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Não é só a Coreia do Norte que precisa se desnuclearizar, diz Nobel da Paz

Para Akira Kawasaki, da Ican, encontro entre Kim Jong-un e Donald Trump precisa tocar em outro ponto: a desnuclearização da Coreia do Sul

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un: expectativa é de que acordo firmado entre os líderes não trará o que é preciso para desnuclearização total da região (Leah Millis/Reuters)

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un: expectativa é de que acordo firmado entre os líderes não trará o que é preciso para desnuclearização total da região (Leah Millis/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 27 de fevereiro de 2019 às 19h59.

Última atualização em 27 de fevereiro de 2019 às 20h14.

São Paulo – Apesar da promessa de que as negociações entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, resultariam no fim do programa nuclear norte-coreano, a expectativa é a de que o segundo encontro entre os líderes, que acontece em Hanói (Vietnã) até essa quinta (28), termine com um acordo aquém do que seria necessário para atingir esse ambicioso objetivo.

Objetivo esse que não veio sem polêmica. Durante o primeiro, e histórico, encontro entre Trump e Kim em Singapura, o documento assinado pelas partes foi duramente criticado pelo teor evasivo. Falava-se em “desnuclearização total da península coreana”, mas não havia qualquer detalhe a respeito de como ou quando isso seria feito. A questão, embora possa parecer marginal num primeiro momento, é central na negociação entre os líderes.

Em entrevista a EXAME, o japonês Akira Kawasaki alerta que, além do fim do programa nuclear na Coreia do Norte, os líderes precisam tocar no tema espinhoso que é a desnuclearização da Coreia do Sul. “Não há impedimentos legais que proíbam o país de abrigar armas nucleares dos Estados Unidos”, notou, “a Coreia do Sul é uma parte importante da estratégia nuclear norte-americana e esse é um fator que impacta a estabilidade na região”.

Kawasaki é dos principais líderes da campanha internacional para proibir as armas nucleares (Ican, na sigla em inglês), entidade que venceu o Nobel da Paz em 2017. Ele está acompanhando a cúpula entre Trump e Kim em Hanói para a cúpula e falou a EXAME por telefone nesta quarta-feira.

Ao lado do Japão, a Coreia do Sul é parte do chamado “guarda-chuva nuclear” dos Estados Unidos, uma espécie de pacto que prevê que um país dono de um arsenal nuclear proteja outro que não conte com armas dessa espécie. Há a preocupação de que o norte-coreano deseja usar esse fato como um impeditivo para o dar fim ao seu programa nuclear.

Verdade seja dita, Kim já deixou claro que faria isso: em dezembro de 2018, poucos meses depois do primeiro e histórico encontro em Singapura, o norte-coreano disse que não pretendia se desfazer das armas nucleares antes de os Estados Unidos fazerem o mesmo. “Os EUA precisam entender o sentido de ‘desnuclearização total da península’ e precisam estudar geografia”, disse a imprensa estatal do país asiático, em seu usual tom de ironia.

No meio desse panorama complexo e delicado, a expectativa de Kawasaki ante os resultados práticos que esse segundo encontro trará são baixas e o clima é de cautela. “O que estamos esperando é um acordo parcial, menos compreensivo do que é preciso para a desnuclearização total da região”, contou. “É preciso prudência, não podemos confiar em meras promessas de um mundo melhor”, pontuou o especialista da Ican. Essas

“Todos precisam se desnuclearizar”, pontuou Kawasaki, “e precisam também lembrar do quão horrível e desumano é o impacto de uma bomba atômica. ”

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