Netanyahu: apesar da vitória interna, Netanyahu está sob pressão do Ocidente (Jonathan Ernst/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2015 às 12h16.
Jerusalém - Benjamin Netanyahu, vencedor das eleições legislativas israelenses, estudava suas opções em sessão fechada nesta quinta-feira, para formar um governo de coalizão, observando silêncio sobre suas intenções e a pressão dos americanos, europeus e palestinos.
Os resultados quase definitivos das eleições confirmam a ampla vitória do partido Likud de Netanyahu, que parece, contudo, trabalhar com discrição em sua árdua tarefa.
Após a campanha frenética dos últimos dias, sua agenda pública está vazia pela primeira vez em anos.
Aos 65 anos, o homem forte da direita está assegurado, salvo uma grande surpresa, de ser chamado pelo presidente Reuven Rivlin a assumir um terceiro mandato consecutivo como primeiro-ministro, o seu quarto contando o de 1996-1999.
Apesar da vitória interna, Netanyahu está sob pressão do Ocidente. A Casa Branca parabenizou a eleição, mas manifestou seu apoio à criação de um Estado palestino coexistindo com Israel, enquanto Netanyahu enterrou esta possibilidade em uma manobra de última hora para conquistar a direita e os indecisos antes das eleições.
Sinal da deterioração crescente da relação entre Netanyahu e o presidente Barack Obama, a Casa Branca expressou sua grande preocupação com os comentários feitos durante a campanha para "marginalizar" os cidadãos árabes israelenses, já que no dia da votação, Netanyahu advertiu seu eleitorado de um deslocamento "em massa" dos eleitores árabes às urnas.
Ameaças alusivas
Diante da negação de um Estado palestino, expressado publicamente por Netanyahu, a administração americana "irá reavaliar sua posição", indicou a Casa Branca.
De acordo com o New York Times, citando autoridades americanas, a administração Obama poderia permitir o Conselho de Segurança da ONU, órgão onde Israel pode historicamente contar com o apoio americano, adotar uma resolução sobre uma solução de dois Estados com base nas fronteiras de antes de 1967.
A União Europeia e a França contribuem diplomaticamente para pressionar neste sentido.
O campo de Netanyahu manteve-se bastante silencioso quanto às declarações americanas. "Eu gostaria que o discurso (americano) não comportasse ameaças, mesmo que sejam alusivas, porque quando falamos de reavaliação, é uma forma de ameaça alusiva", declarou à rádio pública Gilad Erdan, número dois na lista de Netanyahu e cujo nome é mencionado para a pasta das Relações Exteriores.
Uma fonte diplomática israelense, que pediu anonimato, explicou esta discrição pela preocupação do momento, que "paralisa" tudo: formar uma coalizão. A fonte espera mais clareza com a publicação pelo próximo governo de uma plataforma estratégica.
Caso de identidade
A campanha eleitoral foi amplamente descrita como o confronto entre Netanyahu, jogando com o medo, e seus adversários, atacando-o sobre o custo de vida, um confronto em que o conflito israelense-palestino teve pouco espaço.
Mas Netanyahu venceu ao mostrar sua "verdadeira face", segundo o editorial do jornal Haaretz, e dizendo: "eu sou a verdadeira direita, determinado a defender os valores do campo nacional, começando pelo ódio dos árabes e a oposição à retirada dos territórios conquistados por Israel em 1967".
O eleitor israelense acabou por não definir a sua identidade em relação aos preços dos imóveis ou da questão nuclear iraniana, mas "em função de sua atitude vis-a-vis os palestinos, da minoria árabe em Israel e dos assentamentos".
Assim, segundo o jornal Maariv, Netanyahu se reuniu secretamente com líderes dos colonos em sua residência em Jerusalém, seis dias antes da eleição e disse-lhes: "Eu estou perdendo. Se eu perder, vocês podem começar a fazer suas malas" para deixar as colônias.
Os resultados das eleições confirmam a vitória de Netanyahu, e uma possível maioria de direita com 67 das 120 cadeiras do Parlamento para o primeiro-ministro, segundo a Comissão Eleitoral.
Segundo os resultados, o partido de direita Likud conquistou 30 cadeiras, a União Sionista do trabalhista Isaac Herzog 24 e a lista única dos partidos árabes israelenses 13 cadeiras, confirmando o posto de terceira mais votada, segundo um comunicado da comissão.
Estes números estão sujeitos a verificação antes de sua publicação oficial, em 25 de março.