Opositores ao presidente egípcio Mohamed Mursi fazem manifestação na frente do palácio presidencial do Cairo (AFP / Gianluigi Guercia)
Da Redação
Publicado em 3 de julho de 2013 às 07h58.
Cairo - O presidente egípcio, Mohamed Mursi, ressaltou na terça-feira à noite o caráter democrático de sua eleição e afirmou que pretende continuar a governar o país, apesar dos apelos da oposição por sua saída e do ultimato do exército que expira nesta quarta-feira.
Durante a madrugada de quarta-feira, 16 pessoas foram mortas e outras 200 ficaram feridas, quando homens não identificados atacaram um grupo de partidários do presidente egípcio no Cairo, anunciou o ministério da Saúde.
O chefe de Estado, que discursou à nação pela TV, declarou: "O povo me escolheu em eleições livres e justas". Ele acrescentou que "continuará a assumir a responsabilidade" do país e que "não há alternativa a não ser a legitimidade".
Ele acrescentou que está preparado para "dar sua vida" para proteger esta legitimidade.
A "legitimidade" é "a única garantia contra o derramamento de sangue", acrescentou, respondendo implicitamente àqueles que consideram que sua saída permitiria resolver as tensões no país.
O presidente renovou seu apelo ao diálogo para solucionar a crise no país, algo que a oposição já ignorou em diversas ocasiões, considerando que essa postura não passa de uma fachada.
Mursi reafirmou que "as portas estão abertas para o diálogo nacional" para tirar o país da crise, o que já foi ignorado pela oposição algumas vezes por desconfiança.
Ao mesmo tempo, o presidente alertou para "a armadilha da violência, na qual, se cairmos, não terá fim".
Na origem das gigantescas manifestações que reivindicam a renúncia de Mursi, o movimento Tamarrod acusou o chefe de Estado de "ameaçar seu povo".
"Esse presidente ameaça seu povo" e, por esse fato, "nós consideramos que ele não é mais presidente", declarou o líder do Tamarrod (rebelião, em árabe), Mohamed Abdelaziz, logo após o discurso de Mursi.
Depois do pronunciamento de Mursi, a multidão reunida na emblemática praça Tahrir, no Cairo, gritava para o presidente: "Renuncie, renuncie! Não queremos você!".
O presidente se reuniu nesta terça-feira com o ministro da Defesa e chefe do Exército, general Abdel Fattah al-Sissi.
A oposição saudou o ultimato do Exército, considerado um apoio de peso em seu movimento para derrubar Mursi, acusado de querer instaurar um regime autoritário em benefício da Irmandade Muçulmana, movimento do qual é oriundo.
Os aliados do chefe de Estado insistem na "legitimidade" do primeiro presidente democraticamente eleito da história do país.
Dezesseis pessoas morreram e 200 ficaram feridas em um ataque contra manifestantes pró-Mursi nos arredores da Universidade do Cairo", informou a TV estatal, citando o ministério da Saúde.
"Os agressores nos atacaram com armas de fogo. Carreguei um homem baleado na cabeça", disse à AFP Mustafa Abdelnasser, partidário do presidente.
Manifestantes pró e anti-Mursi voltaram a mobilizar multidões na terça-feira, na véspera do fim do ultimato dado pelo Exército para a renúncia do presidente.
Sete pessoas já haviam falecido na terça em confrontos entre manifestantes pró e anti-Mursi no Cairo, onde grandes protestos sacodem a cidade.
Esses enfrentamentos registrados no bairro de Gizé também deixaram dezenas de feridos, incluindo alguns atingidos por tiros, indicaram as fontes.
Tumultos também eclodiram em outros bairros da periferia do Cairo e na província de Beheira.
A oposição egípcia anunciou a designação de Mohammed El Baradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), como seu representante, visando a uma transição política.
Mursi está cada vez mais isolado após a renúncia de vários ministros, incluindo o das Relações Exteriores, Mohamed Kamel Amr, e de seu próprio porta-voz, Ehab Fahmy. O porta-voz do governo, Alaa al-Hadidi, também abandonou o cargo.
O plano do Exército egípcio para o caso de renúncia do presidente Mohamed Mursi prevê um governo provisório e a suspensão da Constituição por um período de até um ano, revela nesta quarta-feira o site do jornal Al-Ahram.
Na noite de segunda-feira, o Exército deu a Mursi o prazo de 48 horas para que "satisfaça as reivindicações do povo" ou se submeta às medidas para resolver a crise.
Sob o título "Licenciamento ou demissão", em referência a Mursi, o site vinculado ao governo revela que o Exército prevê a "suspensão da Constituição" aprovada em dezembro, que segundo os críticos prepara o caminho para a 'islamização' do Egito.
Uma nova Constituição seria redigida por especialistas "levando-se em conta as necessidades dos diferentes componentes do povo", antes de um referendo para aprovar a nova carta.
O texto também seria submetido ao Al-Azhar, a máxima autoridade religiosa sunita do país.
Segundo o site, "um Conselho Presidencial de três membros, liderado pelo presidente da Suprema Corte Constitucional", ficará encarregado de "administrar os assuntos do país" durante "um período transitório de nove meses a um ano".
Este 'Conselho' é uma exigência da oposição, incluindo o movimento Tamarrod.
Além disso, um "governo provisório, sem filiação política", será formado para um "período de transição", sob a "direção de um dos chefes do Exército".
Estas autoridades de transição deverão "preparar as eleições presidenciais e legislativas na ordem que será determinada pela nova Constituição", acrescenta o Al-Ahram.
"O Exército, durante todo o período de transição, ficará encarregado de supervisionar estes procedimentos (...) a fim de garantir sua aplicação imparcial".
Os militares egípcios assumiram o Executivo em um polêmico governo interino que durou entre a queda do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, e a chegada de Mursi ao poder, em junho de 2012.