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Na China, diminuição da população coloca em risco plano ambicioso para trem-bala

Especialistas passaram a questionar se o plano de alcançar 45 mil km de trilhos até 2035 seria mesmo necessário

Trens de alta velocidade viram símbolo de progresso e investimento em infraestrutura na China, mas com alto custo financeiro e questionamentos sobre viabilidade. (Leandro Fonseca/Exame)

Trens de alta velocidade viram símbolo de progresso e investimento em infraestrutura na China, mas com alto custo financeiro e questionamentos sobre viabilidade. (Leandro Fonseca/Exame)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 22 de novembro de 2024 às 10h55.

Desde que assumiu a liderança em 2012, Xi Jinping ampliou significativamente o plano existente de construção de ferrovias de alta velocidade na China. O objetivo inicial era ligar as maiores cidades do país com 16.000 km de trilhos, mas o projeto foi expandido para mais de 30.000 km, com a meta de alcançar 45.000 km até 2035. O custo estimado para essa expansão colossal ultrapassa US$ 500 bilhões (R$ 2,9 trilhões) nos últimos cinco anos, enquanto a estatal China State Railway Group acumula uma dívida que ultrapassa US$ 860 bilhões (R$ 5 trilhões), segundo reportagem do The Wall Street Journal.

Essa rede ferroviária é considerada um símbolo do progresso chinês, especialmente quando comparada aos Estados Unidos, que têm dificuldades para implementar projetos similares. No entanto, críticas crescentes apontam que a expansão não é mais economicamente viável, com muitas rotas duplicando trajetos existentes e servindo regiões de baixa densidade populacional. Além disso, a ferrovia enfrenta dificuldades devido à redução do crescimento populacional e à desaceleração econômica.

Estima-se que a população da China encolherá em 200 milhões de pessoas nas próximas três décadas, reduzindo a demanda por transporte. Em áreas rurais, como o condado de Fushun, novas estações ferroviárias estão subutilizadas. Em uma estação com capacidade para mil passageiros, apenas cerca de 20 viajantes foram vistos em um dia recente.

O impacto da pandemia de Covid-19 também dificultou o aumento da receita. Embora as viagens tenham crescido 18% no primeiro semestre de 2024, as receitas operacionais permaneceram praticamente inalteradas. Com muitos projetos localizados em regiões rurais, os custos de manutenção são elevados e não geram o retorno financeiro necessário.

Há também o agravante de que algumas linhas duplicam trajetos já existentes, como a rota entre Chongqing e Kunming. Uma nova linha de US$ 20 bilhões (R$ 116 bilhões) reduzirá o tempo de viagem de cinco para duas horas, mas críticos questionam a necessidade de tal investimento, já que a infraestrutura atual atende adequadamente a região.

Os benefícios econômicos dessas expansões são incertos. Gao County, no sul de Sichuan, terá uma nova estação de alta velocidade em breve, mas a região já enfrenta declínio populacional e poucas oportunidades de emprego. Enquanto isso, vilarejos próximos têm suas terras requisitadas para obras, agravando o êxodo rural.

Custos sociais e oportunidades perdidas

Especialistas argumentam que o foco em infraestrutura de grande escala desvia recursos de áreas prioritárias, como a construção de uma rede de segurança social mais robusta e o aumento de oportunidades econômicas para a população rural. Economistas sugerem que a China deveria investir em linhas ferroviárias tradicionais, que também transportam cargas, e em avanços tecnológicos, como semicondutores avançados.

Embora a ferrovia de alta velocidade seja promovida como um símbolo de orgulho nacional, ela também reflete desigualdades econômicas. Zhao Jian, da Universidade Jiaotong de Pequim, destacou que muitas rotas operam com capacidade muito abaixo do esperado, tornando a manutenção onerosa e insustentável.

Desde 2019, a China State Railway opera de maneira mais independente do governo central, mas continua dependendo de subsídios estatais. Apesar de reformas que reduziram custos administrativos e resultaram em um pequeno lucro em 2023, algumas subsidiárias enfrentam déficits significativos. Uma unidade em Sichuan, por exemplo, registrou prejuízo de US$ 1 bilhão (R$ 5,81 bilhões) no ano passado.

Os preços das passagens são mantidos baixos para beneficiar a população. Um estudo acadêmico revelou que os bilhetes chineses custam menos de um quarto da média global, o que dificulta a rentabilidade. Em contrapartida, quando aumentos de 20% foram anunciados para algumas linhas, a medida enfrentou forte resistência pública.

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