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Na China, a ressaca: queda no consumo de bebidas alcoólicas gera desafios econômicos

Crise econômica e rejeição dos jovens à cultura da bebedeira pressionam vendas e forçam adaptação de grandes marcas

Publicado em 12 de junho de 2025 às 12h31.

A indústria de bebidas alcoólicas na China, a maior do mundo por volume e valor, enfrenta um momento desafiador.

Dados da consultoria IWSR indicam que o país consumiu cerca de 20% de todo o álcool produzido globalmente em 2021, totalizando um quarto do valor do mercado internacional. No entanto, o quadro atual de consumo está se deteriorando, como mostra reportagem da revista The Economist.

A queda no consumo de bebidas tradicionais

A bebida tradicional baijiu perdeu mais da metade de sua produção desde 2016, com retração especialmente acentuada nas categorias de menor preço. A cerveja, segundo produto alcoólico mais consumido, viveu seu auge em 2013 e desde então vê volumes em queda.

Cinco das sete maiores cervejarias chinesas registraram queda nas vendas no último ano. O mercado de vinhos, por sua vez, encolheu cerca de dois terços em cinco anos.

Pressões externas e internas no mercado de bebidas

A pressão vem de três frentes. Em primeiro lugar, o governo reforçou sua campanha contra excessos, proibindo o consumo de bebidas alcoólicas em eventos oficiais. As medidas fazem parte de um esforço para coibir desperdícios e práticas associadas à ostentação de poder, com punições severas exibidas em veículos de comunicação controlados pelo Estado.

Segundo, o desaquecimento da economia agrava o cenário. Afetado pelo fechamento em massa de bares, karaokês e restaurantes durante a pandemia, o setor ainda sente os efeitos da retração no consumo das famílias, que preferem economizar e conter gastos, especialmente diante da crise no mercado imobiliário.

Por fim, ocorre uma mudança geracional: os jovens chineses mostram menos interesse por álcool e mais por bebidas à base de cafeína e açúcar. Eles rejeitam a cultura corporativa de consumo de álcool socialmente como forma de ascensão profissional. Mais de 80% dos jovens entrevistados em levantamento estatal declararam-se “enojados” por tradições que valorizam o consumo excessivo de bebidas.

O impacto sobre o setor é profundo. Importadores de vinho estrangeiro, por exemplo, enfrentam tarifas de até 218% sobre vinhos australianos, além de restrições a bebidas francesas e cervejas americanas, como resposta às tensões comerciais com os Estados Unidos.

O futuro da indústria: um mercado mais seletivo

Para enfrentar a retração, fabricantes estão reduzindo o preço de produtos populares. O preço de coquetéis enlatados recuou de mais de 13 yuan em 2022 para menos de 10 yuan em 2025, segundo lojistas. A Bud APAC, braço asiático da AB InBev, aposta em marcas “sub-premium” e na ampliação do consumo em casa.

Novos produtos surgem como estratégia para conquistar o público jovem. Em Chongqing, uma vinícola lançou em 2019 um licor de ameixa com teor alcoólico mais leve, cujas vendas cresceram 30% no último ano. A Kweichow Moutai, maior destilaria de baijiu, lançou nos últimos três anos baijiu em formatos alternativos como sorvete, café e chocolate.

Como resultado, o mercado alcoólico chinês tornou-se mais seletivo: ainda existe demanda, mas ela parte de consumidores que realmente apreciam bebida. O resultado é um mercado menor, mais cuidadoso e mais voltado a produtos de nicho. Para sobreviver, as empresas terão que inovar e se adaptar às novas preferências e restrições, em um cenário que já não convida ao consumo exuberante.

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