Biden e Bolsonaro: líderes dos EUA e Brasil se reúnem nesta semana (Michael M. Santiago/Mateus Bonomi/Anadolu Agency/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 7 de junho de 2022 às 13h53.
Última atualização em 7 de junho de 2022 às 14h06.
Os Estados Unidos sediam esta semana a Cúpula das Américas de 2022, com suas autoridades com grandes esperanças de que o governo Joe Biden ajude a reparar os danos da era Donald Trump às relações e a reafirmar a primazia do país diante da crescente influência da China na América Latina.
Biden deve presidir a abertura oficial na quarta-feira, 8, em Los Angeles, da primeira cúpula sediada pelos EUA desde a reunião inaugural em 1994. Ele deve tentar forjar uma visão comum após anos de relativa negligência de seu antecessor que, com seu lema "America First", não participou da última cúpula em Lima (Peru) em 2018. Saiba mais sobre os temas que devem pautar as discussões dos líderes este ano:
A Casa Branca insistiu que está buscando um acordo migratório para ser assinado na Cúpula das Américas, realizada até sexta-feira, apesar das ausências de Venezuela, Nicarágua, Cuba e México, entre outros países. Com Biden sob pressão por números recordes de migrantes na fronteira sul dos EUA, um funcionário de alto escalão do governo americano explicou que na declaração que está sendo trabalhada, os participantes compartilharão sua visão sobre "como enfrentar juntos o desafio migratório".
Um dos principais focos da crise migratória está no Haiti, onde a violência das gangues, a fome, a crise política e a destruição causada pelo terremoto de 2021 estão levando a população a um acelerado processo migratório. A Guarda Costeira dos EUA capturou 3,9 mil haitianos até agora neste ano, mais do que o dobro do número do ano passado, e já contabilizou 175 mortos ou desaparecidos no mar.
Alguns líderes da América Central se irritaram com as exigências dos EUA para o combate à corrupção de seus governo, alegando este como um fator de migração de Honduras, Guatemala e El Salvador.
A América Latina está passando por um momento de grande incerteza política devido à erosão de suas instituições e aos desgastes econômico e social causados pela pandemia de covid-19. Embora a população latino-americana represente apenas 8,4% do total global, a região é responsável por 32,1% das mortes relatadas por covid-19, uma doença que, segundo os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), causou direta e indiretamente 14,9 milhões de mortes em todo o mundo.
Como consequência da prolongada crise sanitária e social, a pobreza na região atingiu níveis sem precedentes e teve um forte impacto sobre a desigualdade e o emprego. Nada menos que 20 milhões de empregos foram destruídos, um terço da população vive na pobreza, e a taxa de indigência aumentou de 13,1% da população em 2020 para 13,8% em 2021, um retrocesso de 27 anos, de acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
Porém, a pandemia também serviu de pretexto para que alguns governantes se agarrassem mais ao poder e usassem indevidamente o estado de emergência, um regime constitucionalmente estabelecido para situações especiais que permite medidas excepcionais.
A Cúpula das Américas visa um "futuro sustentável", um desafio de transição ecológica que envolve de um lado os EUA, segundo maior emissor mundial de carbono, e de outro a América Latina, uma das regiões mais impactadas pela crise climática e que não conseguiu reduzir o desmatamento de suas florestas.
Em um mundo pós-pandemia que visava mudar paradigmas, as emissões de gases de efeito estufa estão quase nos mesmos níveis de antes de 2019, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Estudos independentes citados pelo Pnuma sugerem, por exemplo, que os EUA e o Canadá deveriam fazer esforços adicionais consideráveis para cumprir suas metas, e até mesmo preveem que países como Brasil e México, as duas maiores economias da América Latina e os principais contribuintes para as emissões na região, registrarão valores mais altos em 2030 do que em 2010, assim como a Argentina.
Enquanto os esforços do Hemisfério Norte devem se concentrar na substituição de combustíveis fósseis por energias renováveis, no Sul há uma necessidade urgente de conter o desmatamento.
A cúpula começa com apenas três mulheres na presidência de países do continente americano, um reflexo da desigualdade de gênero de uma região cuja lacuna nessa área aumentou durante a pandemia de covid-19.
A presidente de Honduras, Xiomara Castro, e as dos países caribenhos de Barbados e Trinidad e Tobago, Sandra Mason e Paula-Mae Weekes, respectivamente, serão as únicas mulheres chefes de Estado em uma cúpula ameaçada por boicotes e sem uma agenda clara.
A pequena presença de mulheres na cúpula destaca a histórica desigualdade de gênero na política da região, onde apenas 14 mulheres foram chefes de Estado ou de Governo nos últimos 30 anos.
A invasão da Ucrânia pela Rússia desencadeou um "terremoto global" cujas ondas de choque também estão sacudindo as Américas que não têm uma visão unificada do ponto de vista político e foram atingidas pelos efeitos econômicos da guerra.
Em um extremo estão os EUA, porta-bandeira do isolamento internacional da Rússia sob a presidência de Vladimir Putin. No outro estão Cuba, Venezuela e Nicarágua, que a consideram uma aliada fundamental e que os ajuda a contornar as sanções que também enfrentam por parte do Ocidente.
Por fim, no meio há toda uma amálgama de tonalidades onde as três grandes economias latino-americanas - Brasil, México e Argentina - se posicionam.
Para o presidente do Brasil, o encontro com o líder americano na Cúpula das Américas será um "recomeço na relação bilateral".
Questionado em entrevista ao SBT News se o encontro seria um recomeço, Bolsonaro confirmou, mas ponderou que tudo "depende do que acontecer". "Ele não vai, no meu entender, querer impor algo que eu deva fazer na Amazônia. Eu acho que ele me conhece, conhece mais do que a mim, conhece a região. Não podemos relativizar a nossa soberania", afirmou.
"Cúpula é um evento que sem o Brasil é bastante esvaziado. Terei uma reunião bilateral por 30 minutos com Biden, não sei o que ele vai falar de lá para cá, se entrar na questão ambiental já sei como proceder. Vários países querem relativizar a soberania da Amazônia, como se aquilo fosse algo do mundo, e não é assim. Então não entra na discussão", afirmou o chefe do Executivo, que defendeu "equipar as Forças Armadas" para "exercer um certo poder de dissuasão" sobre outros países "populosos" interessados na Amazônia.
De acordo com Bolsonaro, há brasileiros que "votaram mais de uma vez" nas eleições americanas, mas isso não será discutido no encontro com Biden. Ele também negou que vá participar do Congresso Conservador da Flórida, que acontecerá no mesmo momento em que estará nos Estados Unidos.
Sobre o desaparecimento de um jornalista inglês e um indigenista na Amazônia, Bolsonaro disse que "apenas duas pessoas" viajarem em um barco na região é uma "aventura que não é recomendada que se faça". "Tudo pode acontecer: pode ser um acidente, pode ser que tenham sido executados. A gente espera e pede a Deus que sejam encontrados brevemente".
Em relação às eleições nacionais, Bolsonaro voltou a dizer que seu vice já está definido. "Quando você expõe uma pessoa, passa a ser alvo. Vão começar a metralhar essa pessoa. Já está definido. Só digo que essa pessoa nasceu em Minas Gerais", afirmou. O principal cotado para o posto é o general Braga Netto que é mineiro.
(Estadão Conteúdo com agências internacionais)