Chipre: a ONU não poupou esforços para voltar a encarrilar o processo de negociações (REUTERS/Yannis Behrakis)
AFP
Publicado em 9 de janeiro de 2017 às 11h00.
Os líderes cipriotas, gregos e turcos iniciaram nesta segunda-feira em Genebra as cruciais negociações, apadrinhadas pela ONU, para reunificar a ilha do Chipre, dividida há mais de 40 anos, com uma perspectiva de êxito ainda incerta.
O líder cipriota turco, Mustafa Akinci, e o presidente cipriota grego, Nicos Anastasiades, chegaram, sorridentes, pouco antes das 08h00 GMT (06h00 de Brasília) ao Palácio das Nações, sede da ONU em Genebra.
Foram recebidos pelo conselheiro especial do secretário-geral da ONU para o Chipre, Espen Barth Eude, e pela chefe da força de manutenção da paz da ONU no Chipre, Elizabeth Spehar.
Já foram organizadas duas séries de discussões em novembro em Mont Pelerin, na Suíça, às margens do Lemán, que terminaram sem verdadeiros progressos.
Este terceiro encontro deve durar três dias, seguido na quinta-feira de uma Conferência sobre o Chipre, ampliada aos três "fiadores" da segurança da ilha: Grécia, Turquia e Grã-Bretanha, ex-potência colonial que dispõe de bases militares na ilha, indicou a ONU.
"Outras partes interessadas também podem participar", segundo a ONU.
Eide, o mediador norueguês da ONU, estimou que "existe uma oportunidade real de que 2017 seja o ano no qual os cipriotas decidam sozinhos virar uma página da História".
Ao chegar a Genebra no domingo, Anastasiades se declarou "confiante", enquanto Akinci disse encarar a negociação "com um espírito positivo".
A ONU não poupou esforços para voltar a encarrilar o processo de negociações iniciado em maio de 2015 e que pareceu desabar no dia 22 de novembro. Reunidos na época na Suíça, Anastasiades e Akinci só puderam constatar suas divergências.
As profundas divergências entre as duas partes persistem em temas cruciais como os litígios territoriais, de segurança ou de restituição de propriedades confiscadas.
A ilha de Chipre, que tem um milhão de habitantes, está dividida desde 1974, quando o exército turco invadiu o norte em reação a um golpe de Estado de cipriotas gregos que pretendiam unir o Chipre à Grécia, o que gerava grande inquietação entre a minoria turco-cipriota.
A invasão provocou o deslocamento entre o norte e o sul de dezenas de milhares de pessoas - 162.000 cipriotas gregos e 48.000 cipriotas turcos, segundo um relatório do Instituto de Investigação para a Paz de Oslo (PRIO) - que tiveram subitamente que abandonar seus bens.
Atualmente, a República do Chipre, integrante da UE desde 2004, exerce sua autoridade apenas sobre a parte sul, onde vivem cipriotas gregos.
Os turco-cipriotas vivem no norte, onde foi autoproclamada a República Turca do Chipre do Norte (RTCN), só reconhecida pela Turquia.
Uma futura solução de paz passa pela criação de um Estado federal com duas entidades, cipriota turca e cipriota grega, cujas fronteiras precisam ser fixadas.
Os cipriotas turcos, que eram 18% da população da ilha antes da divisão, controlam atualmente mais de 36% do território.
Nas últimas negociações, Anastasiades havia proposto que a futura entidade turco-cipriota obtivesse 28,2% do território. Akinci pedia 29,2%.
Mas as divergências persistem sobre outros temas espinhosos, como o processo de restituição, compensação ou intercâmbio para os proprietários espoliados de seus bens.
Por exemplo, várias propriedades de grego-cipriotas no norte estão agora ocupadas por turco-cipriotas, colonos turcos - são 160.000 que chegaram das regiões mais pobres da Turquia - ou estrangeiros.
O inverso ocorre no sul, com algumas propriedades que pertenceram a turco-cipriotas ocupadas por cipriotas-gregos.