linhagem política que caracteriza outros líderes japoneses, Noda se tornou chefe de Governo após ocupar a pasta de Finanças com o objetivo prioritário de promover uma reforma tributária, com pleno conhecimento de que minaria sua popularidade em um país que sempre castigou nas urnas aumentos impositivos.

Escolhido para sanear o grande déficit e a gigante dívida pública do Japão, que é duas vezes maior que seu PIB, Noda conseguiu em agosto tornar realidade a primeira reforma tributária do país em 15 anos, com uma alta do IVA (imposto sobre valor agregado) de 5 para 10% até 2015. Essa reforma é, provavelmente, o único legado consistente que o Partido Democrático (PD) deixou em seus três anos de governos instáveis.


No entanto, para conseguir o imprescindível apoio da oposição, Noda teve que dar sua palavra que convocaria eleições antecipadas, algo que finalmente anunciou em meados de novembro.

Filho de um militar da Unidade Terrestre das Forças de Autodefesa (Exército) e neto de agricultores, Noda fez parte da equipe do PD que em 2009 conseguiu pôr fim a cerca de meio século quase ininterrupto de governo do Partido Liberal-Democrata (PLD).

Apesar de seu curto mandato, Noda, o terceiro primeiro-ministro nos três anos de governo do PD, é o que mais tempo durou no cargo, à frente dos 449 dias de Naoto Kan e dos 266 dias de Hatoyama, e o 19º que por mais tempo governou o país desde a II Guerra Mundial.

Nascido em 1957 em Funabashi, província de Chiba (nos arredores de Tóquio), Noda formou-se em Ciências Políticas e Econômicas pela prestigiosa Universidade de Waseda em 1980 e completou seus estudos no Instituto Matsushita de Governo e Gestão, um "ninho" para futuros líderes institucionais.

Após concluir sua formação, saltou à arena política no começo dos anos 90 quando se filiou ao Novo Partido do Japão, do ex-primeiro-ministro Morihiro Hosokawa.

Em política energética, Noda entrará para a história como o líder que projetou um país sem energia nuclear, após estabelecer a meta de abandonar as centrais atômicas até a década de 2030, devido ao acidente em Fukushima.

Pai de dois filhos, casado e fã de artes marciais, em política externa Noda encarou um momento especialmente complicado, marcado pelas disputas territoriais com a China e a Coreia do Sul.

O conflito, que ainda persiste, foi especialmente tenso com Pequim, depois que a compra de três ilhas em disputa por parte de Tóquio provocou uma onda de manifestações na China e o aumento do sentimento "antinipônico" no maior mercado comprador de produtos do Japão.

Sempre prudente e diplomático, embora também incisivo, Noda tomou distância da prepotência agressiva de outros dirigentes japoneses e se mostrou partidário de não piorar as já por si complexas relações com seus vizinhos.

Em seu cerca de um ano e meio de mandato, ele teve tempo de visitar cinco vezes a província de Fukushima, tanto para revisar os trabalhos de limpeza e desmantelamento da usina como para dar seu apoio a trabalhadores e algumas das 52 mil pessoas ainda deslocadas por causa da crise nuclear. 

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