Passageiros aguardam em terminal de Nova Délhi em meio a apagão: incidente gerou caos no sistema de transporte urbano (Prakash Singh/AFP)
Vanessa Barbosa
Publicado em 31 de julho de 2012 às 19h59.
São Paulo – Embora o Brasil não esteja na iminência de um apagão, não significa que não possa acontecer. “Nenhum país do mundo está imune a incidentes no sistema elétrico”, afirma o diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, Ildo Sauer. Os riscos para um megablecaute por aqui, no entanto, não se originam de um cenário de sobrecarga energética, como o que colocou 670 milhões de pessoas na Índia (três vezes mais que a população brasileira) na completa escuridão nesta terça-feira.
Nosso problema vem da “falta de organização, planejamento e gestão” da energia, diz o especialista. Exemplo disso é a série de apagões históricos que o Brasil viveu num curto espaço de dez anos. O primeiro grande, em 1999, afetou 97 milhões de pessoas ou 70% do território nacional. O governo atribuiu o apagão a uma falha numa torre de distribuição em São Paulo atingida por um raio.
Dez anos depois, em 2009, outro blecaute deixou 60 milhões de pessoas sem luz, e, no ano seguinte, em 2010, 53 milhões de pessoas foram afetadas. A explicação para esses dois últimos eventos também veio de falhas técnicas. “No Brasil, a manutenção preventiva do sistema elétrico não tem acontecido no volume necessário”, afirma Sauer.
Já os apagões na Índia ocorrem em função de uma sobrecarga do sistema elétrico. Noutras palavras, isso significa que a terceira maior economia da Àsia não está produzindo energia suficiente para atender à demanda. Nos horários de pico, o país sofre com uma insuficiência energética de 10%.
Com um consumo de energia per capita previsto para dobrar até 2020, segundo a Agência Internacional de Energia, a Índia precisa urgentemente gerar mais energia e entregá-la de forma mais eficiente à população.
O desafio é grande, especialmente porque as autoridades indianas têm enfrentado oposição da opinião pública, além de uma espiral crescente de custos, em relação às duas fontes que estão no centro dos planos de expansão energética do país: o carvão, responsável por 55% do suprimento de energia, e as usinas nucleares, cuja produção o governo quer aumentar de 3% para 25% até 2050.