Mundo

No 4 de julho americano, as más notícias de Biden

EUA não consegue cumprir meta de vacinados esperada para o feriado de independência, enquanto as variantes ameaçam a recém-alcançada liberdade dos americanos

Biden: celebrações foram mantidas no 4 de julho, mas casos da variante delta preocupam nos EUA (Carlos Barria/Reuters)

Biden: celebrações foram mantidas no 4 de julho, mas casos da variante delta preocupam nos EUA (Carlos Barria/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 2 de julho de 2021 às 06h38.

Última atualização em 13 de julho de 2021 às 22h54.

Esta reportagem faz parte da newsletter EXAME Desperta. Assine gratuitamente e receba todas as manhãs um resumo dos assuntos que serão notícia.

No começo de seu mandato, o presidente americano, Joe Biden, traçou uma meta: aplicar 100 milhões de doses da vacina contra o coronavírus até atingir a marca de 100 dias de governo. No meio do caminho, dobrou a meta, para 200 milhões de doses, e cumpriu o objetivo com facilidade.

Mas a segunda parte da vacinação tem se mostrado muito mais difícil de cumprir.

Os Estados Unidos chegam ao fim de semana do feriado de independência, o tradicional 4 de julho, sem ter atingido a marca de 70% da população adulta (acima de 18 anos) vacinada com ao menos uma dose.

A meta havia sido estipulada pelo governo Biden para a data, o feriado mais importante do calendário americano e que costuma ter fogos de artifício e celebrações nas ruas.

Quando anunciou o número, em maio, Biden disse que "as pessoas no país vão celebrar o 4 de julho". Isso de fato acontecerá, mas não no cenário idealizado pelo governo.

  • Até agora, os EUA têm 55% da população total vacinada com uma dose;
  • E 47% totalmente vacinados (com duas doses de Pfizer ou Moderna ou uma dose da Janssen);
  • Se contabilizada somente a população adulta, 67% se vacinaram com uma dose;
  • Enquanto 58% dos adultos estão completamente vacinados.

Enquanto não chega ao número ideal de vacinados, Biden e a vice-presidente, Kamala Harris, passarão os próximos dias rodando o país, em um tour batizado de America's Back Together (os EUA juntos novamente, em tradução livre).

Uma celebração com trabalhadores essenciais e discursos na Casa Branca, sede do governo, também serão realizados no fim de semana — embora sob questionamentos diante do aumento de casos da variante delta.

Há doses sobrando, mas falta demanda da população. Dados do US Census Bureau, órgão do governo americano, mostra que a hesitação em se vacinar caiu de 25% da população em janeiro para pouco mais de 11% em meados de junho. Ainda assim, a desconfiança é desigual entre locais, podendo chegar a 25% em alguns estados.

Com um começo de vacinação avassalador, o número de imunizados nos EUA, que tem mais de 300 milhões de habitantes, é um dos maiores do mundo, atrás somente da China, que atingiu 1 bilhão de doses aplicadas.

(O Brasil, que tem 200 milhões de  habitantes, aplicou 100 milhões de doses, atingindo 35% da população com a primeira dose e só 12,5% com a imunização completa.)

Mas o número mágico de 70% ou mais de vacinados completamente têm sido citado por especialistas, como o Dr. Anthony Faucci, uma das autoridades de contenção da pandemia nos EUA e integrante do governo Biden, como barreira a ser alcançada para atingir a imunidade coletiva.

Sem chegar a esta massa de imunizados, todos os países seguem muito expostos às novas variantes que surgem nas partes não-vacinadas do globo.

A variante delta, encontrada primeiramente na Índia, já responde por um terço dos novos casos de covid-19 nos EUA e pode ser letal inclusive para os mais jovens. Os lugares com baixa taxa de imunização tornam todo o país mais exposto às variantes.

Celebração

Governos americanos de todos os espectros ideológicos costumam usar o 4 de julho para celebrar seus feitos políticos. No ano passado, Donald Trump foi ao Monte Rushmore, na Dakota do Sul, mas teve de cancelar um desfile com apoiadores no Alabama, depois de sofrer críticas por causar aglomeração enquanto os EUA viviam, na ocasião, um de seus picos da pandemia.

Neste primeiro ano de governo Biden, o objetivo é usar a data para comemorar os feitos do primeiro semestre de governo, sobretudo no combate à pandemia — frente na qual sua gestão é melhor avaliada até agora.

Um ano depois do 4 de julho de 2020, os EUA têm de fato muito a comemorar: o número de mortes caiu quase pela metade desde janeiro, um cenário que permitiu melhorar as projeções econômicas e reduzir as restrições geradas pela pandemia.

Em uma medida questionada no exterior, o CDC, centro de prevenção e controle de doenças, recomendou até que os vacinados pudessem deixar de usar máscaras.

Mas a dificuldade do governo de atingir uma maioria absoluta de vacinados mostra o quão desafiador o momento ainda é. Um triste lembrete de que a pandemia não acabou veio há duas semanas, quando o país atingiu 600.000 mortes por covid-19. (O Brasil, que atingiu a triste marca de 500.000 mortos pela doença, está em vias de superar os EUA como país com mais mortos no mundo.)

A vacinação tem desacelerado mesmo com vacinas agora liberadas para adolescentes acima de 12 anos.

A lacuna principal está entre os jovens adultos, entre 18 e 29 anos, público que menos se vacinou proporcionalmente — em parte, segundo especialistas, por se ver em menor risco.

Governadores e prefeitos de vários lugares do país e o governo federal passaram a realizar campanhas de conscientização pró-vacinação, com distribuição de brindes como ingressos para shows, sorteios milionários em loterias e oferta de bolsas na faculdade.

Pesquisadores têm ainda encontrado relação entre posições políticas dos americanos e a vacinação. Estados que votaram majoritariamente no ex-presidente Trump nas eleições de 2020 têm se vacinado menos.

Já ao menos 15 estados, quase todos de tendências políticas mais progressistas, atingiram a meta de 70% de adultos vacinados com uma dose, alguns tendo chegado a este patamar há semanas.

Esse cenário faz a vacinação desigual nos diferentes lugares do país, podendo colocar em risco a recém-adquirida liberdade dos americanos.

Além das campanhas de conscientização, que estarão muito presentes neste 4 de julho, artigo publicado nesta semana no jornal The New York Times pelo pesquisador Eric Topol, ex-membro da FDA, agência que autoriza as vacinas nos EUA, pede também ao órgão que dê aprovação definitiva às vacinas de Pfizer e Moderna. Os imunizantes hoje dispõem somente de autorização de emergência.

O pesquisador aponta que muitos americanos se sentem intimidades pelo rótulo de "emergencial", como se as vacinas não fossem seguras o suficiente.

"Outros talvez não se imunizem enquanto seus empregadores não exigirem, e muitas organizações - incluindo, segundo tem sido reportado, o Exército - estão esperando que as vacinas sejam completamente aprovadas antes de instaurar tais mandatos"

Ainda morrem por dia nos EUA mais de 200 pessoas vítimas de covid-19. É um número muito melhor do que as mais de 3.000 mortes diárias em janeiro, mas a meta não cumprida no 4 de julho traz aos americanos o amargo alerta de que ainda há um longo caminho até que o risco da pandemia tenha de fato passado.

  • Fique por dentro das principais análises internacionais. Assine a EXAME.
Acompanhe tudo sobre:Estados Unidos (EUA)Exame HojeJoe Biden

Mais de Mundo

China e Brasil fortalecem parceria estratégica e destacam compromisso com futuro compartilhado

Matt Gaetz desiste de indicação para ser secretário de Justiça de Donald Trump

Putin confirma ataque à Ucrânia com míssil hipersônico

Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Pudong: expansão estratégica em Xangai