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Musk x Trump: como briga entre magnatas pode virar um pesadelo para o presidente americano

Bilionário chamou de “abominação” o projeto fiscal mais ambicioso do governo; silêncio de Trump diante das críticas durou pouco

Elon Musk e Donald Trump: fontes próximas ao governo dizem que o presidente está frustrado com a postura do bilionário (Kevin Dietsch / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images/AFP)

Elon Musk e Donald Trump: fontes próximas ao governo dizem que o presidente está frustrado com a postura do bilionário (Kevin Dietsch / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images/AFP)

Publicado em 5 de junho de 2025 às 10h37.

Última atualização em 5 de junho de 2025 às 17h46.

A relação entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o bilionário Elon Musk, dois dos homens mais poderosos do mundo, entrou em uma fase de turbulência.

Desde que Musk usou seu perfil no X (antigo Twitter) para chamar o principal projeto legislativo da atual gestão Trump de “abominação nojenta”, a dinâmica entre os dois deixou de ser marcada por elogios públicos para revelar sinais de desgaste.

A crítica de Musk mirava o chamado One Big Beautiful Bill, um pacote de corte de impostos e gastos aprovado pela Câmara e considerado a principal vitrine econômica de Trump. “Vergonha para quem votou nisso: vocês sabem que erraram”, escreveu o empresário. O tom duro dominou o noticiário político e surpreendeu até mesmo aliados da Casa Branca.

O silêncio de Trump durou pouco. Mais cedo nesta quinta-feira, 5, o presidente usou seu perfil na rede social TruthSocial para sugerir que o governo encerrasse os contratos e subsídios federais direcionados a Musk.

Uma briga de gigantes

Segundo o Wall Street Journal, um funcionário do alto escalão da Casa Branca afirmou que o presidente não entendeu por que o bilionário intensificou os ataques mesmo após meses de colaboração direta no governo.

A decisão recente de retirar a indicação de Jared Isaacman, aliado de Musk, para chefiar a Nasa também teria aumentado o atrito. Musk teria se queixado a pessoas próximas de ter investido “centenas de milhões” para apoiar Trump na eleição, e em troca viu seu indicado ser descartado, segundo pessoas com conhecimento direto do assunto.

O histórico de colaboração entre os dois inclui a atuação de Musk como conselheiro informal da Casa Branca e sua liderança no Departamento de Eficiência Governamental (Doge).

Ao se despedir do cargo, foi homenageado por Trump no Salão Oval, em uma cerimônia descrita como calorosa. Mas, segundo o WSJ, divergências vêm se acumulando nos bastidores, especialmente em relação à política comercial da gestão e, agora, ao megaprojeto fiscal.

Musk incomodado

Musk, dono da Tesla e da SpaceX, já havia expressado incômodo com o projeto anteriormente, principalmente por conta de dispositivos que afetam os incentivos fiscais para veículos elétricos, um ponto sensível para seus negócios. Com a rejeição de Isaacman, que tem laços estreitos com a SpaceX, Musk se sentiu ainda mais à vontade para subir o tom, de acordo com o Wall Street Journal.

Apesar das críticas, Musk evitou mencionar Trump diretamente, o que pode indicar uma tentativa de manter canais abertos. Trump, por sua vez, resiste em transformar o embate em uma disputa pública, possivelmente para preservar uma figura que ainda vê como estratégica. “É cedo para saber como essa relação vai evoluir”, disse um funcionário da Casa Branca ao WSJ. “Trump pode perdoar, mas não esquece.”

A ofensiva de Musk animou setores do Partido Republicano mais críticos ao projeto. Mas, até agora, a base de apoio de Trump no Congresso se mantém firme. Com a oposição unificada dos democratas, mesmo pequenas dissidências republicanas podem ameaçar o avanço da proposta no Senado, que ainda precisa ajustar o texto antes da meta de sanção presidencial até 4 de julho.

O presidente da Câmara, Mike Johnson, afirmou ao WSJ ter ficado surpreso com a guinada de Musk. Segundo ele, os dois conversaram de forma cordial na véspera dos ataques, o que tornou a virada ainda mais desconcertante. “Vinte e quatro horas depois, ele muda completamente de posição. Me pegou desprevenido.”

O sonho virou pesadelo?

A crescente tensão entre Trump e Musk pode se transformar em um pesadelo para o presidente dos Estados Unidos, afetando não só sua imagem, mas também a dinâmica política e econômica que ele construiu.

A relação entre os dois gigantes passou de um apoio mútuo a um confronto aberto, com consequências que podem prejudicar a agenda de Trump, especialmente no Congresso e no cenário eleitoral.

Primeiramente, a perda do apoio de Musk, um dos empresários mais influentes do país, pode enfraquecer a base de apoio que Trump mantém entre figuras do setor privado e do Partido Republicano.

Musk, que tem uma grande influência na indústria de tecnologia e energia, tem sido visto como um dos maiores aliados de Trump, especialmente por suas contribuições em áreas como a exploração espacial e a mobilidade elétrica. No entanto, o recente afastamento de Musk da Casa Branca, impulsionado por desacordos sobre políticas fiscais e comerciais, pode afastar aliados estratégicos e enfraquecer o respaldo de importantes financiadores.

Além disso, Musk tem o poder de influenciar o debate político, especialmente entre os republicanos. Sua crítica ao One Big Beautiful Bill, que envolve cortes de impostos e aumento de gastos, ressoou com uma parcela do partido que já questiona a eficácia e as prioridades da proposta de Trump. Com sua voz ativa no Partido Republicano, Musk pode galvanizar a oposição interna e tornar a proposta fiscal mais difícil de passar no Senado, onde até pequenas dissidências republicanas podem prejudicar o avanço da medida.

Por fim, a quebra de relações com Musk também pode ter implicações para o futuro de Trump na corrida eleitoral.

Musk, com sua capacidade de mobilizar recursos e apoio, é um aliado valioso em uma campanha presidencial. A deterioração dessa aliança pode prejudicar a imagem de Trump como líder de negócios, especialmente quando muitos de seus eleitores o veem como alguém que defende os interesses do setor privado.

Além disso, Musk ainda é uma figura de destaque entre aqueles que apoiam a inovação tecnológica e a independência econômica, e seu afastamento pode gerar um impacto negativo nas eleições, ao afastar um eleitorado jovem e progressista, mesmo que com visões mais liberais.

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