Praça Tahrir, palco de protesto no Cairo (Crashsystems/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 5 de fevereiro de 2012 às 17h36.
Cairo - Os distúrbios no centro do Cairo prosseguiram pelo segundo dia, sem êxitos nas negociações empreendidas neste sábado entre manifestantes e autoridades de segurança para conseguir uma trégua.
Até o momento, o número de mortes registradas desde a noite de quinta-feira passada chega a 12 na capital e em Suez, onde também houve distúrbios nas ruas, segundo a última apuração do Ministério da Saúde egípcio.
Após uma noite de insônia nas ruas Mansur e Nubar, próximas à praça Tahrir e perto do Ministério do Interior, quase 100 manifestantes, a maioria jovens, continuaram enfrentando a Polícia com pedradas. As forças de segurança, ao contrário de sexta-feira, quase não usou gás lacrimogêneo para reprimi-los neste sábado e se limitou a responder também lançando pedras.
Segundo a Agência Efe constatou, os choques ocorreram principalmente na rua Nubar, onde uma corrente de agentes da tropa de choque, encostados a uma grade, protegia o Ministério do Interior contra a passagem dos manifestantes, muitos deles torcedores do time de futebol Al-Ahly, que não paravam de cantar exaltados o hino nacional egípcio e palavras de ordem contra a Junta Militar que governa o país.
Na rua, era possível notar restos de latas de lixo incendiadas, queimadas pelos jovens para evitar o avanço dos policiais. Partes da calçada estavam totalmente cobertas de paralelepípedos arrancados para serem jogadas pelos manifestantes e também pela polícia.
Pelo menos dois jovens foram detidos ao se aproximarem demais da barreira de segurança e foram levados a um dos furgões policiais estacionados na retaguarda, junto ao Ministério, enquanto eram espancados com cassetetes por dezenas de oficiais que os cercaram, conforme a Efe pôde constatar.
Os confrontos se prolongaram até 14h locais (10h de Brasília), quando uma delegação de grupos de ativistas, partidos e personalidades chegou ao Ministério do Interior para negociar uma trégua.
As negociações foram realizadas na própria rua, onde vários civis formaram um escudo humano para evitar que os enfrentamentos continuassem.
No entanto, a tentativa de obter uma trégua fracassou e, três horas mais tarde, a polícia voltava a disparar gás lacrimogêneo contra a multidão congregada na rua Mansur.
Um dos porta-vozes do Movimento Jovens do 6 de Abril, Mahmoud Afifi, explicou à Efe que seu grupo participou do trabalho de mediação entre os manifestantes e as forças de segurança, mas não participou dos enfrentamentos.
'As negociações para uma trégua fracassaram porque a polícia voltou a atacar as pessoas que estavam junto ao Ministério', acusou Afifi.
No entanto, um alto funcionário do Ministério do Interior, que pediu anonimato, negou essa versão dos fatos e disse à Efe que os policiais se limitam a 'garantir a segurança sem agredir os manifestantes'.
'Nós intervimos no exato momento em que percebemos tentativas de invadir o Ministério do Interior sem justificativa e com insistência', ressaltou a fonte.
Seja como for, os choques retornaram às imediações do Ministério ao cair a tarde de um dia com imagens simbólicas: policiais colocaram cachecóis do clube Al-Ahly arrancados dos manifestantes, enquanto um menino andava de bicicleta logo atrás do cordão de segurança.
Esta nova onda de violência no Egito eclodiu após a tragédia de quarta-feira passada no estádio da cidade de Port Said, onde mais de 70 pessoas morreram durante confrontos entre torcedores do Al-Ahly (do Cairo) e do Al-Masry (time local).
Um dia após esse massacre, milhares de pessoas foram às ruas do Cairo para protestar contra a inação da polícia na partida, acusando-a de não ter intervindo para impedir a tragédia.
Os distúrbios entre manifestantes e as forças de segurança no centro da capital estão se transformando em tônica habitual da agitada transição democrática no Egito, pois têm sido frequentes desde a queda do regime de Hosni Mubarak, há quase um ano.