Morales: "Sinto muito que nem a inteligência da polícia boliviana nem as Forças Armadas nos avisaram que havia um golpe a caminho" (Edgard Garrido/Reuters)
Reuters
Publicado em 24 de dezembro de 2019 às 16h53.
Última atualização em 24 de dezembro de 2019 às 16h55.
Buenos Aires - O ex-líder boliviano Evo Morales disse à Reuters que planeja voltar ao seu país até o próximo Natal, depois de se exilar na vizinha Argentina por desdobramentos de eleições polêmicas.
Em uma entrevista em Buenos Aires, onde encontrou refúgio após uma tentativa altamente contestada de um quarto mandato em outubro, o ícone socialista sul-americano disse que está ajudando seu partido a se preparar para uma próxima eleição especial.
Integrantes de sua coalizão Movimento para o Socialismo (MAS) se reunirão em Buenos Aires no domingo para começar a escolher seus candidatos. Questionado sobre seus próprios planos, e se ele retornará à Bolívia a essa altura no próximo ano, Morales declarou que não havia dúvida sobre isso: "Eu voltarei".
"Por razões de segurança, não posso entrar em detalhes sobre o plano que temos para retornar à Bolívia. Mas é preciso voltar ao país", afirmou.
Ele disse ter certeza de que sua coalizão reconquistará a Presidência. A vitória de Morales nas eleições de outubro foi anulada devido a irregularidades detectadas por auditores internacionais. O escândalo provocou tumultos mortais e forçou Morales a renunciar e deixar a Bolívia em meados de novembro.
Ele nega qualquer irregularidade e disse que seu único pesar é não ter tido informações precoces sobre o que ele chama de golpe que o derrubou. "Ficamos surpresos devido à falta de informação", afirmou.
"Sinto muito que nem a inteligência da polícia boliviana nem as Forças Armadas nos avisaram que havia um golpe a caminho", acrescentou Morales.
Os parlamentares nomearam um tribunal eleitoral que deverá marcar uma data até 2 de janeiro para novas eleições dentro de 120 dias. Enquanto isso, promotores emitiram um mandado de prisão contra Morales por conspiração, terrorismo e financiamento do terrorismo, promovido pelo governo da presidente interina Jeanine Áñez, ex-senadora e oponente de Morales.
Morales descartou a possibilidade de candidatar-se e nomeou Luis Arce Catacora, seu ex-ministro da Economia, e Andronico Rodríguez, um importante chefe do sindicato dos fazendeiros de coca, como possíveis candidatos à Presidência pelo MAS.