Rio Xingu, em trecho que percorre o estado do Mato Grosso (.)
Vanessa Barbosa
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h38.
São Paulo - Há 25 anos, a construção de uma hidrelétrica na Amazônia obrigou dona Raimunda Gomes da Silva a abandonar sua casa, que ficava na região a ser alagada. Agora, depois de, finalmente, ter estabelecido nova moradia na comunidade de Altamira, a amazonense de 53 anos vai enfrentar situação semelhante, com a construção de uma nova usina.
A história relatada acima é parte de uma reportagem do The New York Times, publicada nesta segunda (16), que expõe os impactos da construção da hidrelétrica de Belo Monte sobre a população local. Mais de duas décadas depois do primeiro desalojamento, os ribeirinhos estão prester a viver situação semelhante, com a construção da terceira maior usina hidrelétrica do mundo. "Para dona Raimunda, abandonar tudo novamente é um déjà vou doloroso", diz o jornal.
Postos às margens da discussão, aos moradores não restam opções. As obras da nova usina estão previstas para começar no início do ano que vem - apesar das resistências de opositores ambientalistas, de povos indígenas e de outras comunidades locais.
Segundo a reportagem do correspondente do NYT no Brasil, Alexei Barrionuevo, a despeito de todo e qualquer movimento contrário a usina, não há quem freie o projeto de US$11 bilhões que vai produzir energia elétrica para grandes cidades, como São Paulo, a partir da inundação de uma área de 320 quilômetros quadradados na bacia do Rio Xingu.
A publicação também mostra a visão oficial do governo brasileiro sobre a situação, segundo a qual, os impactos sobre a população local são positivos - mesmo para aqueles que terão de abandonar suas casas. Em entrevista ao jornal, o diretor de Engenharia do Grupo Eletrobrás, Valter Cardeal, afirma que, com os subsídios financeiros para realocação, Belo Monte trará melhorias na condição de vidas dessas pessoas, que ainda é "precária e sub-humana".
De acordo com a reportagem, os ribeirinhos de Altamira permanecem céticos quanto às promessas do governo para uma "nova vida". No momento, Dona Raimunda se preocupa com a sobrevivência econômica de seu família, que depende do trabalho do marido dela, que é pescador. "Em dois anos, ele já pode se aposentar", diz. "Mas não sei até lá, ainda vai ter peixe para pescar".
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