Biden em discurso na COP26: pressão para ir além das promessas (Andy Buchanan/Pool/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 1 de novembro de 2021 às 13h54.
Última atualização em 1 de novembro de 2021 às 18h00.
Em um dos discursos mais aguardados do dia, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou nesta segunda-feira, 1º, na COP26, conferência do clima em Glasgow, na Escócia.
Como já havia feito em discursos anteriores, Biden tentou reforçar seu apoio à cooperação internacional e disse que a pandemia deixou "dolorosamente claro" que não é possível resolver problemas como a crise climática somente dentro das fronteiras.
Durante a fala, argumentou também que o combate à crise climática e a transição global para uma economia de baixo carbono trarão aos países uma "oportunidade" de desenvolvimento e geração de empregos. "Não só para os EUA, mas para todo o mundo", disse.
Biden afirmou que um "futuro de equidade e energia limpa" poderia criar "milhões de empregos bem remunerados no processo" em todo o planeta.
O presidente americano defendeu também que essa transição é capaz de aumentar o padrão de vida em todo o mundo — e que este é um imperativo "moral" e "econômico" dos líderes reunidos na COP26.
Apesar das promessas na COP26, Biden enfrenta resistência para alguns dos planos dentro do próprio país. Seus pacotes de investimento na transição para uma economia de baixo carbono e maiores gastos sociais ainda precisam de aval do Congresso, o que tem sido difícil de obter.
Após acordos para reduzir os valores dos pacotes, a proposta atual é de 1,75 trilhão de dólares em medidas sociais e 1,2 trilhão de dólares para infraestrutura. O objetivo do governo americano é posicionar a economia dos EUA para competir com a China em frentes importantes na nova era, como a energia limpa.
Como já havia feito anteriormente, Biden criticou novamente a China no discurso na COP. A China é o país mais poluente do mundo, seguido pelos próprios Estados Unidos.
Em uma ausência sentida, o presidente chinês, Xi Jinping, não compareceu à COP26 ou à reunião do G20, grupo das 20 principais economias do mundo, que também aconteceu neste fim de semana na Itália.
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, também não foi a Glasgow para a COP26, comparecendo somente à cúpula do G20, em Roma.
Os EUA planejam cortar as emissões de carbono pela metade até 2030 (na comparação com níveis de 2005) e atingir a neutralidade completa nas emissões até 2050.
Planos parecidos têm sido divulgados pelos países desenvolvidos, mas ainda está pouco claro como farão para chegar lá. O comunicado final do G20 neste domingo foi um balde de água fria nas expectativas para a COP, uma vez que não trouxe compromissos claros de cortes de emissão.
Em relatório divulgado dias antes da cúpula do G20 e da COP, o Programa Ambiental das Nações Unidas apontou que o mundo perdeu a chance de usar a retomada pós-covid para mudar seu modus operandi.
Só um quinto dos estrondosos gastos voltados à recuperação foi usado para cortar emissões. E mesmo que todas as promessas até agora sejam cumpridas, a redução nas emissões de carbono até 2030 será de somente 7,5%. Seria necessário cortar 45% para evitar a alta de 1,5 grau Celsius.
Os Estados Unidos também levaram à COP26 um plano para ajudar países em desenvolvimento a reduzir suas emissões.
A Casa Branca afirmou que o programa consiste em 3 bilhões de dólares por ano em investimento até 2024. O plano foi batizado de PREPARE (President's Emergency Plan for Adaptation and Resilience, na sigla em inglês). O enviado especial para o clima, John Kerry, disse que o setor privado também fará propostas para ajudar com a transição dos países.
O financiamento aos países mais pobres é um dos pontos-chave dos debates na COP26. Mais cedo, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, relembrou a promessa feita na conferência anterior, em Paris, de que os países mais ricos empregariam 100 bilhões de dólares em apoio às nações mais pobres.
“A implementação do financiamento de 100 bilhões de dólares por ano a países pobres e em desenvolvimento é crucial”, afirmou Guterres.