Tragédia no Titanic: Relatório da Guarda Costeira aponta falhas de segurança e manipulação de dados na OceanGate, levando à implosão do submersível Titan. (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 6 de agosto de 2025 às 07h26.
A investigação da Guarda Costeira dos Estados Unidos delineou uma série de problemas com as operações da OceanGate que levaram à implosão do submersível Titan em 2023, durante uma expedição aos destroços do Titanic. A tragédia matou quatro passageiros e o CEO da companhia, Stockton Rush. A apuração apontou múltiplas falhas no cumprimento dos protocolos básicos de segurança, de acordo com um relatório final publicado nesta terça-feira, mas também a contribuição de um ambiente empresarial tóxico e avesso a controles regulatórios.
A investigação afirmou que "a falha da OceanGate em seguir os protocolos de engenharia estabelecidos para segurança, testes e manutenção de seu submersível foi o principal fator causal" para a implosão, mas também acusou a empresa de se engajar em "táticas de intimidação para escapar do escrutínio regulatório".
A OceanGate tinha um "ambiente de trabalho tóxico que usava demissões de funcionários seniores e a ameaça iminente de demissão para dissuadir funcionários e contratados de expressarem preocupações com a segurança", afirmou o relatório, que apontou ainda a manipulação de dados.
Segundo a apuração, revelou-se "um padrão perturbador de deturpação e desrespeito imprudente" pela segurança na operação do submersível, com Rush "aparentemente usando números inflados para reforçar a segurança percebida e a contagem de mergulhos do casco final" do Titan. Essa manipulação deliberada de dados criou uma falsa impressão da comprovada confiabilidade para os passageiros, na avaliação dos investigadores.
"Meros 11 mergulhos operacionais em profundidades rasas são lamentavelmente inadequados para avaliar a integridade estrutural e o desempenho a longo prazo de um submersível projetado para pressões extremas nas profundezas do Titanic", diz o texto. A OceanGate havia declarado a realização de 49 mergulhos operacionais.
Todo o poder de decisão ficava concentrado nas mãos do CEO da empresa, Stockton Rush. Embora a OceanGate tivesse um Conselho de Administração, o comportamento "dominante" de Rush "o tornou 'amplamente ineficaz', como uma 'figura decorativa para adicionar credibilidade às operações'".
"Esse estilo de liderança de cima para baixo, demonstrado em todas as operações da OceanGate investigadas pelo MBI, fomentou uma cultura na qual os objetivos operacionais se sobrepunham consistentemente às prioridades de segurança. Funcionários, especialmente aqueles em funções técnicas e operacionais, eram dissuadidos e menosprezados por expressarem preocupações, criando um ambiente em que a segurança era marginalizada e funcionários preocupados pediam demissão ou eram demitidos", ressalta o relatório.
Um exemplo se deu numa reunião com o diretor de operações em 19 de janeiro de 2018, após uma inspeção interna de segurança do primeiro casco do Titan. O profissional ressaltou que a OceanGate o havia contratado para adotar uma abordagem conservadora em relação à segurança, mas Rush pediu a palavra e disse que, apesar de o diretor ter sido contratado para isso, "chegamos a um ponto em que sua experiência e sua estimativa da maneira correta de fazer isso são fundamentalmente opostas à abordagem que eu quero adotar". O diretor foi demitido logo após a reunião.
Os investigadores americanos destacaram que "a mensagem ficou clara para os demais funcionários seniores da OceanGate: opiniões divergentes precisavam ser completamente reprimidas".
O relatório aponta que "muitos" engenheiros da OceanGate não possuíam o conhecimento especializado necessário para projetar submersíveis de águas profundas. O desdém quanto a soluções de engenharia se estendeu a outras áreas e se transformou em retaliação a todos que questionassem ou levantassem preocupações legítimas.
Em 2017, um suboficial da Reserva da Guarda Costeira dos EUA empregado pela OceanGate alertou a "diretoria" da empresa sobre a não conformidade regulatória. Rush teria respondido às preocupações "com hostilidade" e dito que poderia "comprar um congressista" se a Guarda Costeira americana "se tornasse um problema para suas operações". Em outra ocasião, após uma contratada apontar falhas no sistema de rastreamento e navegação, o CEO respondeu:
"Você tem uma atitude ruim, você não tem uma mentalidade de explorador, sabe, somos inovadores e somos cowboys e muitas pessoas não conseguem lidar com isso", disse ele, segundo o relatório.
Além de Rush, o explorador britânico Hamish Harding, o explorador francês de águas profundas Paul-Henri Nargeolet e o magnata paquistanês-britânico Shahzada Dawood e seu filho Suleman morreram quando o submersível implodiu em sua expedição no Oceano Atlântico Norte.
Após a perda de comunicação com o submarino, uma busca multinacional por sobreviventes teve início, mobilizando o mundo. Mas os ocupantes "foram expostos a aproximadamente 4.930 libras por polegada quadrada de pressão da água" quando o casco cedeu, resultando em "morte instantânea", segundo o relatório. Detritos foram encontrados no fundo do oceano, a cerca de 500 metros da proa do Titanic.
Em seu relatório, a Guarda Costeira afirmou que a OceanGate continuou a usar o Titan "após uma série de incidentes que comprometeram a integridade do casco e de outros componentes críticos do submersível, sem avaliá-lo ou inspecioná-lo adequadamente".
Também foram identificadas falhas de projeto no casco de fibra de carbono do Titan "que enfraqueceram a integridade estrutural geral".
Os destroços do Titanic estão a 640 quilômetros da costa de Terra Nova e se tornaram uma atração para especialistas náuticos e turistas subaquáticos desde sua descoberta em 1985. O navio colidiu com um iceberg e afundou em 1912, durante sua viagem inaugural da Inglaterra para Nova York, com 2.224 passageiros e tripulantes a bordo. Mais de 1.500 pessoas morreram.