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Na falta de problemas, coronavírus trouxe a volta do Estado Islâmico

Grupo volta a promover ataques mortais com o uso de munições pesadas e atiradores de elite depois de meses se escondendo em cavernas no Iraque

Estado Islâmico: grupo voltou a promover ataques sofisticados neste final de semana (Stringer/Reuters)

Estado Islâmico: grupo voltou a promover ataques sofisticados neste final de semana (Stringer/Reuters)

CA

Carla Aranha

Publicado em 4 de maio de 2020 às 18h23.

Última atualização em 4 de maio de 2020 às 20h25.

Depois de anos submerso, o Estado Islâmico, um dos grupos terroristas mais letais da história, voltou a promover ataques sofisticados neste final de semana. No sábado, dia 2, e no domingo, dia 4, uma série de ações coordenadas aterrorizou o Iraque, onde o grupo nasceu e fincou raízes.

Os militantes atacaram forças de segurança na região central do país e nas proximidades de Bagdá. Pelo menos dez militares morreram e dezenas foram feridos.

O Estado Islâmico descobriu uma vantagem estratégica durante a pandemia do coronavírus. Com cerca de 50% das forças de segurança afastadas de suas atividades de patrulhamento devido à quarentena, o grupo resolveu aproveitar para planejar ataques sofisticados, que envolvem um cuidadoso preparo.

Até então, o Estado Islâmico vinha se escondendo no deserto, pouco fiscalizado por forças de segurança, e em cavernas em lugares remotos.

Neste final de semana, barreiras militares, que são comuns nas estradas do Iraque, foram repentinamente atacadas com bombas, disparos de metralhadoras e tiros certeiros disparados por snipers.

Normalmente, esses atiradores de elite são pagos, o que levanta questionamentos sobre os financiamentos que o grupo estaria recebendo, segundo fontes diplomáticas. Os salários são de no mínimo de 2 mil dólares mensais, o que é uma enormidade num país empobrecido por inúmeros guerras e com a moeda bastante desvalorizada em relação ao dólar.

Cerca de 1.185 dinares correspondem a 1 dólar. É preciso carregar várias notas na carteira para pagar por produtos básicos como um sabonete ou uma refeição barata em uma lanchonete.

“Era o pior que poderia nos acontecer, em um momento em que estamos fragilizados pela covid-19 e os preços do petróleo estão no chão, reduzindo nossa principal fonte de receita”, diz o engenheiro iraquiano Omar Jeber, de 30 anos.

O caos político no país, que mesmo depois de cinco meses da eleição parlamentar ainda não tem um governo formado, é outro fator que joga a favor do grupo terrorista.

O Iraque passou por uma guerra contra o Estado Islâmico entre 2014 e 2017. O grupo havia tomado cerca de um terço do país. Cidades importantes, como Mossul, com quase 2 milhões de habitantes na época, caíram nas mãos dos militantes. Pelo menos 40 mil pessoas morreram e milhares de dezenas ficaram desabrigadas.

Uma força de coalizão formada pelos Estados Unidos e as forças de segurança do Iraque conseguiram vencer o Estado de Islâmico de Mossul e outras cidades. Algumas unidades do exército iraquiano tiveram baixas de até 50%, bem maiores do que as médias tradicionais nas guerras.

Mas alguns líderes do Estado Islâmico acabaram conseguindo escapar. Alguns se dirigiram para a Síria e outros para a Turquia. Aos poucos, começaram a voltar para o Iraque. O governo iraquiano estima que entre 2.500 e 3.000 soldados do Estado Islâmico estão em operação no país.

“Nos anos em que dominaram parte do país, exploraram poços de petróleo ilegalmente e contrabandearam antiguidades para o exterior, no mercado negro”, diz o iraquiano Dlawer Ala’Aldeen, presidente do Middle East Research Institute.

Predomina agora um temor sobre a capacidade de coordenação do grupo. Até o último final de semana, os ataques eram pontuais, aqui e ali, geralmente voltados a assassinatos de seus desafetos.

As emboscadas contra forças de seguranças fortemente armadas no último final de semana reascenderam as preocupações com novos ataques que possam ocorrer. Com menos tropas em campo para controlar os movimentos do grupo, será uma equação complexa.

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