Cidadãos caminham nas ruas de Sarajevo, Bósnia (Elvis Barukcic/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2015 às 18h55.
Saravejo - Para a família Salaka, convencer a administração local de que seu filho, nascido em Sarajevo, é de nacionalidade bósnia, representou um longo combate, em um país etnicamente dividido onde, paradoxalmente, os bósnios não existem oficialmente.
Faruk, filho de Elvira e Kemal Salaka, nasceu em abril de 2014, mas só pôde se inscrever no registro civil como bósnio após nove meses de uma guerra burocrática; agora acaba de se tornar o primeiro cidadão bósnio desta ex-república iugoslava desde o fim da guera (1992-1995).
Efetivamente, nos termos da Constituição imposta pelo acordo de paz de Dayton (Estados Unidos), que encerrou o conflito, milhões de habitantes da Bósnia têm várias possibilidades de nacionalidade.
Existem os bosníacos ("Bosnjak", muçulmanos), os sérvios (cristãos ortodoxos) e os croatas (católicos), as três principais comunidades do país. Mas até agora não era possível se identificar apenas com o Estado, ou seja, ser simplesmente bósnio.
Os que rejeitam se submeter a uma das três comunidades são considerados "os outros", uma categoria que existe oficialmente. Mas isso significa que não podem se beneficiar dos direitos políticos reservados a bósnios, sérvios e croatas.
Poucos dias após o nascimento de seu filho, Kemal Salaka, economista de 39 anos, tentou registrá-lo como bósnio em seu registro. "Nada mais lógico para alguém nascido na Bósnia, mas onde a Bósnia começa a lógica termina", afirmou à AFP.
Quando disseram que não era possível, Salaka entrou em contato com um advogado. "O processo administrativo terminou há duas semanas. Meu filho foi registrado como o primeiro bósnio da Bósnia", contou o pai, orgulhoso.