FOTO DE ARQUIVO: jovens protestam durante a cúpula da ONU (Hannah McKay/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de setembro de 2019 às 16h35.
Cerca de mil jovens dos cinco continentes se reúnem neste sábado 21, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, para pressionar políticos a adotarem ações imediatas para reduzir as consequências das mudanças climáticas. O evento acontece um dia após a greve global do clima, que mobilizou milhões de pessoas em 130 países.
Participam da ação ainda empreendedores, executivos, diplomatas e representantes da maior parte dos 193 Estados-membros da ONU. Na segunda, a instituição é palco da cúpula global do clima e, na terça, da Assembleia Geral das Nações Unidas, principal encontro de líderes mundiais.
Na abertura do evento, a ativista sueca Gretha Thunberg, uma das líderes das manifestações, exaltou os resultados da greve do clima. "Mostramos que estamos unidos e que nós somos imparáveis" afirmou, sob aplausos.
O secretário-geral das Nações Unidas, o português Antônio Guterres, defendeu a necessidade de paz entre as pessoas e o planeta, dizendo que as mudanças climáticas têm criado mais conflitos ao redor do mundo ao forçarem migrações e tornarem regiões improdutivas.
Segundo ele, graças ao movimento já há impacto na atuação de cidades, governos e do setor privado. "Ainda estamos perdendo a corrida, a mudança climática está correndo mais rápido que nós, mas há uma mudança e, largamente, devido a vocês", afirmou ao se dirigir aos jovens.
O jornal O Estado de S. Paulo entrevistou jovens diferentes regiões do planeta no evento e, de todos, ouviu sobre a necessidade de os políticos serem responsabilizados pelas consequências da crise do clima e implementarem mudanças concretas. Também pediram mais participação dos jovens nos processos de tomada de decisão e na política.
"Queremos mais jovens sentados à mesa tomando decisões. Cada estado de cada país precisa de jovens em alinhamento com as políticas locais", disse o norte-americano Jaylen Boone, observador da Associação das Nações Unidas dos EUA, para quem a renovação política é crucial. "As mudanças climáticas já estão aqui: agora é uma questão de justiça climática".
São semelhantes as palavras de Mirana Andriarisoa, que viajou quase 14 mil quilômetros de Madagascar até Nova York. Em seu país, oito em cada dez habitantes trabalham na zona rural, o que aumenta a vulnerabilidade a secas, enchentes, tempestades e extremos climáticos.
"Madagascar tem sido muito afetado e as pessoas estão ficando mais pobres", disse ela, sobre a nação de 25 milhões de habitantes localizada no continente africano. "Os países desenvolvidos são muito mais responsáveis pelas mudanças climáticas, então eles precisam tomar atitudes imediatas. Precisamos de ações mais sérias e de justiça climática".
Um documento da Federação Internacional da Cruz Vermelha (IFCR) divulgado na quinta-feira estimou que o número de pessoas precisando de ajuda humanitária por causa de mudanças climáticas pode chegar a 200 milhões por ano em 2050 se nada for feito. Intitulado 'O custo de não fazer nada', o estudo mostra ainda que, nos próximos onze anos, os custos anuais podem chegar a US$ 20 bilhões.
A espanhola María Laín Hernandez Ballesteros, que faz mestrado em cooperação internacional no seu país, reforçou uma das mensagens mais repetidas nas marchas de sexta: 'nossa casa está pegando fogo' e 'não há planeta B'. "É agora ou nunca. As decisões dos políticos vão determinar o nosso futuro e estamos aqui para falar diretamente com eles", afirmou. "É muito importante que haja novos políticos e que as gerações mais novas sejam ouvidas nas decisões". Hoje, há 1,8 bilhão de jovens no mundo, o maior número da história.
Eleala Avanitele, voluntária da Federação Internacional da Cruz Vermelha em Tuvalu, país formado por ilhas na Oceania, diz que as nações insulares são as mais afetadas pelas mudanças climáticas, em especial por causa da elevação do nível do mar. "Queremos mostrar que a mudança climática é uma realidade nos nossos países, é a nossa vida diária. Só estamos pedindo respeito e ajuda".
"Em Bangladesh, somos as vítimas inocentes das mudanças climáticas, um dos dez países mais vulneráveis a eventos climáticos. É uma população enorme (183 milhões de habitantes) e os extremos climáticos são muito sérios para nós. Precisamos mudar essa realidade", afirmou Tassin Udin, de 21 anos, que pede união dos jovens contra a falta de atitude dos políticos.
Marafi Dafaalla, representante da organização Arab Youth Climate Movement no Qatar, diz que existem movimentos em seu país para aumentar a conscientização sobre desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas. O trabalho de seu grupo é a ir a universidades e escolas para falar com jovens sobre o tema.
Ela diz, inclusive, que parte da classe política tem apoiado essas medidas. "Fomos convidados pelo ministério do Meio Ambiente do Qatar para representar a juventude, eles nos apoiam e têm feito esforços para isso".