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Negociadores sírios evitam até dividir elevador em Genebra

As delegações costumam chegar separadamente ao Palácio das Nações, sede da ONU em Genebra, e entram no edifício das sessões por portas e elevadores diferentes


	O mediador da Organização das Nações Unidas, Lakhdar Brahimi: porta-voz da ONU compara as sessões com um julgamento, no qual o juiz seria Brahimi
 (Denis Balibouse/Reuters)

O mediador da Organização das Nações Unidas, Lakhdar Brahimi: porta-voz da ONU compara as sessões com um julgamento, no qual o juiz seria Brahimi (Denis Balibouse/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 13 de fevereiro de 2014 às 18h30.

Genebra - O ambiente é tão rarefeito nas conversas de paz entre os sírios em Genebra que as delegações do regime e da oposição nem sequer dividem o elevador para chegar à sala de reuniões.

Embora metaforicamente possa dizer-se que os membros do regime e os opositores se sentam na mesma mesa de negociações, a realidade é bem distinta já que durante as conversas estão distanciados vários metros.

As delegações costumam chegar separadamente ao Palácio das Nações, sede da ONU em Genebra, e entram no edifício das sessões por portas e elevadores diferentes.

O acesso à sala onde mantêm os encontros está vetado aos jornalistas.

Em declarações à Agência Efe, a porta-voz da ONU, Corine Mommal-Vanian, explicou que a área de reuniões está dividida em vários compartimentos: há uma sala grande e, aos lados, duas pequenas.

"Nem sempre se reúnem no mesmo ambiente, quando ficam nas salas pequenas o mediador vai de uma a outra", detalhou Mommal-Vanial, que acrescenta que sempre que coincidem na sala grande nunca falam diretamente, mas sempre através do mediador do processo de paz, Lakhdar Brahimi.

A porta-voz da ONU compara as sessões com um julgamento, no qual o juiz seria Brahimi.

"Como vamos falar sem mediador? Somos inimigos!" exclamou o membro da delegação opositora Anas al Abdah.

Em uma conversa com a Efe, Abdah desenha em um papel a sala em que transcorrem as reuniões nas quais todos estão juntos: um quadrado com duas bancadas frente a frente e uma mesa menor no meio.

"Aqui se senta Brahimi", explicou Abdah, ao mesmo tempo em que aponta com uma caneta a mesa pequena.


Nas bancadas se sentam frente a frente os membros da delegações com seus chefes negociadores, o embaixador Bashar al Jaafari, do regime, e Hadi Bahra, da oposição, no centro.

Eles expressam em voz alta e por turnos suas alegações a Brahimi, que por sua vez, se dirige à delegação concernida nesse momento, com o que, apesar de estarem na mesma sala, nunca se falam diretamente, embora estejam sentados frente a frente.

Quando terminam, as delegações deixam o local por saídas separadas e saem do edifício por portas diferentes. Da mesma maneira, comem em lugares diferentes e se alojam em hotéis diferentes em Genebra, separados por poucos quilômetros.

Em várias ocasiões, perguntado pelos jornalistas em Genebra, o próprio Brahimi minimizou a importância do fato que os integrantes das duas delegações não tenham nenhum tipo de contato direto, já que, em sua opinião, é algo lógico em um processo de negociação como este.

De fato, em sua última entrevista coletiva, o enviado da ONU e da Liga Árabe para a Síria declarou ironicamente que, embora as partes estejam familiarizadas com a outra, "não são amigos".

E o que mais ficou patente na primeira e nesta segunda rodada de conversas em Genebra são as diferenças abismais entre ambas partes, apesar de terem aceitado participar deste processo de diálogo.

De fato, excetuando o acordo humanitário na cidade de Homs para a entrada de ajuda e a evacuação de civis, e o próprio fato de reunir-se, não houve nenhum avanço.

Enquanto a oposição quer que o diálogo atual tenha como assunto prioritário a criação de um governo transitório, o regime insiste em que o mais importante é a luta contra o terrorismo.

Durante esta semana, as diferenças foram tão insolúveis que o mediador antecipou para esta quinta-feira o encontro que tinha previsto para amanhã com os "números dois" da diplomacia russa, Gennadi Gatilov, e da americana, Wendy Sherman, em uma tentativa de dar novo impulso às conversas.

Seja como for, o certo é que o regime e a oposição deram o passo de começar a dialogar, um marco depois de quase três anos de conflito.

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