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No Pentágono, Musk deve ter acesso a ‘plano ultrassecreto’ dos EUA sobre possível guerra com China

Acesso representaria grande expansão do papel governamental do bilionário sul-africano e destacaria seus conflitos de interesse

Aliado chave de Trump, Elon Musk mostrou peso político em rejeição de projeto de financiamento na Câmara  (Andrew Harnik/Getty Images/Getty Images)

Aliado chave de Trump, Elon Musk mostrou peso político em rejeição de projeto de financiamento na Câmara (Andrew Harnik/Getty Images/Getty Images)

Agência o Globo
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Publicado em 21 de março de 2025 às 10h31.

Última atualização em 21 de março de 2025 às 10h41.

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O Pentágono está programado para, nesta sexta-feira, 20,informar Elon Musk sobre o plano militar dos Estados Unidos para qualquer guerra que possa eclodir com a China, disseram duas autoridades americanas na quinta-feira. Outro funcionário afirmou que a reunião teria Pequim como foco, mas não forneceu detalhes adicionais, e uma quarta autoridade confirmou que Musk estaria no Pentágono nesta sexta-feira.

Horas após a notícia ter sido publicada pela imprensa internacional, autoridades do Pentágono e o próprio presidente americano, Donald Trump, negaram que a reunião seria sobre planos militares envolvendo a China. Nas redes sociais, o republicano afirmou que Pequim não seria “sequer mencionado ou discutido”. Ainda não está claro se a reunião com Musk será realizada conforme planejado originalmente.

Dar ao bilionário sul-africano acesso a alguns dos segredos militares mais bem guardados do país, no entanto, seria uma expansão dramática de seu já extenso papel no governo. Também destacaria questões sobre os conflitos de interesse de Musk, que transita pela burocracia federal enquanto administra empresas que são grandes empreiteiras do governo. CEO da Space X e da Tesla, Musk é um dos principais fornecedores do Pentágono e tem interesses financeiros na China.

Os planos de guerra do Pentágono, conhecidos no jargão militar como O-plans ou planos operacionais, estão entre os maiores segredos das Forças Armadas. Se um país estrangeiro descobrisse como os Estados Unidos planejaram combatê-lo em uma guerra, poderia reforçar suas defesas e corrigir suas vulnerabilidades, tornando os planos muito menos eficazes.

Plano ‘ultrassecreto’

A reunião secreta sobre o plano de guerra com a China inclui cerca de 20 a 30 slides que descrevem como os Estados Unidos conduziriam um conflito desse tipo. O plano abrange desde os primeiros sinais de ameaça da China até as opções de alvos chineses a serem atacados, ao longo de um determinado período, e que seriam apresentados a Trump para decisões, segundo autoridades com conhecimento do assunto.

Um porta-voz da Casa Branca não comentou o propósito da visita, como ela foi organizada, se Trump estava ciente dela e se a reunião levantava questões sobre conflitos de interesse. Também não disse se Trump assinou uma isenção de conflito de interesse para Musk.

O principal porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, inicialmente não respondeu a um e-mail semelhante questionando por que Musk receberia um informe sobre o plano de guerra com a China. Pouco depois que o Times publicou a notícia, porém, ele fez uma breve declaração:

“O Departamento de Defesa está animado para receber Elon Musk no Pentágono na sexta-feira. Ele foi convidado pelo secretário [Pete] Hegseth e está apenas de visita”.

Cerca de uma hora depois, Parnell escreveu no X que a notícia era “100% fake news”, afirmando que Musk é um “patriota” e que o governo tem “orgulho de tê-lo no Pentágono”. Hegseth, o secretário de Defesa, também comentou o assunto nas redes sociais. Ele disse que “não é uma reunião sobre ‘planos de guerra ultrassecretos da China’”, e sim uma “reunião informal sobre inovação, eficiência e produção inteligente”.

Cerca de 30 minutos após essa postagem, o The Wall Street Journal confirmou que Musk estava, de fato, programado para ser informado sobre o planejamento de guerra com a China. Hegseth, o almirante Christopher Grady, presidente interino do Estado-Maior Conjunto, e o almirante Samuel Paparo, chefe do Comando Indo-Pacífico dos EUA, estavam programados para apresentar a Musk detalhes do plano americano para conter a China, segundo fontes.

Corte de gastos
A reunião deveria ocorrer não no escritório de Hegseth — onde uma discussão informal sobre inovação provavelmente aconteceria —, mas no Tank, uma sala de conferências segura dentro do Pentágono, geralmente usada para reuniões de alto nível entre os chefes do Estado-Maior, seus assessores seniores e comandantes militares visitantes.

Os planos operacionais para grandes contingências, como uma guerra com a China, são extremamente complexos para pessoas sem ampla experiência em planejamento militar entenderem. A natureza técnica é a razão pela qual presidentes geralmente recebem apenas um resumo geral do plano, em vez de detalhes completos. Não estava claro quantos detalhes Musk queria ou esperava receber.

Hegseth recebeu parte do informe sobre o plano de guerra com a China na semana passada e outra parte na quarta-feira, segundo autoridades. Não estava claro o que motivou a decisão de fornecer a Musk um informe tão sensível. Ele não faz parte da cadeia de comando militar nem é um conselheiro de Trump sobre assuntos militares relacionados à China.

Uma possível razão é o fato de que, se Musk e sua equipe de cortes de gastos do Departamento de Eficiência Governamental (Doge) quiserem reduzir o orçamento do Pentágono de forma responsável, eles podem precisar saber quais sistemas de armas a Defesa americana planeja usar em um eventual conflito com a China.

Por exemplo, cortar investimentos em porta-aviões poderia economizar bilhões de dólares, que poderiam ser investidos em drones ou outras armas. Mas se a estratégia militar dos EUA depender do uso inovador de porta-aviões para surpreender a China, aposentar navios existentes ou interromper a produção de novos poderia comprometer o plano.

Conflito de interesse

O planejamento para uma guerra com a China domina o pensamento do Pentágono há décadas, bem antes de um possível confronto com Pequim passar a ser mais convencional no Capitólio. Os EUA estruturaram suas forças Aéreas, Marinha e Espaciais — e mais recentemente seus fuzileiros navais e Exército — tendo em mente essa possibilidade.

Críticos dizem que os militares investiram demais em sistemas caros, como caças e porta-aviões, e pouco em drones de médio alcance e defesas costeiras. Mas para Musk avaliar como reorientar os gastos, ele precisaria saber o que os militares pretendem usar e para quê. Musk já pediu que o Pentágono pare de comprar itens de alto custo, como os caças F-35 da Lockheed Martin, que custam mais de US$ 12 bilhões anuais ao governo.

Os interesses comerciais de Musk, no entanto, tornam seu acesso a segredos estratégicos sobre a China um problema sério, segundo especialistas em ética. Revisões nos planos de guerra com Pequim focaram em defesas contra a guerra espacial, setor onde a SpaceX tem grande atuação. A empresa de Musk já recebe bilhões de dólares do Pentágono para lançar satélites militares, e seu sistema Starlink é essencial para comunicações militares globais.

Além disso, Musk e a Tesla dependem fortemente da China. A fábrica de Xangai, inaugurada com apoio do governo chinês, representa mais da metade das entregas globais da Tesla. Em público, Musk evita criticar Pequim e, no passado, já sugeriu que Taiwan poderia se tornar uma “zona administrativa especial” da China, irritando políticos da ilha democrática. Seus negócios e declarações levantam questões sobre se ele deveria ter acesso a segredos militares dos EUA.

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