Esplanada dos Ministérios: governo ainda avalia que negociação, com definição de cotas de exportação, pode reverter tarifas de Trump (Leandro Fonseca)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 11 de março de 2025 às 20h17.
Última atualização em 12 de março de 2025 às 09h29.
Após os Estados Unidos imporem tarifas de 25% sobre a importação de aço e alumínio do Brasil, técnicos de comércio exterior reiteraram a necessidade de cautela nos próximos passos.
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), responsável por coordenar a pauta, não se pronunciou oficialmente na terça-feira, 11, sobre as tarifas. No entanto, fontes internas da pasta afirmaram à EXAME, em caráter reservado, que o ministro Geraldo Alckmin, também vice-presidente do Brasil, abordaria o assunto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo dia.
Ambos os líderes aguardam que o governo dos Estados Unidos se manifeste oficialmente sobre a questão nesta quarta-feira, 12. Ainda não há clareza sobre se o presidente Donald Trump manterá a decisão de aplicar as tarifas ou se abrirá espaço para negociações com o Brasil.
Além disso, uma nova reunião, que contará com a presença do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está programada para ocorrer ainda hoje, visando discutir a situação de forma mais detalhada.
Nas conversas com empresários brasileiros do setor de aço e alumínio, o governo tem ouvido pedidos de cautela para que eventuais retaliações do Palácio do Planalto não azedem as relações comerciais entre os dois países.
Os empresários brasileiros, relataram técnicos do governo, têm sinalizado que as companhias norte-americanas são contra a taxação dos produtos e buscam reverter a decisão do presidente Donald Trump para evitar um encarecimento das obras na maior economia do mundo.
A avaliação é de que o "tarifaço" de Trump provocará mais inflação.A ideia debatida no governo é encontrar uma solução que pode ser semelhante à adotada em 2018, quando Trump anunciou medidas semelhantes.
No primeiro mandato, o republicano também anunciou tarifas de 25% sobre aço e de 10% sobre alumínio. A medida, contudo, nunca chegou a funcionar com força total. Canadá e México foram isentos da taxa por estarem dentro do acordo de livre comércio da USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá).
Outros países, como Brasil, Argentina, Coreia do Sul e Austrália, entraram em um sistema de cotas que, quando excedidas, resultam em sobretaxas.
O Mdic tem argumentado que Brasil e Estados Unidos têm uma corrente de comércio de cerca de US$ 80 bilhões, com um superávit de US$ 200 milhões para os americanos. Além disso, dos dez produtos que o país mais importa dos Estados Unidos, em oito deles a tarifa é zero.
Além disso, nos demais casos, a tarifa média ponderada efetivamente recolhida é de 2,73%, bem abaixo do que sugerem as tarifas nominais.
A pasta ainda tem afirmado que o Brasil responde pelo sétimo maior superávit comercial de bens dos Estados Unidos. Se somados bens e serviços, o superávit comercial dos Estados Unidos como Brasil supera os US$ 25 bilhões.