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Nicarágua retoma difícil diálogo em meio à violência pelo país

Enquanto oposição e governo realizaram sessão, paramilitares atacaram ao menos quatro bairros da capital, e confrontos ocorreran em Juigalpa e Nindirí

Protestos na Nicarágua: onda de repressão governista deixou 165 mortos em dois meses de atos pelo país (Oswaldo Rivas/Reuters)

Protestos na Nicarágua: onda de repressão governista deixou 165 mortos em dois meses de atos pelo país (Oswaldo Rivas/Reuters)

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AFP

Publicado em 15 de junho de 2018 às 21h37.

O governo de Daniel Ortega e a oposição na Nicarágua retomaram nesta sexta-feira (15) o diálogo com evidentes sinais de desacordo, como o rechaço oficial à observação internacional dos direitos humanos na Nicarágua, em meio a uma onda de repressão que deixa 165 mortos em dois meses de protestos.

No início do diálogo, os bispos católicos mediadores das conversas apresentaram a proposta da oposição de convidar organismos internacionais, como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e a União Europeia (UE), para observar a situação no país, mas a delegação oficial se opôs.

"É lamentável, deplorável, triste que não possamos chegar a um acordo", o que coloca "a estabilidade da nação em perigo", declarou o bispo auxiliar de Manágua Silvio Baez, um dos hierarcas católicos que mediam o diálogo nacional.

A proposta foi promovida pela opositora Aliança Cívica, integrada por estudantes, empresários e a sociedade civil, diante da violência no país pela ação das forças policiais e paramilitares contra os protestos.

A oposição, por sua vez, recusou-se a aprovar uma moção do governo, representado pelo chanceler Denis Moncada, pedindo a suspensão dos bloqueios que os manifestantes mantêm nas estradas principais, e convidar a ONU e a OEA a oferecer "acompanhamento para o fortalecimento do diálogo".

Enquanto as negociações a portas abertas ocorriam, pelo menos quatro bairros da capital foram atacados por paramilitares, ao mesmo tempo em que reportavam novos confrontos nas cidades de Juigalpa e Nindirí.

Temos que "deter a repressão do Estado da Nicarágua, do governo contra a população. Vocês têm armas, entregaram as armas aos paramilitares", assinalou Sandra Ramos, uma das representantes da aliança no diálogo.

"Presidente, está em suas mãos que a repressão termine", exigiu o líder estudantil Lesther Alemán.

Em seu discurso, Moncada lamentou a "selvageria sem precedentes" que o país vive, negando a responsabilidade do governo nos atos de violência.

Mais tarde, os participantes devem saber na sessão a resposta do presidente Ortega à proposta de democratização que lhe foi apresentada pelos bispos.

Nesta sexta-feira, milhares de nicaraguenses retornaram a suas atividades, após uma greve quase geral na quinta-feira, que a oposição espera que acabe de convencer o presidente que o país quer negociar uma mudançar por meios pacíficos".

"Esperamos que saia do diálogo algo positivo para que se resolva esse massacre que Ortega vá embora. É o que a maioria quer", declarou à AFP Mario Pérez, mecânico de um dos bairros à leste da capital, que estava semana foram cercados por forças policiais e de choque do governo.

As últimas três vítimas são dois manifestantes mortos em confrontos ocorridos na quinta-feira em Caribe norte, e um advogado assassinado na madrugada em Chinandega (noroeste).

Para o sociólogo e analista político independente Cirilo Otero, o presidente tem usado o diálogo - suspenso duas vezes desde que começou, em 16 de maio - para ganhar tempo e organizar sua saída, mas a repressão continuará.

Na quinta-feira, grupos paramilitares atiraram contra manifestantes que vigiavam barricadas nas cidades de Nagarote, Tipitapa, Masatepe e León, causando pelo menos quatro mortes e vários feridos, confirmou o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh).

O pároco de Nindirí, Jesús Silva, denunciou na quinta-feira que a polícia de choque entrou na cidade "disparando indiscriminadamente" e que o povo se abrigou em suas casas.

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