Fábrica da Suzano: empresa brasileira atua nos Estados Unidos há 40 anos (Germano Lüders/Exame)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 15 de julho de 2025 às 12h15.
Última atualização em 15 de julho de 2025 às 12h17.
Guilherme Miranda, diretor para as Américas da Suzano, fabricante de papel e celulose, disse que a tarifa contra o Brasil anunciada pelo presidente Donald Trump, de 50% sobre todos os produtos, o surpreendeu.
"Da minha perspectiva, sendo o líder da nossa empresa nos EUA, foi uma grande surpresa. Nem nos piores pesadelos poderia imaginar que isso pudesse acontecer", disse Miranda, durante um evento da Brazilian-American Chamber of Commerce, entidade baseada em Nova York que reúne empresas americanas com negócios no Brasil.
A Suzano vende celulose e outras matérias-primas para a fabricação de papel nos Estados Unidos, país onde atua há 40 anos.
"Estamos monitorando todas as movimentações feitas pelo governo dos EUA desde a primeira rodada de implementações tarifárias, e entendemos que, naquele momento, o Brasil não fazia parte do grande foco do governo americano, especialmente por causa do nosso desequilíbrio comercial", afirmou, citando o superávit dos EUA na balança comercial com o Brasil.
Miranda disse considerar muito preocupante a falta de previsão política neste caso, mas afirmou ter muita confiança de que o governo brasileiro buscará uma solução negociada.
"Estamos tentando, com todos os meios possíveis, ajudar a encontrar um resultado negociado para isso e apoiar o governo brasileiro, e até mesmo nossos parceiros nos EUA, para encontrar um resultado negociado", afirmou o diretor.
"É muito difícil prever o que acontecerá, porque a falta de visibilidade dos próximos passos é um fator neste momento. A carta [de Trump] em si não é uma ordem executiva ou algo assim. Falta um pouco de estrutura legal sobre como e quando seria aplicada [a nova tarifa]", disse.
Miranda afirmou que a Suzano encontrará maneiras de vender seus produtos a outros mercados se for necessário, mas que a empresa deseja manter os negócios nos EUA.
"O Brasil representa 83% do total de celulose de fibra curta [nos EUA]. São cerca de 2,5 milhões de toneladas de celulose que entram no mercado americano", diz Miranda.
"Essa celulose é muito importante para os clientes na América do Norte porque gera papel higiênico de alta qualidade, que não pode ser substituído por outros tipos de papel higiênico importados do Canadá ou de outros players do mundo", afirma.
Miranda disse que os custos da nova tarifa, se for implantada de fato, terão de ser repassados aos clientes dos EUA, o que gera outras incertezas.
"A celulose é uma commodity, não temos margem para subsidiar o produto. Então, o consumidor na América do Norte terá que arcar com esse custo adicional", afirmou.
Ele vê dois cenários, com o mesmo resultado. "Em um cenário, os clientes continuarão comprando e pagando a tarifa de 50%. Na segunda maneira, você estaria removendo 50% dos concorrentes globais do mercado, e os preços também subirão, pois haverá menos concorrência", afirmou.