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No Peru, o surpreendente PPK

Era final da noite de domingo quando o economista Pedro Paulo Kuczynski, o PPK, 77 anos, apareceu na janela da sede do partido Peruanos Por el Kambio para saudar seus eleitores como virtual presidente do Peru. Faltava apurar pouco mais de 10% dos votos serem apurados. Mas a diferença a consistente diferença superior a um […]

KUCZYNSKI: o presidente peruano deve tratar temas do país e de seus vizinhos com Donald Trump /  (Paco Chuquiure/Reuters)

KUCZYNSKI: o presidente peruano deve tratar temas do país e de seus vizinhos com Donald Trump / (Paco Chuquiure/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2016 às 17h13.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h38.

Era final da noite de domingo quando o economista Pedro Paulo Kuczynski, o PPK, 77 anos, apareceu na janela da sede do partido Peruanos Por el Kambio para saudar seus eleitores como virtual presidente do Peru. Faltava apurar pouco mais de 10% dos votos serem apurados. Mas a diferença a consistente diferença superior a um ponto percentual parecia indicar que não tinha mais volta. Nem ele nem ninguém ali esperava que a vitória só viria nesta quarta-feira, com 98,5% das urnas apuradas, após o instituto Associação Civil de Transparência declarar que sua vantagem sobre a concorrente Keiko Fujimori, 41, era irreversível. O resultado oficial ainda não saiu, mas PPK é virtualmente o novo presidente do Peru.

A diferença entre os candidatos foi de pouco mais de 40.000 votos em um total de 18 milhões de eleitores. O atraso na apuração se deu pela demora no envio de urnas em regiões remotas, como a Amazônia e os Andes. Na noite de domingo, Kuczynski disse que os aliados deviam ficar atentos para que seus votos não fossem roubados. Depois, pediu calma e que aguardassem o fim da contagem. Keikosó pediu para que seus eleitores “aguardem com cautela o resultado final”.

A vitória apertada de um veterano com pouca base partidária (o partido de PPK leva suas próprias iniciais e terá apenas 18 cadeiras no parlamento) revela que sua vitória é mais fruto do protesto do que da esperança. Ex-executivo do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional e ex-ministro da Fazenda com Alejandro Toledo, na virada do século, PPK consolidou a vitória nas últimas semanas, quando recebeu apoio da candidata de esquerda  Verónika Mendoza, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 19% dos votos.

Sua vitória se deve à enorme rejeição de Keiko. Há pouco mais de 15 anos o país vivia o regime de Alberto Fujimori, pai da candidata, que enviou tropas para fechar o congresso durante em 1992. Mais tarde, em 2000, ele fugiu para o Japão e renunciou à presidência via fax. Fujimori está preso desde 2007 por corrupção e crimes contra a humanidade. A desconfiança e a rejeição sobre Keiko foram tão grandes que ela teve de afirmar durante a campanha que não soltaria o próprio pai da prisão.

O medo do retorno ao passado sombrio levou manifestantes às ruas e os opositores a apoiarem PPK, que afirmava em seus discursos que prezaria pelo fortalecimento das instituições peruanas. Mesmo não concordando com a agenda liberal de Kuczynski, Mendonza veiculou um vídeo em que chamava seus eleitores “pelo fim do fujimorismo”, apontando para PPK como um mal menor.

O peso da corrupção

Reavivando a memória da época corrupta do fujimorismo da década de 90 no Peru, um agente da Agência Americana Antidrogas afirmou que estava investigando Joaquín Ramírez, secretário-geral do partido Força Popular, de Fujimori, e um de seus principais apoiadores. O acontecimento ajudou a minar as chances da candidata, que até a semana passada liderava as pesquisas com 46% das intenções de voto, contra 39% de PPK. Os indecisos eram cerca de 15% e tombaram para o lado de PPK no momento final. Ele venceu em regiões populosas e de melhor poder aquisitivo, como a capital Lima.

Embora o mercado tivesse apreço por ambos os candidatos, Kuczynski ainda era um favorito. A dívida peruana recuou levemente diante dos resultados primários mostrando uma vitória de PPK, numa resposta silenciosa do mercado à sua eleição. “Fujimori liderou nosso drástico processo de reforma neoliberal na década de 90, e sua filha tem defendido isso. Mas Kuczynski é um liberal mais consistente”, diz a cientista política peruana Cynthia Sanborn.

PPK herda um país com uma economia robusta — o PIB cresceu 3,3% no ano passado e 4,5% no primeiro trimestre de 2016, bem melhor do que a média sul-americana, que encolheu 1,4% em 2015. O novo presidente já havia anunciado medidas como redução da máquina pública para diminuir os custos estatais, corte de impostos e incentivos para investidores no setor de mineração.

Apesar disso, ele deve encontrar dificuldades no congresso: no primeiro turno, o partido Força Popular, de Kenko Fujimori, levou 73 das 130 cadeiras do congresso peruano, que é unicameral. O partido de PPK tem 18 congressistas. A maioria do congresso é claramente contrária a várias de suas propostas, como as isenções tributárias para grandes empresas.

Com PPK, analistas ainda esperam a expurgação de outro grande mal peruano – a corrupção. Assim como o Brasil, o país tem um histórico de relações escusas entre o público e o privado, que se intensificou com Alberto Fujimori. Atualmente, o Peru é o 88o colocado no ranking global de corrupção da ONG Transparência Internacional – consegue estar pior que o Brasil, que ocupa a 76a posição.

Ao contrário do Brasil, o país ainda não tem uma Lava-Jato para chamar de sua. E poucos esperavam que Keiko enveredasse por esse caminho por motivos óbvios. PPK, na visão de analistas políticos, pode adotar medidas mais duras no combate à corrupção. Se ele conseguir aliar isso ao pragmatismo econômico, a economia peruana deve manter sua marcha. Para inveja dos brasileiros.

(Thiago Lavado)

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